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Há exatamente um ano, iniciou-se um novo ciclo político em Goiânia e nos demais 245 municípios de Goiás, trazendo consigo uma oportunidade única para refletir sobre os rumos ideológicos, sociais e econômicos do estado. Diferentemente de outras regiões do Brasil, as principais cidades goianas testemunharam uma polarização peculiar: de um lado, a centro-direita governista; de outro, o bolsonarismo. Esse fenômeno reflete, além de divergências políticas, uma fragmentação cultural e identitária que redefine as bases do debate público.
Vivemos em um país onde a polarização entre esquerda e direita transcendeu as ideologias clássicas, transformando-se em marcadores sociais e culturais. Em Goiânia, porém, o eleitorado pareceu priorizar a experiência na gestão pública em detrimento de bandeiras ideológicas explícitas. A eleição recente evidenciou duas estratégias predominantes: a identificação com valores políticos e econômicos específicos e o uso pragmático de recursos institucionais — como financiamento partidário e estruturas de cargos — para consolidar bases de poder.
O cenário atual, contudo, revela um paradoxo: embora a tecnologia permita maior acesso à informação, as narrativas políticas muitas vezes se sobrepõem às ações concretas. Vídeos de tom informal e conteúdo superficial viralizam com facilidade, enquanto propostas técnicas para melhorar educação, saúde e segurança ficam à sombra do espetáculo midiático. Esse fenômeno alimenta um populismo moderno, marcado por discursos inflamados, falta de respeito ao contraditório e ausência de projetos estruturantes.
O resultado é um debate público empobrecido, em que bravatas substituem diálogos, e a polarização serve mais a interesses eleitoreiros do que ao bem comum. A política brasileira — e a goiana em particular — carece urgentemente de propostas técnicas, planejamento de longo prazo e espaços para a participação cidadã. É preciso romper com a lógica que perpetua elites políticas desconectadas da realidade, abrindo caminho para jovens lideranças, especialistas e uma gestão pública transparente.
A sociedade goianiense demonstra-se cada vez mais crítica, mas ainda pouco ativa na construção de soluções. Para evitar que o futuro seja disputado entre populistas antissistema e defensores do status quo, é urgente reinventar a política local. Isso demanda cobrança e engajamento, de modo a fortalecer conselhos municipais, promover educação política e valorizar mecanismos de participação direta. Afinal, cidades são feitas por pessoas — e só com cidadãos ativos será possível transformar Goiânia em um exemplo de democracia eficaz.
Michel Magul é secretário de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa de Goiás