A Redação
Goiânia - O impacto total do tarifaço dos Estados Unidos na economia goiana pode ultrapassar R$ 1,4 bilhão, com efeitos severos sobre a indústria de transformação. A estimativa foi divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e do Instituto Mauro Borges (IMB) em uma nota técnica com diagnóstico sobre a medida. As tarifas, que entrarão em vigor no dia 7 de agosto, afetam diretamente as exportações goianas, podendo gerar perda de competitividade, suspensão de embarques e retração no PIB estadual.
A carne bovina, principal item da pauta goiana exportada aos EUA, já apresenta recuo de 67% nas vendas desde abril. A nota alerta para efeitos indiretos em toda a cadeia produtiva, atingindo fornecedores agrícolas, transporte e comércio. A Fieg recomenda ações diplomáticas, redirecionamento de mercados e apoio emergencial ao setor.
Estudos divulgados pelo IMB apontam que a nova tarifa pode reduzir as exportações goianas em R$ 553,8 milhões em 2025, com mais de R$ 300 milhões apenas na categoria de carnes.
Contexto econômico e comércio Goiás - EUA
Em 2024, Goiás exportou US$ 408,5 milhões para os Estados Unidos, que foram o terceiro destino das vendas externas do estado. Os EUA representaram 3,3 % das exportações goianas. A exportação para o mercado norte-americano é fortemente industrial: 94,5 % dos produtos vendidos aos EUA provinham da indústria de transformação.
Os principais produtos enviados aos EUA foram carne bovina desossada congelada (US$ 150,4 mi, 36,8 % da pauta), ferroníquel (US$ 87,3 mi, 21,4 % e outros açúcares (US$ 73,8 mi, 18,1 %. Todos serão taxados em 50 %.
O estado importou US$ 648,4 milhões dos EUA em 2024, tornando-os o terceiro fornecedor. As importações de origem americana concentraram-se em máquinas e equipamentos (38,3%), fármacos (24,4%) e químicos (12,5%).
Efeitos indiretos e cadeias produtivas
Efeito indireto total – A matriz insumo-produto do IMB estima impactos indiretos de R$ 802,75 milhões. Os setores mais afetados incluem pecuária de apoio (R$ 116,8 mi), agricultura e pós-colheita (R$ 103,6 mi), comércio atacadista e varejista (R$ 76,1 mi), outros produtos alimentares (R$ 55,2 mi), transporte terrestre (R$ 54,1 mi) e refino de petróleo/química (cerca de R$ 48,9 mi).
• Perda de mercado e pressão sobre preços internos – Com a suspensão ou redirecionamento das vendas ao exterior, aumenta a oferta interna de carne e açúcar, derrubando os preços pagos a pecuaristas e usineiros. A retração gera
desarranjo financeiro nas agroindústrias e ameaça empregos.
Efeito total no PIB
• Impacto estimado – Somando efeitos diretos e indiretos, o IMB estima que o tarifaço pode reduzir o PIB de Goiás em R$ 1,36 bilhão, aproximadamente 0,36 % do PIB estadual.
• Composição setorial do impacto – A indústria concentra 860,9 mi do impacto total (0,23 % do PIB), seguida de agropecuária (250,1 mi; 0,07 % do PIB) e serviços (245,6 mi; 0,07 % do PIB).
• Cenário alternativo – Considerando os produtos isentos anunciados pelo governo americano, o impacto total pode cair para R$ 1,16 bilhão, equivalendo a 0,31 % do PIB. Contudo, mesmo com a isenção de minérios, os segmentos de carnes e açúcar continuam sujeitos à tarifa e respondem por mais de 90% do impacto.
Estudos da FIEG, da CNI e do Instituto Mauro Borges convergem para um impacto total próximo de R$ 1,4 bilhão, com R$ 554 milhões de efeitos diretos e R$ 802 milhões de efeitos indiretos, equivalente a 0,36 % do PIB goiano. A indústria de carnes responde por mais da metade do impacto (R$ 340,1 mi); a fabricação e refino de açúcar soma R$ 149,1 mi.
Apesar da isenção de minérios e de centenas de outros produtos, a manutenção da tarifa sobre carnes e açúcar impede que Goiás se beneficie da flexibilização. Por isso, é essencial articular respostas diplomáticas, diversificar mercados e criar programas de apoio
para proteger empresas e empregos.
Exportação (Foto: EBC)
