Talita Prudente
Goiânia - Conhecer São José da Boa Morte ao visitar o Rio de Janeiro poderá vir a ser objeto de desejo de turistas, como já ocorre em outras ruínas preservadas. Preservar as ruínas da Boa Morte, lugar histórico no interior do estado do Rio de Janeiro, é um sonho antigo da população de Cachoeiras de Macacu, município distante 96 quilômetros da capital carioca. Isso começa a se tornar realidade com o aguardado canteiro de obras instalado recentemente no conjunto arqueológico do antigo templo católico, em janeiro. Ele é a primeira ação no sítio com rico legado histórico e cultural, que também tem potencial para atrair turistas pelas cachoeiras, trilhas e matas circundantes.
Segundo Robson de Almeida, diretor institucional da Elysium, atualmente a preservação do patrimônio e todo o campo da restauração está atrelado à vida das pessoas: “O mais importante ao restaurar, recuperar um patrimônio, um centro histórico é ter um olhar de como ele vai beneficiar, ou seja, ser usufruído pelas pessoas”. Ele reforça: “O patrimônio cultural não é nada se ele não for preservado para as pessoas.”
Por isso, na opinião do diretor, o projeto de conservação das ruínas de São José da Boa Morte tem como relevância primordial, além da conservação desse patrimônio material e do projeto de conservação das ruínas, o benefício real que vai proporcionar para as populações vizinhas desse bem, como a implantação do centro cultural e de artesanato. A população terá uma sensação de pertencimento e, assim, esse patrimônio não é algo somente que pode ser visto e olhado, mas também trazer benefícios concretos para as populações que vivem nas cercanias.
Almeida explica que esse projeto cultural tem vários atores relevantes. Além da Elysium, entidade proponente do projeto que há mais de 35 anos atua na preservação do patrimônio cultural, ele destaca que foi o município de Cachoeiras de Macacu que conseguiu a concessão desse espaço junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
“O órgão, proprietário dessa terra que concedeu para que o município recebesse esse benefício e fizesse a gestão desse novo espaço requalificado”, lembra, ao acrescentar a parceria e participação imprescindível da Nova Transportadora do Sudeste como patrocinadora desse grande empreendimento. “A NTS é a responsável, dentro da sua sensibilidade, pelo impacto que o projeto com parceiros terá nas comunidades locais”, sintetiza.
Bem tombado em 1989 - Além da preservação cultural do monumento de patrimônio histórico, tombado em 1989, a ação do projeto da Elysium Sociedade Cultural em parceria com a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e a Fundação Macatur promete a construção de da infraestrutura necessária para projetos como o centro cultural e turístico.
Wolney Unes, diretor da Elysium, adianta que a parceria não seria possível sem o envolvimento da comunidade local. “Desde as primeiras reuniões e audiência pública delimitamos contrapartidas sociais do projeto, como a criação de um espaço para exposição e venda de obras de artistas e artesãos locais, além de cursos e oficinas de formação diversas”, explica.
Ao visitar a obra e participar da inauguração do esperado canteiro de obras, no início deste ano, Unes também integrou reuniões com a comunidade e com a Fundação Macatur, para pesquisar necessidades locais e alinhar ações. Da Elysium Sociedade Cultural, também estiveram presentes a diretora administrativa Giulyane Nogueira, o engenheiro Pedro Carim e a produtora Anabella Borghi.
Sonho antigo - parque cultural e ecológico
Carolina Gonzales, moradora de Cachoeiras de Macacu, é a arquiteta residente do projeto e “olhos” da Elysium no andamento das obras. Ela conta que a consolidação do projeto das Ruínas, temática de seu trabalho durante a graduação em arquitetura, sempre foi um grande sonho demandado pela população. ¨A gente acompanha de perto a degradação da construção que evolui com o avanço do tempo, sem os devidos cuidados de preservação do bem cultural¨, lembra a profissional.
Ela conta que desde os tempos da faculdade, ela estudava prédios antigos e, junto de um grupo de trabalho, selecionou as ruínas de São José da Boa Morte como objeto de estudo. ¨Vislumbramos a construção de anexos de suporte, algo que, agora, tenho oportunidade de acompanhar e registrar cada momento da obra¨, ressalta.
“Preservar a nossa história é fundamental para aprofundar nossas raízes e nos fortalecermos como sociedade. Isso vai trazer para a população um sentimento de reconhecimento, de valorização e de honra de ser cachoeirense. Além disso, ter um patrimônio tão importante preservado, com a devida estrutura para receber turistas, promete um aumento na quantidade de visitantes. Todos saem ganhando!¨ - Carol Gonzales. (Frase de destaque na página)
A arquiteta ressalta o avanço das medidas de preservação ambiental, que considera o entorno das ruínas e a sustentabilidade da obra. Ela enfatiza iniciativas como a de delimitação do espaço do parque que será criado ao redor do conjunto preservado, o que será fundamental para evitar avanços de construções e desmatamentos indevidos. Com isso, a mata circundante será preservada e a vegetação, que fortalece a ideia de parque, será uma atração complementar aos visitantes, que poderão fazer trilhas e conhecer melhor a flora e a fauna do nosso município.
Canteiro de Obras e redução de impactos no sítio arqueológico
Para Jessica Marques, arquiteta da Elysium, o desafio de instalar um canteiro de obras num sítio arqueológico exige planejamento. Segundo ela, o processo tem sido conduzido em total conformidade com as diretrizes dos órgãos de preservação do patrimônio histórico brasileiro. “Realizamos uma análise detalhada do sítio arqueológico para identificar áreas sensíveis e evitar interferências tanto nas estruturas preexistentes como nas áreas destinadas às intervenções previstas”, conta.
Ela acrescenta que medidas sustentáveis foram implementadas para reduzir impactos ambientais como a reutilização de materiais e a redução na geração de resíduos e no manejo correto dos descartes. A arquiteta adianta que o próximo passo será o início da estabilização das ruínas, com a consolidação estrutural e a limpeza do terreno. Paralelamente terão continuidade os trabalhos de documentação e de pesquisa histórica, que contribuem no processo de restauração.
Dutos de gás natural e contrapartida social - comunidades, patrimônio histórico e economia local
Cesar Vinciprova, ex-coordenador de Meio Ambiente e Sustentabilidade da NTS, conta que a empresa decidiu apoiar o projeto em função do seu impacto permanente para a comunidade do entorno do Gasoduto Itaboraí/Guapimirim, que a NTS implantou em 2022, mesmo ano que a Elysium idealizou o projeto de consolidação das ruínas. Ele reforça que além de preservar um patrimônio histórico, a iniciativa fortalece três vocações presentes na economia local, mas que ainda são pouco desenvolvidas.
Uma delas é o turismo ecológico, que atrai visitantes, mas, ainda, para um local que carece de infraestrutura e de segurança adequadas para potencializar essa atividade. Quanto ao artesanato da comunidade de São José da Boa Morte, que tem tradição no trabalho com capim e palha, ele enumera dificuldades para transformar essa habilidade em fonte sustentável de renda. A agricultura familiar, embora também seja difundida na região, é uma atividade agrícola que precisa de maior incentivo e de apoio, por meio da criação de espaço e da promoção de cursos de capacitação e de aprimoramento.
Patrícia D’Ávila, coordenadora de responsabilidade social e relacionamento comunitário, salienta que ao apoiar essa iniciativa, a NTS contribui para o desenvolvimento socioeconômico local, fortalecendo práticas sustentáveis e incentivando a geração de renda na região. ¨Esperamos que esse projeto movimente a economia local não somente durante as obras, com geração de emprego e renda, mas de modo permanente com o turismo beneficiando diretamente a comunidade de São José da Boa Morte¨, reflete.
Com essa parceria, a NTS reforça patrimônio histórico e a economia local das áreas de abrangências dos seus ativos como focos de sua estratégia social em todo o País. A proposta é acompanhar todo o projeto e registrar benefícios para a população local, numa iniciativa patrocinada via Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal. Atualmente a NTS tem um portfólio de mais de 60 projetos sociais em execução distribuídos em 94 municípios por onde passam seus dutos de gás natural, nos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Em 2024, a NTS ocupou a 16ª posição entre as 100 empresas que mais investem no Brasil, via leis de incentivo.