Carolina Pessoni
Goiânia - O Centro de Goiânia é cada vez mais redescoberto pelos moradores da cidade. Em uma região tão rica, um dos destaques fica para aquela que é considerada marco inicial da construção da capital do estado: a Praça Cívica Doutor Pedro Ludovico Teixeira.
Construída em 1933, a praça foi projetada pelo urbanista Atílio Corrêa Lima, que também elaborou o projeto da nova capital. Conforme explica o pesquisador do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Goiás (UFG) e engenheiro civil, Wolney Unes, a Praça Cívica é a própria razão de ser da cidade. "Ela foi construída para ser o centro cívico da nova capital e de forma radial, com tudo sendo convertido para ela. O local escolhido é mais elevado, assim, o centro comercial fica separado, mais abaixo dela", conta.
Praça Cívica foi projetada pelo urbanista Atílio Corrêa Lima em 1933 (Foto: Divulgação)
Wolney relata que, inicialmente, a Praça Cívica seria onde atualmente fica a Praça do Cruzeiro no Setor Sul. "Mas isso não aconteceu, porque na época não havia como levar água para um local ainda mais elevado. Por isso, ela foi construída um pouco mais abaixo", explica. A Praça do Cruzeiro, no entanto, viria a ser construída apenas nos anos 40 e nela foi realizada a 1ª missa campal de Goiânia em 1948.
Construída para ser o centro administrativo da nova capital, a Praça Cívica concentrou os edifícios do governo estadual - Palácio das Esmeraldas e o Palácio Pedro Ludovico Teixeira - e os órgãos federais ao redor, como Correios e Tribunal Regional Eleitoral. "Posteriormente, com a descentralização dos órgãos de governo, os prédios foram sendo ocupados com museus e até cinema", acrescenta Wolney.
Revitalização
Entregue em 2016, a obra de revitalização da Praça Cívica buscou reconquistar elementos idealizados para o local por Atílio Corrêa Lima. Coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o serviço foi realizada pelo programa PAC Cidades Históricas, do governo federal, e custou cerca de R$ 12,5 milhões.
Vista aéra da Praça Cívica antes (esq.) e depois (dir.) das obras de revitalização (Foto: Divulgação)
Antes da requalificação, o marco inicial da cidade perdeu suas características de centro de convivência e se transformou em um "grande estacionamento", como explica o pesquisador da UFG. "A reforma devolveu o espaço para a população. Aos domingos é possível ver famílias reunidas, as pessoas voltaram a encher a Praça Cívica, realmente aproveitam o local", avalia.
As obras resgataram a arquitetura original do projeto, com características no estilo art decó. Também foram reparados o Monumento às Três Raças, o Pórtico e o Obelisco e o piso asfáltico foi trocado por pedra portuguesa, além da recuperação paisagística e de fontes luminosas.
Amor pelo centro
"Eu amo o centro! A vida acontece aqui, ele é a alma da cidade", exclama Natália Lino, moradora da região há 21 anos. Técnica ambiental, Natália conta que sua relação com o local não foi de amor à primeira vista, mas "um namoro construído com o tempo".
"Eu morava no Bairro Feliz com minha família, mas toda nossa vida era no Centro. Meus pais, então, resolveram que nos mudaríamos pelas facilidades, só que no começo eu não gostei. Estava acostumada a morar em um bairro residencial, em que a gente brincava na rua, e tive que mudar totalmente minha rotina. Com o tempo fui conhecendo, me identificando, agora não quero mais sair daqui", revela Natália.
Para Natália, que atualmente mora próximo à Praça Cívica, a região traz muitas comodidades no seu dia a dia, como acesso a supermercados, farmácias e facilidade de locomoção. Ela afirma que o Centro é uma "experiência antropológica". "Aqui se tem contato com as mais diversas pessoas, além de uma arquitetura lindíssima. Eu gosto de sentar para tomar um café, conhecer pessoas e fico muito feliz com essa nova onda de se redescobrir o centro que vem acontecendo. Ainda quero estudar o Centro cientificamente, porque eu amo esse lugar."
O analista de RH Cassiel Gomes é de Rondônia, mora em Goiânia há 13 anos e vive no Centro desde janeiro do ano passado. Ele também declara seu amor pela região e diz que é um dos melhores lugares para se morar, além de conhecer a rotina da cidade e a cultura do povo.
"Estou encantado! Eu gosto de andar pelas ruas, ver as histórias que o Centro conta por meio de seus prédios, sua arquitetura, a cultura expressa em cada semáforo, cada grafite. Tudo isso conta um pouco e faz parte da identidade cultural do goianiense", comenta.
A coluna Joias do Centro tem o apoio da Sim Engenharia