Ludymila Siqueira
Goiânia - O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e o prefeito de Recife, João Campos (PSB), debateram o contexto político por trás do aumento das tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros e das sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O diálogo ocorreu nesta sexta-feira (1º/7), em encontro promovido pelo jornal O Globo.
Na ocasião, Caiado enfatizou que é "100% contra o tarifaço" e que tem buscado medidas para atender as empresas que serão mais penalizadas, visando cuidar da sobrevivência dos negócios e a manutenção dos empregos dos goianos. O chefe do Executivo goiano argumentou que tem articulado com o encarregado de negócios da Embaixada Americana, Gabriel Escobar, para tratar do assunto.
“Já foram três audiências, sendo a última nesta quinta (31). Estamos otimistas, pois sempre existiu uma parceria do Governo de Goiás com os Estados Unidos. É fundamental que tenhamos esse nível de parceria, pois é isso que o setor também espera por parte do governo americano”, afirmou. Ele também manifestou sua insatisfação com o fato de setores importantes para a economia goiana, como o de carnes e açúcar, terem sido mantidos na tarifação.
Ao ser questionado sobre o fato de a taxação estar atrelada às decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, Caiado disse que "houve perda do limite de ambos os lados". Conforme o governador, não era necessário impor uma tornozeleira eletrônica ao ex-presidente Jair Bolsonaro, e também não precisava de uma sanção americana por Lei Magnitsky a Moraes. "Isso tudo está em um cenário gravíssimo. Não devemos discutir o sintoma, mas a causa do problema. Não se faz política com discurso, mas com exemplo e é o que não temos no Brasil hoje", destacou.
Caiado, que é um dos principais opositores do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda afirmou que a crise "interessa ao presidente". "Ele [Lula] quer mantê-la por questões de popularidade. Não podemos deixar de ver que essa taxação promove sérias consequências econômicas ao Brasil, essa deveria ser a preocupação e não ficar em uma queda de braço", arrematou.
Já o prefeito do Recife, João Campos, avaliou que as sanções de Trump ao Brasil tem um componente "explicitamente político". Segundo ele, não é possível negociar ou tratar sobre a Corte de outro país, mas que deve-se tratar o ambiente econômico e buscar uma solução eficaz. "
É momento de dialogar, mas não baixar a guarda. Precisamos entender o pano de fundo disso, porque tem uma motivação econômica por trás. Tem uma cortina de fumaça política sendo criada e o País tem que ter capacidade de fazer com coerência, com tranquilidade e altivez, essa negociação com os Estados Unidos", afirmou.
Campos ainda afirmou que "não tem como misturar os dois assuntos, por isso é importante haver clareza. "Não é bom para o País ter esse conflito. É preciso ter uma clareza que hoje os EUA não querem dialogar. É claro que isso traz uma repercussão de leitura política no primeiro momento, mas acredito que o presidente Lula não deve querer prolongar o assunto. Caiado é uma das pessoas que querem resolver, eu quero resolver e o País também quer. Temos que defender o interesse do Brasil. Temos que ter noção de quem está nessa disputa também e os Estados Unidos é uma grande potencia", pontuou.