Carolina Pessoni
Goiânia - "Mutirama, Mutirama é o mundo da criança feliz. A cidade encantada que a garotada sempre quis." Esses são os primeiros versos da música-tema do Parque Mutirama, encomendada para a inauguração do espaço, em 1969. Há quase 52 anos o local cumpre seu propósito e figura na memória afetiva dos goianos, moradores ou não da capital, de todas as idades.
Localizado no centro de Goiânia, entre as avenidas Independência, Araguaia e Contorno e ao lado do Parque Botafogo, o Mutirama foi inaugurado em 1969. A ideia do parque surgiu em meados dos anos 1960, pelo então prefeito Iris Rezende, após ver os filhos de seus vizinhos, um mecânico e um médico, chorando. "É que o médico estava pronto para ir ao clube com a família, mas o outro garoto não poderia ir, não tinha a autorização de seu pai", conta o ex-prefeito.
Naquela época, os clubes eram locais elitizados. Somente pessoas de alto poder aquisitivo compravam ações e se associavam, conforme lembra Iris Rezende. "Os filhos de pessoas pobres nem passavam perto. Não havia também uma opção de lazer acessível. Naquele momento o Mutirama passou a fazer parte dos meus planos. Pensei na hora no parque Botafogo, que estava sendo degradado aos poucos. Seria o local ideal, onde poderíamos preservar o bosque e construir um parque para as famílias de Goiânia."
Iris Rezende na reabertura do Mutirama, em 2019 (Foto: Jackson Rodrigues)
Na mesma época, por coincidência, Iris foi convidado para uma visita institucional à cidade de Orlando, nos Estados Unidos. Foi quando conheceu os parques temáticos do local e se encantou. Inicialmente o projeto previa somente churrasqueiras e espaços para convivência das famílias, depois veio a ideia de acrescentar alguns brinquedos. O projeto foi do arquiteto Eurico Godoi e construído pelo engenheiro Wilson Honorato.
"Assim que cheguei em Goiânia, autorizei a compra do trenzinho de ferro, de empresas dos Estados Unidos e Alemanha. Os trilhos vinham de um país e os vagões, de outro. Em alguns meses o Mutirama foi concretizado", lembra saudoso o ex-prefeito.
Muito antes da abertura, a chegada dos brinquedos importados à cidade já foi um evento e tanto. Na frente do parque, cujo nome é a junção das palavras mutirão e autorama, 12 caminhões traziam as atrações e uma criança tocava uma sineta para chamar a atenção de quem estava por ali.
(Foto: Reprodução/Goiânia Antiga)
A inauguração foi marcada para o dia 24 de outubro de 1969, aniversário de Goiânia. Entretanto, dias antes do evento formal, o prefeito abriu o Mutirama para 200 pessoas, muitos deles operários ou filhos dos trabalhadores da obra do parque, para que pudessem testar os brinquedos e viver aquela experiência.
Iris, entretanto, não conseguiu participar da inauguração oficial. No dia 20 de outubro daquele ano o prefeito teve seu mandato cassado por força do Ato Institucional nº 5 (AI-5), e foi para o Rio de Janeiro, onde passou uma temporada. O Mutirama foi inaugurado, então, no dia 15 de novembro de 1969, por Leonino de Ramos Caiado, prefeito interventor nomeado pelo regime militar. Em seu discurso, Leonino mencionou que a obra era uma realização do prefeito anterior.
O Mutirama no século XXI
Após um acidente registrado no parque, em 2017, o Mutirama ficou fechado por dois anos para avaliação e reestruturação das atrações. Na reabertura, em 29 de junho de 2019, coincidentemente o prefeito era também Iris Rezende, que anunciou que a partir daquela data o parque seria aberto ao público sem nenhum tipo de cobrança de ingresso.
Iris Rezende na reabertura do Mutirama, em 2019 (Foto: Jackson Rodrigues)
Por conta da pandemia de covid-19, o parque ficou fechado ao público por cerca de nove meses e foi reaberto em 22 de dezembro de 2020. Entretanto, novos decretos obrigaram o Mutirama a fechar novamente e a reabertura ao público ocorreu no último sábado, 15 de maio de 2021.
O presidente da Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer (Agetul), Valdery José da Silva Júnior, destaca que a reabertura ocorreu considerando todos os protocolos sanitários, com distribuição de álcool em gel para higienização das mãos por todo o espaço, exigência do uso de máscaras, aferição de temperatura dos visitantes e distanciamento de pelo menos 1 metro nas filas.
"Estamos funcionando com capacidade para 3 mil pessoas simultaneamente dentro do parque, o que representa metade do que podemos receber em condições normais. As atrações também funcionam com 50% do limite ou com apenas uma criança por banco. Permanecem fechados o Cine 4D e o Tobogã, que não possibilitam o distanciamento do público", explica.
Carrinho de bate-bate (Foto: Letícia Coqueiro)
Valdery conta que atualmente o parque conta com 22 atrações, sendo que a Casa Fantasma e o Teleférico estão temporariamente parados para reformas gerais das partes mecânicas e estruturais, já com licitação para realizar e reativar os brinquedos. "O parque foi reaberto de forma segura e confortável. Uma empresa terceirizada entrega o relatório de Responsabilidade Técnica de cada brinquedo, com as manutenções preditivas, corretivas e preventivas de cada um dos brinquedos em dia."
O Parque dos Dinossauros, uma das atrações mais recentes do parque, também passará por revitalização. O presidente da Agetul informou que já está em fase de aprovação um projeto de renovação de toda a pintura, que deteriora facilmente já que a atração fica a céu aberto.
Parque dos Dinossauros (Foto: divulgação)
Memória afetiva
Valdery diz que era um dos frequentadores do Mutirama durante a infância, quando ainda havia o parque de areia, que era uma atração gratuita. "Meus brinquedos preferidos são a montanha-russa e o carrinho de bate-bate. Inclusive, um dos bombeiros que fizeram o laudo de liberação do parque me disse que só daria a autorização se eu usasse a montanha-russa. O fiz com o maior prazer", brinca o presidente da Agetul.
Para ele, o Mutirama é a "menina dos olhos" de Goiânia, um dos maiores patrimônios e potenciais turísticos da cidade. "Ele retrata a família, amor, diversão, entretenimento e lazer. Representa muito nossa cidade, sem falar que a localização é muito favorecida. Fica em uma área linda, bem arborizada, com árvores de 200 a 300 anos de idade que passam por monitoramento constante da Amma (Agência Municipal do Meio Ambiente)."
Esse é o mesmo sentimento da administradora Aruska Antonelli. Ela conta que costumava frequentar o Mutirama quando criança e que, atualmente, faz questão de levar os filhos, primos mais novos e sobrinhos ao parque.
A administradora Aruska Antoneli com o filho e a prima no Mutirama (Foto: Arquivo Pessoal)
"Minha madrinha sempre levava os sobrinhos para passar o dia no Mutirama, era um evento de família. Vários primos juntos, brincando em praticamente todos os brinquedos durante o sábado. Se tornou uma tradição. Hoje sou eu que faço esse papel com meus filhos", conta.
(Foto: Letícia Coqueiro - A Redação)
Para ela, o trenzinho é a atração mais tradicional do parque. "Não tem como ir ao Mutirama e sair sem o passeio no trem. É muito legal, porque ele passa por todo o parque e é uma atração para todas as idades", diz saudosa.
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