Em homenagem ao aniversário de Goiânia, me propus presentear a cidade, ou melhor, o Estado com um breve histórico de mulheres significativas nas Artes Visuais de Goiás. Artistas que empreenderam seus talentos no mercado cultural, algumas nascidas aqui em Goiânia, outras em cidades do interior e ainda as registradas noutros estados e residentes na Capital.
Gosto de pontuar que Goiânia "nasceu" sob o signo de Escorpião, no dia 24 de Outubro o que, querendo ou não, acolhe uma atmosfera um tanto underground, mística, profana e obscura.
"Underground porque é algo instintivo que vai se elevar através da arte. Uma curiosidade sobre Escorpião: ele é um signo feminino, regido pelo elemento água, capaz de transmutar a dor em algo belo, ou ainda na força bruta refinada através do sagrado". (Lari Mendes)
Conhecida como a cidade do rock e seus encontros internacionais como Noise Festival e Vaca Amarela, há também um histórico assombroso em torno das caixas d'água do Espaço Cultural Martim Cererê e um mistério acerca do projeto urbanístico do bairro do Setor Jaó. Por fim, mas não menos importante, o fatídico episódio do Césio 137, que ocupou os noticiários da década de 80, e inseriu Goiás na rota 'radioativa' do mundo.
De Goiás para o mundo está a consolidada carreira da artista goiana, Ana Maria Pacheco (Goiânia/GO,1943) que manifesta este cenário misterioso, intenso e sombrio, de onde absorveu um semblante mórbido para seus personagens assombrosos. Vivendo na Inglaterra, desde 1973, é natural que seu trabalho tenha referências da cultura britânica, a sua frieza, o sarcasmo, a intolerância, a rígida disciplina e, porque não, a feitiçaria nórdica. Renomada e reconhecida internacionalmente, suas obras estão em importantes acervos de instituições públicas e coleções particulares.
Um tanto diferente de Pacheco, mas nascida no mesmo estado, a artista näif Miriam Inez da Silva (Trindade/GO, 1937 - Rio de Janeiro/RJ, 1996) conviveu com o ambiente religioso católico em torno da imagem do Divino Pai Eterno. Concluído seus estudos em Belas Artes, Inez foi colorir suas festas populares, mitologias indígenas, reminiscências da infância e da vida simples e afetiva da cidade pequena, no calor de 40º do Rio de Janeiro. As obras da artista voltaram a solo goiano, em abril deste ano, para a individual na Cerrado Galeria, "A sala dos milagres e as crônicas fabulosas da alegria".
Falecida em 1998, outra personalidade que se destacou no Estado foi a mecenas Maria Célia Câmara. Paranaense de Juazeiro, Célia Câmara viveu, morou e investiu nas artes plásticas goianas, fundando a Galeria de Arte Casa Grande que, apoiada pelas Organizações Jaime Câmara, lançou holofotes a um mercado que iniciava sua jornada cultural. Idealizou também um museu a céu aberto, em 1996, na Praça Universitária, com 26 esculturas, onde se destaca mais um nome significativo da arte de Goiás, a escultora Maria Guilhermina Fernandes.
Maria Guilhermina é mineira (Conquista/MG, 1932), mas mudou-se com a família para Goiânia em 1938. Além de exímia escultora com doutorado na Sorbone (França), a artista ocupou uma cadeira na Academia de Letras Feminina de Goiás e teve título de cidadã goianiense, em 1968. Em 2007 a artista produziu uma escultura de 13 toneladas para o lago do Parque Flamboyant.
Impossível falar no mercado de arte sem citar as marchands pioneiras: Edna Braga, da Época Galeria e Marina Potrich, ambas também mecenas das artes, que empreenderam na área, movimentando o circuito com vernissages, intercâmbio com artistas de outros cantos do mundo e incentivando jovens talentos.
Se vocês ficaram interessados em mais histórias dessas mulheres um tanto escorpianas, não percam o domingo que vem.
Tem mais sexo frágil proceis!
Feliz aniversário, minha Goiânia querida!
*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais