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Literatura

"Por sorte sobrevivi à educação formal", diz André de Leones

Escritor goiano vai participar da Flip | 19.06.12 - 13:02 "Por sorte sobrevivi à educação formal", diz André de Leones André de Leones fala sobre participação na Flip, inspiração e temas preferidos (Foto: Renato Parada)
Yuri Lopes

A cidade pequena e sua quietude, bem como a metrópole e toda a vastidão de coisas acontecendo são elementos constantes na obra do autor goiano André de Leones, que participa no próximo mês de uma mesa-redonda na programação da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Goianiense, criado em Silvânia (GO), é em São Paulo que André vive desde 2010.
 
Além do tempo dedicado a seus livros, André reserva tempo e inspiração para escrever sobre cinema para a revista Time Out São Paulo. Seus textos também podem ser conferidos em resenhas literárias para jornais como O Globo e O Estado de S. Paulo.
 
Nesta entrevista concedida de São Paulo, Leones fala sobre a construção de personagens, o papel da vida no interior e na cidade grande na condução de sua escrita, quais autores brasileiros ele lê e recomenda, além de detalhes do "Terra de casas vazias", o terceiro livro de André, previsto para ser lançado em 2013, e que está na cabeça dele desde 2009. Confira a entrevista completa.
 
"Eu, por sorte, sobrevivi à educação formal"
 
A Redação: Como vai ser a sua participação na Flip deste ano?
André de Leones: Vou participar de uma mesa-redonda no dia 5 de julho, às 10 horas, com Altair Martins e Carlos de Brito e Mello, mediada por João Cezar de Castro Rocha . O tema é 'Escritas da Finitude'. (Você pode saber mais sobre a Flip entrando no site do evento)

AR: Você acha que são insuficientes os programas de incentivo à leitura?
André de Leones: Sim, acho. Livros deviam vir em cestas básicas. E, nas escolas, os professores deviam se esforçar para suscitar o gosto pela leitura em primeiro lugar, e só depois partir para a leitura de obras clássicas. Eu me lembro de, na sexta série, ser obrigado a ler José de Alencar. Nada contra, é um dos grandes escritores de nossa história, mas não creio que seja conveniente ler os livros dele aos 12 anos de idade. Graças a esse tipo de coisa, muitos não tomam gosto pela leitura. Eu, por sorte, sobrevivi à educação formal.
 
AR: Como é pra você o processo de idealização de um livro? No caso de Dentes Negros e Hoje está um dia morto, como foi esse estalo criativo?
André de Leones: É sempre diferente. No caso do Hoje Está um Dia Morto, tinha algumas coisas em mente: uma narrativa sobre o suicídio, sobre viver no interior sem muitas perspectivas e também que brincasse um pouco com a metalinguagem. Em se tratando de Dentes Negros, a minha intenção era criar um romance de gênero (ou subgênero), no caso, uma história apocalíptica. O fim do mundo sempre me pareceu aprazível.
 
AR: Em Hoje está um dia morto os personagens principais lidam com temas como música, literatura e crença em Deus. Como é a sua relação com esses temas?
André de Leones: Começando pelo menos importante, isto é, Deus, sou agnóstico. Mas, como fui criado no interior de Goiás, estudei em colégio católico e também fui obrigado a frequentar um centro espírita kardecista, tentei por muito tempo ser ateu. Infelizmente, fracassei. A música me acompanha sempre, escrevo e leio ouvindo desde Wagner até Radiohead, passando por Count Basie e Philip Glass. Às vezes, quando estou criando um personagem, gosto de imaginar que tipo de música ele ouve. Ajuda na caracterização, acho. E, literatura, bem, é o que eu faço para viver, seja lendo, seja escrevendo.
 
"Eu gosto de criar imagens. Tento, pelo menos"
 
AR: A revista Bravo considera que eu seu texto é em ritmo cinematográfico, mas repleto de poesia. Você concorda com essa definição? 
André de Leones: Não muito. Quando se fala de "ritmo cinematográfico", acho que eles se referem ao ritmo acelerado de alguns textos meus. Ocorre que nem todo "ritmo cinematográfico" é acelerado, não é mesmo? Os filmes de Tarkovski, Sokúrov e Antonioni, por exemplo, são lentos. Isso os torna "menos cinematográficos"? Claro que não. Quanto à poesia, sim. Eu gosto de criar imagens. Tento, pelo menos.
 
AR: O seu estilo de escrita é intencional, você delimitou que fosse assim ou é o seu jeito natural de escrever?
André de Leones: Ela é intencional na medida em que defino que tom terá um determinado texto, que tipo de palavras usarei nele, se ele será mais direto ou não, se será desbragado ou contido, contemplativo ou acelerado. Este é, em grande medida, o trabalho do escritor. Histórias diferentes exigem abordagens diferentes. Dentro das minhas limitações, procuro atender a essas exigências.
 
AR: Você é considerado um dos bons jovens talentos da literatura brasileira. Quais autores novos e brasileiros você lê atualmente e recomenda?
André de Leones: Citando apenas autores com menos de 40 anos: Flávio Izhaki, Carola Saavedra, Bruna Beber, Angélica Freitas, Daniel Galera, Michel Laub, Antonio Xerxenesky, Luisa Geisler, Maurício de Almeida, Ana Paula Maia, Simone Campos. Tem muita gente boa escrevendo.
 
A Redação: Sua trama quase sempre se passa em cenários cosmopolitas. Você é de Goiânia e vive em São Paulo. Como cada uma dessas cidades influem na criação ou rumos de seus personagens?
André de Leones: Sim. Cada cidade oferece vivências, ideias e histórias diferentes.
 
A Redação: Em Dentes Negros você quis complementar o texto com fotos da Lívia Ramirez. Qual a função ou necessidade dessas fotografias no livro?
André de Leones: As imagens realçam e espelham a aridez da narrativa. Simples assim.
 
"Se houve 'evolução', foi no sentido mesmo de destruir o próximo. E, daqui a dez anos, seremos ainda mais eficientes, pode apostar"
 
A Redação: Ainda em Dentes Negros, os personagens se deparam com situações de solidão e angústia. Você acha que esses sentimentos estão mais presentes nos dias de hoje?
André de Leones: Não. Estamos onde sempre estivemos. Ninguém apagou a luz simplesmente porque ela nunca foi acesa. A ideia de que o ser humano está "evoluindo" rumo a seja lá o que for é uma bobagem sem tamanho, sistematicamente desconstruída pela história. Aliás, se houve "evolução", foi no sentido mesmo de destruir o próximo: nunca trucidamos o outro com tamanha eficiência como agora. E, daqui a dez anos, seremos ainda mais eficientes, pode apostar.
 
Você já tem ideia de como será o próximo livro?
André de Leones: Trabalho em um novo romance desde maio de 2009. É uma narrativa mais longa do que as anteriores, passada em vários lugares diferentes (Jerusalém, Brasília, São Paulo e Silvânia, cidade do interior de Goiás onde cresci). Pretendo terminá-la até o final deste ano. Será lançada em 2013 pela Rocco. O título é Terra de casas vazias.
 
A Redação: Qual será a temática?
André de Leones: Tenho dificuldade para pensar nesses termos. Quero dizer, nunca paro e penso: "Agora, escreverei um livro sobre a violência". No novo livro, por exemplo, há um casal que perdeu um filho. Seria, assim, um livro sobre a perda, o luto? Não sei. Há isso no livro, perda, luto, mas não o vejo como um romance sobre isso. Como eu disse, não penso nesses termos. O que me interessa é, criados os personagens e as situações, desenvolvê-los, seguir viagem com eles por um tempo.

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