A adolescência é um período de intensas transformações. O corpo muda, as emoções se intensificam, a identidade é construída. Para os filhos, é como estar em um mar revolto, tentando aprender a nadar sem perder o fôlego. Para os pais, é a sensação de estar diante de um “estranho” dentro de casa, o mesmo filho que antes era dependente, doce e carinhoso, agora busca independência, questiona regras e, muitas vezes, se afasta.
Essa fase pode gerar conflitos, distanciamento e até sentimentos de rejeição, mas também pode ser uma oportunidade única de conexão se os pais compreenderem o que está acontecendo.
Na adolescência, o jovem não está apenas crescendo fisicamente, ele está tentando responder à pergunta mais importante da vida: “Quem sou eu?”. Esse processo gera insegurança, impulsividade e contradições. Um dia ele deseja ser tratado como adulto, no outro busca colo como uma criança.
É justamente nesse vaivém que os pais precisam atuar como pontos de apoio estáveis, oferecendo acolhimento sem sufocar, e limites sem rigidez excessiva.
Muitos pais se esquecem de que também foram adolescentes. Também enfrentaram inseguranças, crises de identidade, rebeldia e medo do futuro. Relembrar isso é um exercício de empatia, quando o pai ou a mãe acessam suas próprias memórias da adolescência, conseguem olhar para os filhos com mais compreensão e menos julgamento.
Como escrevo no livro “A dor só passa quando você passa por ela”: “É preciso atravessar nossas próprias dores para enxergar a dor do outro com humanidade.”?Ao lembrar-se da própria adolescência, o pai e a mãe acessam a dor, mas também a coragem que tiveram para atravessar essa fase. Isso os ajuda a caminharem ao lado do filho em vez de se colocarem apenas como cobradores.
A Programação Neurolinguística (PNL) ensina que toda comunicação gera impacto, positivo ou negativo. O tom de voz, as palavras escolhidas, a postura diante dos conflitos, tudo comunica. Quando um pai grita e diz frases como “Você não entende nada da vida” ou “Quando eu tinha sua idade…”, cria uma barreira emocional difícil de romper.
Mas quando escolhe frases que abrem espaço para diálogo, como “Quero entender o que você está sentindo” ou “Me conta como posso te apoiar”, o adolescente se sente validado e respeitado.
Não existe manual pronto para lidar com adolescentes, mas existe algo fundamental: autoconhecimento dos pais. Muitas vezes, a dificuldade em lidar com o comportamento dos filhos está relacionada às feridas não resolvidas da própria adolescência. Por isso, cuidar de si, buscar terapia e desenvolver inteligência emocional é tão importante quanto acompanhar o filho.
Quatro dicas práticas para os pais
1. Resgate sua própria adolescência:?antes de julgar, lembre-se de quem você foi aos 13, 15 ou 17 anos. Isso ajuda a gerar empatia e compreensão.
2. Comunique-se de forma construtiva:?troque críticas generalizadas por conversas específicas e respeitosas. A PNL mostra que a forma como falamos determina a qualidade da relação.
3. Estabeleça limites com amor:?ser firme não é ser agressivo. Mostre que liberdade vem acompanhada de responsabilidade.
4. Cuide de você para cuidar melhor:?pais equilibrados emocionalmente têm mais paciência, clareza e sabedoria para apoiar os filhos nessa fase.
A adolescência não é apenas uma fase difícil para os filhos, mas também um grande convite ao crescimento dos pais. É o momento de relembrar a própria juventude, resgatar a empatia e escolher ser guia, e não juiz.
Com consciência, amor e ferramentas práticas, esse período deixa de ser um campo de batalha para se transformar em um caminho de amadurecimento mútuo no qual tanto filhos quanto pais saem mais fortes.
*Mirian Pereira é psicóloga com pós-graduação em Neurociência e Comportamento, escritora, palestrante internacional, trainer e master practitioner em Programação Neurolinguística