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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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‘O Simpatizante’ aborda a contradição entre idealismo e materialismo

| 29.08.24 - 11:23 ‘O Simpatizante’ aborda a contradição entre idealismo e materialismo Hoa Xuande e Robert Downey Jr em 'O Simpatizante' (Foto: divulgação)Uma das minisséries mais interessantes entre as várias minisséries interessantes lançadas recentemente pela HBO, O Simpatizante se destaca e precisa ser mais assistida do que é. Com apenas sete episódios, a trama tem como plano de fundo o fim da Guerra do Vietnã e a Guerra Fria. Contada por um narrador não confiável e fora de ordem, a história acompanha o Capitão (Hoa Xuande), um agente duplo vietcong que repassava informações sobre os americanos para o lado revolucionário na guerra.
 
No final do conflito, o partido pede para que ele não fique no país, mas que acompanhe o general a quem ele servia em sua fuga para os EUA, informando de volta as possíveis atividades antirrevolucionárias que poderiam ser desenvolvidas em solo americano. Este drama com um pezinho na comédia é baseado no romance de Viet Thanh Nguyen e é composto inteiramente por tons de cinza.
 
A excelente minissérie foi produzida e desenvolvida pelo cineasta sul-coreano Park Chan-wook, conhecido pelos excelentes filmes Oldboy, Lady Vingança, Sede de Sangue e A Criada. Um bônus extra foi o envolvimento do cineasta brasileiro Fernando Meirelles, que também dirigiu um dos episódios.
 
Não há dúvida, em sua apresentação, do massacre promovido pelos EUA em solo estrangeiro; não há dúvida da indiferença desse massacre; não há dúvida dos efeitos do imperialismo de séculos no país asiático, nem do racismo abissal sofrido pelos imigrantes nos EUA. Da mesma forma, não há dúvida na brutalidade do regime revolucionário logo após a guerra; da fome e da destruição e da opressão dos revolucionários recém-chegados ao poder, muito diferentes do Vietnã socialista "paz e amor" conhecido hoje como um paraíso turístico.
 
E no meio está o marxista-leninista e espião Capitão, dividido entre o idealismo valoroso da sua ideologia e a dureza incontornável da materialidade dos fatos. Mais protagonista que ele na trama é, porém, o povo do Vietnã, especialmente os expatriados desiludidos que fugiram para os EUA. Há um niilismo perene na percepção de que todo o povo do país foi usado de forma irresponsável por ambos os lados da Guerra Fria.
 
A desilusão com o sonho americano, porém, ganha contornos mais fortes. Em uma sacada de mestre, as principais figuras ocidentais que tentam manipular o Capitão são todas vividas brilhantemente por Robert Downey Jr. Há muitas camadas nisso, mas a mais evidente é de que para aquele povo explorado, os ocidentais eram todos iguais: oportunistas.


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