Os suplementos esportivos, frequentemente vistos como aliados para ganho muscular e melhora de desempenho para a construção de um corpo “perfeito”, nem sempre são o que parecem. Estudos recentes revelam que muitos desses produtos contêm ingredientes não declarados, doses incorretas ou até substâncias proibidas, representando riscos significativos à saúde. O uso desses suplementos pode abrir caminho para o consumo de esteróides anabolizantes, substâncias com efeitos colaterais graves.
A prática regular de exercícios físicos é amplamente reconhecida como benéfica, especialmente em um contexto de crescente sedentarismo populacional. A atividade física desempenha um papel fundamental na promoção da saúde cardiovascular e no desenvolvimento de competências psicossociais, particularmente entre os jovens. No entanto, a busca por padrões estéticos rigidamente definidos tem levado indivíduos a adotarem condutas potencialmente prejudiciais, incluindo o uso indiscriminado de suplementos nutricionais e dietas altamente restritivas. A idealização da hipertrofia muscular como sinônimo de masculinidade tem sido relacionada a desfechos adversos, como transtornos depressivos, comportamento compulsivo em relação ao consumo de álcool e a utilização de substâncias para potencializar o ganho de massa muscular, frequentemente sem orientação profissional adequada.
Pesquisas recentes destacam a falta de transparência na indústria de suplementos. Em 2020, uma análise de produtos comercializados como alternativas naturais aos esteróides mostrou que a maioria não continha os ingredientes prometidos ou apresentava doses incorretas. Em 2021, nove estimulantes proibidos foram encontrados em 17 suplementos testados. Já em 2023, um estudo com 57 produtos revelou que 40% não tinham os ingredientes declarados, e 12% continham substâncias proibidas pela FDA (Food and Drug Administration).
Essas irregularidades levaram a FDA, a agência nos Estados Unidos que se equipara a Anvisa no Brasil, a emitir alertas sobre os riscos desses produtos. Um estudo publicado no JAMA Network Open, revista médica online que publica artigos de acesso aberto sobre ciências biomédicas, aponta um problema ainda maior: jovens que usam suplementos para ganho muscular têm oito vezes mais chances de experimentar esteróides anabolizantes. A pesquisa, que acompanhou mais de 4.000 homens entre 10 e 27 anos, mostrou que quase um terço dos participantes já havia usado suplementos, enquanto menos de 1% relatou o uso de esteroides. No entanto, o risco de migrar para substâncias mais perigosas é significativo.
Os esteróides anabolizantes são conhecidos por seus efeitos devastadores. Para ilustrar a gravidade do problema, um estudo conduzido na Dinamarca demonstrou que o uso dessas substâncias está associado a um risco três vezes maior de mortalidade, além de provocar danos severos ao fígado, ao sistema cardiovascular e ao eixo hormonal. Apesar das evidências científicas que apontam para os riscos dessas práticas, um número significativo de jovens persiste na busca por estratégias rápidas e potencialmente nocivas para atingir um padrão corporal muitas vezes inatingível e biologicamente insustentável.
No entanto, nem todos os suplementos apresentam riscos à saúde. O problema central reside na falta de regulamentação adequada e na disseminação de informações equivocadas, fatores que expõem tanto atletas quanto indivíduos em busca de melhora estética e bem-estar a potenciais perigos. A ausência de controle rigoroso na formulação e comercialização desses produtos, aliada ao uso indiscriminado sem acompanhamento profissional, aumenta significativamente o risco de efeitos adversos e complicações metabólicas.
A percepção de que esses produtos são seguros e altamente eficazes é, na maioria dos casos, uma construção equivocada. Na realidade, uma alimentação equilibrada, aliada a um programa de treinamento estruturado, é suficiente para promover resultados fisiologicamente saudáveis e sustentáveis a longo prazo. O desenvolvimento de um corpo saudável não depende exclusivamente da suplementação, mas sim da adoção de hábitos consistentes e embasados na ciência. Para garantir segurança e eficácia, o acompanhamento por um profissional qualificado é essencial, possibilitando uma abordagem individualizada e livre de riscos desnecessários.
*José Israel Sánchez Robles é médico intensivista e nutrólogo