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Rodrigo  Hirose
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João de Deus: espanto, mas não surpresa

| 17.12.18 - 18:26
Goiânia - Pouco mais de uma semana após o programa Conversa com Bial revelar uma face pouco conhecida do médium João de Deus, as denúncias de abuso sexual cometidas na Casa Dom Inácio de Loyola ainda espantam, mas não surpreendem. Assim como não era imprevisível que a reação de boa parte de seus seguidores seria a de desacreditar o depoimento das centenas de mulheres que relataram seus dramas à polícia, ao Ministério Público e à imprensa.
 
Na primeira aparição pública do médium após o relato de algumas vítimas ao jornalista Pedro Bial, fiéis o cercaram, abraçaram, aplaudiram, choraram e atacaram profissionais da imprensa que acompanhavam o caso em Abadiânia de Goiás. Ouvi pessoas que se disseram chocadas com o comportamento dos adeptos do médium, mas basta olhar um pouco para o passado recente para perceber que tudo está dentro do roteiro básico dos escândalos religiosos. A história recente é farta de exemplos de como cultos baseados na santificação e mistificação de um líder costumam terminal mal.
 
Coincidentemente, um dos casos mais conhecidos acaba de completar 40 anos. Após denúncias de uso de drogas, exploração do trabalho, sonegação fiscal e submissão sexual, o autodenominado reverendo Jim Jones transferiu a sede do Templo dos Povos dos Estados Unidos para a Guiana. Ali, construiu uma espécie de sociedade alternativa. O desfecho trágico ocorreu em novembro de 1978, quando 914 fiéis cometeram suicídio coletivo comandados pelo líder da seita.
 
Em 1993, foi a vez de David Koresh conduzir seus seguidores à morte. Líder do Ramo Davidiano, uma seita com origens remotas no adventismo, o autodeclarado profeta dizia, entre outras excentricidades baseadas em uma leitura bastante particular da Bíblia, que tinha direito de ter 140 mulheres. Contra ele, pesaram denúncias de abuso sexual infantil e estupro. A aventura mística acabou em abril de 1993, quando um cerco policial à sede do grupo, que já durava mais de 50 dias, culminou em um incêndio que matou 76 pessoas, entre adultos, crianças e o próprio Koresh.
 
Dois anos mais tarde, as vítimas do fanatismo religioso foram passageiros do metrô de Tóquio. Membros da seita Verdade Suprema realizaram um ataque terrorista com gás sarin que matou 13 pessoas e contaminou outras 6 mil. Resultado de um sincretismo com tintas surreais, a Verdade Suprema possuía um vilarejo próprio e era liderada por Shoko Asahara, condenado à morte e executado em julho passado.
 
Esses são casos extremos, mas o que os diferencia da rotina de abusos e exploração (sexual, moral, financeira ou emocional) em algumas igrejas, templos ou terreiros é apenas a proporção. Não é incomum que sacerdotes com os mais variados títulos utilizem de seu poder sobre os súditos para satisfazer suas próprias perversões. A Justiça dirá se esse era o caso de João de Deus, mas os depoimentos que vieram à tona até agora são contundentes e verossímeis.
 
Há dois mil anos, o filho de um carpinteiro de Nazaré alertou sobre o risco desses falsos profetas. Independentemente da crença de cada um, as palavras deste homem de origem humilde mas com sabedoria sobre-humana seguem mais atuais que nunca. 

Comentários

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  • 05.01.2019 08:14 ISABELLA RODRIGUES

    Perfeito o texto!

  • 18.12.2018 08:30 Jorge Abdalla Rassi

    bem interessante o texto do Hirose, gostei! O cara sabe das coisas e se explica com clareza. Parabéns.

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