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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
(Foto: divulgação)Talvez o artigo científico mais marcante da minha graduação e da pós, revisitado mais de uma vez por diferentes professores, foi “Um jogo absorvente”, de Clifford Geertz, capítulo 9 do livro A Interpretação das Culturas. Estudando a briga de galo em Bali, o antropólogo analisa como aquela atividade transcendeu a linha de um mero esporte, impactando e se tornando entremeado à vida cotidiana de toda a população. Existem diversos argumentos de que o futebol é um jogo absorvente no Brasil.
Mesmo sem fazer qualquer estudo formal, é possível dizer que o futebol certamente é um jogo absorvente na cidadezinha de Wrexham, no País de Gales, com seus 65 mil habitantes, após ter assistido à primeira temporada da série documental Welcome to Wrexham, na Strar+.
O seriado acompanha a jornada do Wrexham AFC, o terceiro time de futebol mais antigo do mundo, fundado em 1864, e seu estádio, atualmente o estádio internacional profissional mais antigo ainda em funcionamento, fundado em 1807, em sua ingrata jornada contra a extinção e o sonho de retornar à elite do futebol britânico.
Mais interessante ainda é como essa jornada se dá: o time estava na quinta divisão britânica, a um passo de cair para as categorias amadoras, quando foi comprado por Ryan Reynolds (conhecido por Deadpool e muito mais) e Rob McElhenney (criador e estrela de It’s Always Sunny in Philadelphia e Mythic Quest). Um canadense e um americano que, para começo de conversa, conheciam muito pouco ou quase nada de futebol.
Esse Ted Lasso da vida real tinha todo o potencial para ser exploratório, sem noção e completamente sem graça, mas o resultado é uma série extremamente envolvente e emocionante devido ao principal fator e coração de toda essa história: os torcedores, compostos por diversas gerações de moradores de Wrexham que dedicam seu suor e lágrimas ao time.
Assim, Welcome to Wrexham acaba sendo muito mais do que sobre um time de futebol ou os investimentos ruins de duas celebridades e muito mais sobre a capacidade que o esporte tem, em seu melhor, de unir as pessoas, de jogar luz sobre o potencial de cada um e de fortalecer uma comunidade.
Em um momento de pessimismo galopante e egoísmo patológico, essa história pode ser uma inspiração e um alívio para os telespectadores que, por ventura, não aguentam mais ser expostos apenas às tragédias e mazelas do noticiário cotidiano.