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Ciência

Exposição a agrotóxicos pode estar associada a câncer, revela pesquisa

Trabalhadores rurais são mais impactados | 26.10.23 - 12:48 Exposição a agrotóxicos pode estar associada a câncer, revela pesquisa (Foto: Reprodução/Pixabay)A Redação
 
Goiânia – O câncer é uma doença multifatorial, com causas genéticas, ambientais e relacionadas ao estilo de vida. Em Goiás, trabalhadores rurais com predisposição genética para o desenvolvimento de tumores e com histórico de uso excessivo de álcool e tabagismo enfrentam uma ameaça ainda mais grave: a exposição a agrotóxicos. É o que indicam estudos realizados no Laboratório de Mutagênese (LabMut) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
 
Uma pesquisa recente comparou o perfil de 59 trabalhadores que fizeram ou fazem tratamento contra o câncer no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, com o de 83 agricultores saudáveis. Thays Milena Alves Pedroso, que desenvolveu o estudo no doutorado em Genética e Biologia Molecular da UFG, explica que foram levantados dados socioeconômicos, informações sobre hábitos pessoais e rotina de trabalho, e coletadas amostras de sangue e mucosa oral.
 
Um primeiro dado que chama a atenção é o fato de essas pessoas em tratamento serem provenientes justamente de cidades com intensa atividade agrícola. Thays explica que Goiânia encabeça a lista porque muitos trabalhadores rurais, mesmo residentes no interior do estado, fornecem endereços provisórios da capital. Entretanto, municípios como Silvânia, Rio Verde, Jataí, Goianésia, Itapuranga e Formosa aparecem na sequência.
 
Outra característica observada nos questionários e nas visitas que as equipes do laboratório fazem nas propriedades rurais é a pouca ou inexistente utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). "Quando nós pensamos em vias de exposição, esse é um fator de risco para a saúde desses trabalhadores", alerta a pesquisadora. Entre os produtos citados pelos agricultores estão os agrotóxicos glifosato e atrazina, o herbicida 2,4-D e o fungicida priori xtra. Segundo os pesquisadores do LabMut, substâncias proibidas e clandestinas também são comumente observadas nas propriedades.
 
Thays explica que fatores culturais, educacionais e econômicos influenciam a pouca adesão aos EPIs. Segundo ela, estudos em outros países de clima tropical mostram que as altas temperaturas desestimulam o uso de macacão, avental, luvas e óculos de proteção. Além disso, há pouca informação e treinamento. Já em pequenas propriedades rurais, o trabalhador não tem sequer recursos financeiros para adquirir os equipamentos.
 
Câncer e exposição
Outro indicativo da relação entre a exposição aos agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer está nos tipos de tumores identificados. A coordenadora do LabMut, Daniela de Melo e Silva, que orientou a pesquisa de Thays, conta que cânceres raros na população em geral, como os linfomas Hodgkin e não Hodgkin (que atingem as células do sistema linfático) e o mieloma múltiplo (que se origina na medula óssea), são frequentes entre os trabalhadores.
 
Já a incidência de tumores de cabeça e pescoço (boca, língua, laringe e faringe), além da exposição, estão relacionados aos hábitos de vida. Laura de Sousa Lopes e Miller Caldas Barradas, que dão continuidade ao estudo nos mestrados em Genética e Biologia Molecular e em Ciências Ambientais, respectivamente, relatam que a falta do EPI e o uso abusivo de bebida alcoólica e cigarro são situações frequentes nas propriedades rurais.
 
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