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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Matthew Broderick como Richard Sackler (Imagem: divulgação)
Estreou na Netflix a minissérie Império da Dor, baseado livremente no livro-reportagem de Barry Meier e que explora a crise dos opioides nos EUA, especialmente da droga mais avassaladora e que iniciou efetivamente a epidemia: a OxyContin, um analgésico similar à heroína. A substância, que causa alta dependência, é responsável por mais de 500 mil mortes por overdose desde o seu lançamento.
Apesar do tema sério, a minissérie deixa a desejar por ser, ela mesma, desinteressante, botando pra dormir com facilidade quem decidir assisti-la para saber mais sobre a crise. Com roteiro fraco e uma estrutura que se aproxima da receita de bolo, fica claro que o tema talvez fosse melhor abordado em um documentário aprofundado.
Dois nomes se destacam no elenco: Matthew Broderick como o patriarca da família Sackler, Richard, e Uzo Aduba, como a procuradora Edie Flowers. É justo dizer que os dois carregam a minissérie nas costas e são responsáveis por conferir algum calor e humanidade para o roteiro. Além disso, o diretor Peter Berg tenta trazer algumas sacadinhas visuais e de edição aos episódios, às vezes conseguindo emplacar algo interessante, mas falhando na maior parte das tentativas.
O resultado é um assunto muito interessante com uma roupagem tão atrativa quanto uma bula de remédio. Com exceção dos mencionados acima, os demais personagens são fracos e rasos e servem apenas de bonecos de pano para que o dramalhão possa se desenvolver. É um pecado que um tema tão importante sofra uma produção tão chata e desinteressante.
Por fim, outro fator extremamente frustrante da receita de bolo que se passa por roteiro é o clássico desfecho que conclui que toda a crise, minuciosamente arquitetada, executada e que até hoje segue firme e forte e sem punir ninguém, gerando bilhões em lucro, é fruto dos pecados e da ganância de indivíduos e não de uma estrutura trilionária, gigantesca e que vai continuar implacável mesmo se todas as “maçãs ruins” forem removidas.
Ou seja, a apresentação e conclusão da minissérie ainda por cima é moralizante ao invés de apontar todo o setor e todo o sistema por trás da crise dos opioides como uma enorme estrutura que só vai parar quando for desmantelada.