Goiânia - Em tempos de música em streaming e caixas de som com bluetooth, são os velhos vinis que voltam a fazer a cabeça dos amantes da música. Números recentes de venda e do consumo dos bolachões revelam que o mercado mundial de vinil está cada vez mais forte e aquecido. A ideia do retrô, do nostálgico, a felicidade ao manusear e ver uma capa de álbum, de mudar o disco de lado, ter percepções musicais diferentes, dedicar o tempo para ouvir música e escutar com mais atenção estão entre alguns dos motivos que levam milhares de pessoas pelo mundo a voltar (ou iniciar) a colecionar discos e não apenas ouvir nessas caixinhas ou pelos fones do celular.
Nos EUA, em 2020, as vendas de discos de vinil ultrapassaram as vendas de CDs pela primeira vez desde os anos 1980, de acordo com um relatório da Recording Industry Association of America (RIAA) – a poderosa associação das gravadoras dos EUA. Lá, as vendas de vinil aumentaram 3,6%, enquanto as vendas de CDs caíram 47,6%.
Outro dado comprovador vem da GZ Media, a maior fabricante de discos de vinil do mundo, localizada na República Tcheca. Responsável por prensar discos de mega artistas como Lady Gaga ou nomes do underground como os punks da Cock Sparrer, a fábrica viu as vendas saltarem 11% atingindo 4 bilhões de Coroas Tchecas (que equivale aproximadamente 187 milhões de dólares) e enviar para o mundo 38 milhões de LPs em 2020. A GZ Media, além do vinil, produz CDs, DVDs e embalagens, mas o bolachão é o responsável por cerca de 65% da receita do grupo e emprega 1.800 pessoas.
O Brasil também segue essa nova onda do vinil. Em recente entrevista, Mario Meirelles, líder da área de mídia da Amazon Brasil, afirmou que as vendas de LPs no Brasil também são um sucesso, superando os CDs. “A maior parte dos discos vendidos são clássicos estrangeiros – The Dark Side of the Moon (Pink Floyd), Nevermind (Nirvana) e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Beatles), por exemplo –, mas há procura por álbuns de Raul Seixas, Novos Baianos, Belchior e Sandy & Junior. Também há demanda por aparelhos de vinil. São infinitos modelos”, afirmou.
Apesar de não divulgar números, Meirelles disse que as expectativas da empresa foram superadas e os investimentos nesse mercado devem continuar nos próximos anos. “Tem a questão do colecionismo, mas também a procura pela obra de arte, algo com o som puro. Nossa intenção é aumentar o catálogo brasileiro”, garantiu.
Isolamento e nostalgia
A pandemia do coronavírus e os momentos de isolamento social também contribuíram para essa “volta” dos vinis. Isso porque durante os momentos de lockdown muitas pessoas perceberam, de fato, o valor da cultura. Afinal, como suportar períodos de lockdown, trancados em casa, sem a companhia de bons filmes, séries, livros e músicas?
O isolamento despertou também um sentimento nostálgico, fazendo com que muitos ficassem saudosos dos “bons tempos” da vida, quando podiam se divertir e aproveitar. E, muitas vezes, essas lembranças são acompanhadas de músicas, de discos. E a procura por discos aumentou significativamente em sites de busca como Google e afins.
Outro fator que contribui para a geração streaming se apaixonar pelos vinis é que eles são “instagramáveis”. Isso mesmo. Para muitos jovens de hoje, não basta apenas viver uma experiência, é preciso registrar, postar, compartilhar. Daí, os LPs ganham força por serem esteticamente bonitos para posts. O disco rodando, a vitrolinha retrô... os stories, reels ou feed ficam bem mais legais com um vinil do que com um print do Spotify.
Mas essa onda vai passar? Talvez sim... mas os vinis irão continuar. Num nicho, como sempre estiveram. Mesmo diante dos CDs, dos MP3s e agora dos streamings, eles resistiram e continuarão resistindo. Afinal, os verdadeiros amantes da música nunca abriram e nem abrirão mão de ouvir música em “high-fidelity”.