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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Koji Yakusho como Hirayama (Foto: divulgação)Chega ao Mubi nesta sexta-feira (12/4) Dias Perfeitos, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional e grande injustiçado da premiação: deveria ter sido indicado (e vencido) outras tantas categorias. Aos 78 anos de idade, o cineasta alemão Wim Wenders entregou mais um filme que vai direto para o seu panteão de obras-primas juntamente com Paris, Texas (1984), Asas do Desejo (1987) e Alice nas Cidades (1974). O filme também ainda está em exibição no Cine Cultura, em Goiânia.
De uma sensibilidade ímpar, o longa acompanha a rotina de Hirayama, vivido com perfeição pelo gigante Koji Yakusho, um humilde zelador de banheiros públicos em Shibuya, região de Tóquio. Todos os dias, Hirayama sai do seu minúsculo apartamento, dirige ouvindo uma das suas fitas de jazz, limpa os mesmos banheiros, encontra as mesmas pessoas, almoça ao lado da mesma árvore, toma banho na mesma turma e janta no mesmo bar. Até em seu tempo livre ele não escapa da rotina: ele volta para casa, cuida das suas plantas, lê um livro e vai dormir. Aos finais de semana, troca o livro por outro no mesmo sebo e vai à lavanderia lavar roupas. Quando dorme, ele sonha em preto e branco.
Sua rotina é pesada, o trabalho é incessante, o tempo, escasso e, ainda assim, Hirayama sorri. Há pouquíssimo diálogo no filme e, até quando sua rotina quase monástica é interrompida por um ou outro imprevisto ou reviravolta, como a demissão de um colega ou a chegada inesperada da sua sobrinha, o filme recusa o chamado da aventura inteiramente: as situações se resolvem ordinariamente. O colega de trabalho é substituído. A sobrinha volta pra casa. A vida de Hirayama segue imutável.
Chamar Hirayama de contente, porém, é um equívoco. Ele pode falar pouco, mas seu rosto fala muito. 'Dias Perfeitos' é um filme muito simples em sua premissa e execução, mas com a profundidade de um oceano em seus temas e conceitos. Não é à toa que a crítica, especializada ou não, não possui um consenso sobre ele além do fato de que é belo e emocionante, embora seja difícil especificar o motivo.
Alguns chegaram até mesmo a criticar o filme por considerá-lo “antipopular”: que o filme glamouriza o contentamento de um trabalhador precarizado frente aos horrores existenciais do capitalismo e da rotina sisifiana do trabalho. Albert Camus certamente teria algumas coisas a dizer sobre isso. Esta, porém, me parece uma leitura muito simplória do filme e muito rasa.
Há algo muito mais profundo aqui e desafiador sobre ousar esboçar qualquer felicidade apesar disso. Apesar da solidão. Apesar da pobreza. Apesar do sofrimento. Além disso, há a poesia de como cada vida traz a sua poética.