Não está sendo um ano particularmente fácil para os metaleiros das antigas. Primeiro a Sepultura, maior banda pesada da história do Brasil, se aposenta de vez dos palcos após 40 anos na estrada. Depois, a Angra, outra antiga referência nacional no cenário, anuncia um hiato por tempo indeterminado. E agora, quem poderá assumir o trono do Metal brazuca?
A resposta já se revelou e, surpreendentemente, tem um nome que é sinônimo de sepultura: a Crypta. A banda de Death Metal formada em São Paulo tem chamado muita atenção desde a sua formação oficial em 2020 pela vocalista, baixista e frontwoman Fernanda Lira e pela baterista Luana Dametto, que saíram da Nervosa, lançando dois álbuns de lá pra cá.
Como quase toda banda de Metal, a Crypta passa a maior parte do tempo fazendo turnês fora do Brasil. Dessa vez, sua passagem por aqui começou por Goiânia onde a banda se apresentou na última sexta (6) pela primeira vez desde a sua formação, com direito ainda a um excelente show de abertura das meninas (e do menino) da Eskröta.
E o fato de que o show eletrizante, enérgico e envolvente da banda foi recebido pelo mesmo nível de energia do público lotado é testamento do quanto a banda conquistou em tão pouco tempo.
É, também, prova de como os tempos mudaram: a Crypta é formada inteiramente por mulheres, lotando casas e conquistando o público exigente de uma cena que até pouco tempo atrás tinha pecha de machista. O grande número de mulheres também na plateia reforça a transformação geracional dessa audiência que se torna um dos redutos mais inclusivos da música.
Há, naturalmente, sempre os incomodados. Que vão dizer que uma banda feminina nunca vai ser a mesma coisa. Que não faz sentido tecer comparações com o Sepultura. De fato: sem os irmãos Cavalera de Belo Horizonte, a Crypta e boa pare do cenário de Heavy Metal brasileiro não estariam onde estão hoje. Mas uma coisa é abrir caminho, outra é se apegar ao passado.
É uma pena que o Sepultura esteja saindo de cena, mas o legado do Metal à brasileira está bem cuidado e preservado: o show da Crypta nesta sexta-feira é a marca disso. Cheias de personalidade, talento e carisma, as mulheres da Crypta deixaram o público com a sensação de estarem testemunhando algo histórico: acabamos de ver a nova maior banda de Metal do Brasil bem de pertinho. Saem os reis do Metal e entram na ribalta as rainhas.