Carla Lacerda
Goiânia - “O Brasil perdeu o Pelé da música”. Foi assim que o pianista carioca Luiz Medalha, 78 anos, residente em Goiânia, traduziu o sentimento que atinge o setor cultural brasileiro, nesta segunda-feira (1º/11), com a morte de Nelson Freire, aos 77 anos. Aliás, nesse caso, tristeza não respeita fronteira, já que o artista nascido em Boa Esperança (MG), no dia 18 de outubro de 1944, era admirado no mundo todo.
“Ele era mineirão de caráter, simples, mesmo tendo sido recebido pelas maiores autoridades do planeta, como a rainha da Inglaterra”, afirmou Medalha. “Orgulho para o nosso povo, membro da Academia Brasileira de Música (ABM), ele teve inúmeras condecorações ao longo da carreira. Era cidadão parisiense, adorado na França”, continuou o amigo da época “das calças curtas”, ou da infância mesmo, como diria a geração atual.
Avesso a entrevistas - Medalha relembra uma cena icônica presente no filme de João Moreira Salles, em que Freire pula na piscina após uma pergunta de um jornalista do Le Monde -, o pianista vivia dias melancólicos ultimamente. “Provavelmente em função dos dois acidentes recentes que teve, no braço direito e, depois, na mão esquerda”.
Amigo de infância de Nelson Freire, pianista Luiz Medalha
mora em Goiânia (Foto: Reprodução Redes Sociais)
Medalha, que hospedou Nelson Freire na Alemanha enquanto por lá cursava seu doutorado, esteve pessoalmente com o amigo há cerca de dois anos, quando tomaram um café no Castro's Park Hotel e conversaram sobre amenidades.
Laços com Goiás
A primeira apresentação do pianista Nelson Freire em Goiás foi na década de 1970, bem lembra a professora de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Gyovana Carneiro.
“Eu tinha 10 anos e estava com minha irmã, Ivana, e uma amiga [Celina Szervinsk, que décadas depois se tornaria pianista em Belo Horizonte], e ouvimos o Nelson tocar na Faculdade de Educação”, conta Gyovana. “Foi indescritível, marcou a minha vida”, diz sobre o momento vivido no Setor Universitário.
Nelson Freire com as pianistas goianas Ana Flávia Frazão
e Gyovana Carneiro, em 2014 (Foto: Divulgação)
Em 2014, a pianista goiana, junto com a também professora da UFG Ana Flávia Frazão, conseguiu trazer o músico mundialmente famoso para uma apresentação que lotou o Teatro Goiânia. Nelson Freire também já tocou com a Orquestra Filarmônica de Goiás em outras oportunidades.
“Nelson é uma unanimidade, 1 em 1 milhão em relação a talento, dom, não tinha quem não gostasse dele. Hoje é realmente um dia triste”, ressalta a professora da UFG.