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Adalberto de Queiroz

Meu plano de leituras para 2025 - em 4 planos

| 24.02.25 - 18:22
Comprovando a legenda do poeta francês Henri Michaux – “poetas amam viagens”, estou partindo em viagem para a Itália. Neste texto, exploro um pouco desse nosso amor à viagem, em uma das quatro linhas de minhas leituras deste 2025 – literatura e viagem.
Vivendo neste início de ano a preparação para voltar à Itália, onde pretendemos passar uma temporada de dois meses, entre abril e junho próximos, leio os italianos e sobre o que estrangeiros (que amam viagens) falam sobre a Itália. Há os transcendentais e os
pensadores de nossa terra, mirando o pensar tout court e une vue d´ensemble sobre o mundo inteiro, que é onde se completam as quatro linhas.

1. Viagem à Itália – de Johann Wolfgang von Goethe é, pois, o primeiro livro que desço da estante para reler trechos lidos na juventude e outros inéditos até hoje.
Goethe, nos alerta no prefácio a tradutora da obra – Wilma Patrícia Maas, 
que o texto tem um “caráter enciclopédico”, porque o alemão trata de uma infinidade de assuntos que o interessaram ao longo desse permanência no país de Dante Alighieri e o texto reflete os múltiplos interesses do Autor, que escreve sobre sua longa temporada italiana, de setembro de 1786 e abril de 1788. 

Assim, “Viagem à Itália não é apenas o relato fiel de uma experiência em um país estrangeiro, mas também um texto extremamente pessoal, que ultrapassa o registro autobiográfico. As idiossincrasias, anseios e obsessões do homem de 37 anos emergem sob o texto, desestabilizando a dicção clássica encontrada por aqueles que desejam ver na obra o ponto de passagem, o momento em que o artista amadurece por completo para prover a Alemanha de seu Classicismo.” 

O filósofo e teórico russo Mikhail Bakhtin basta para justificar a leitura das quase 600 páginas dessa pequena enciclopédia goethiana quando identifica “a especial aptidão de Goethe para ver o tempo no espaço”, essa percepção única do escritor alemão para “a coexistência dos tempos em um único ponto no espaço”, que se manifesta claramente em Roma, “o grande cronotopo da história humana” .

2. Para além das margens: a Itália de Elena Ferrante – de Isabela Discacciati. 
Este livrinho da editora carioca Bazar do tempo (2024) atraiu-me de cara na estante de uma livraria local não apenas por sua beleza gráfica, mas pelo paratexto (4ª. capa) que reza: O livro de Isabela Discacciati propõe uma dupla viagem que se articula no cruzamento da obra de Elena Ferrante, sobretudo em sua tetralogia napolitana, inaugurada com A amiga genial, com um vasto repertório italiano presente no itinerário de suas personagens. Para isso, a autora empreende uma jornada em busca dos cenários e pessoas que, espelhados nesses enredos, ajudam a compreender melhor as referências literárias de Ferrante, atravessando os universos da mitologia, da religião, da cultura popular e a própria geografia italiana. 

Brasileira que emigrou para a Itália, onde estudou e trabalha com turismo, arquitetura e história, Isabela também insere no texto experiências autobiográficas que dialogam com a comovente história da amizade e dos conflitos de Lila e Lenu que conquistou leitoras e leitores em todo o mundo e fez de Elena Ferrante a autora mais celebrada da literatura italiana contemporânea. Embora nunca tenha aberto um livro da Sra. Ferrante, o livro me parece (como o de Goethe) mais do que guias de viagem para um turista ávido por aventuras no Estrangeiro.

3. Como falar de Deus hoje: Antimanual de evangelização – de Fabrice Hadjadj.
Eis um livro que já estou por estudar desde o final de 2024, mas que 
exige leitura e releitura, pela profundidade do filósofo católico francês, de etnia judaica e ascendência tunisiana. Este livro traduzido do francês por Pedro Sette-Câmara, é uma reflexão sobre hoje, é uma reflexão sobre Deus e é uma reflexão sobre o ato humano de falar. No livro, Fabrice Hadjadj traz à cena a inclinação transcendental manifesta já em nossa linguagem: ao nomearmos as coisas, invocamos aquilo que elas essencialmente são.

O ato singelo de falar sobre elas 
tanto dá honra àquilo que as faz ser como clama por que seja vencido o mal que as impede de ser em plenitude. Toda fala tende, assim, ao louvor e à prece. Hoje, por outro lado, quando sobram meios de falar, e atinge uma extensão inédita o seu raio de alcance, nada parecemos ter a dizer. É que, justamente, falar é abordar o mistério da presença de algo, e só pode ser verdadeiro o que é dito a partir de uma circunstância, a partir de um encontro. Originado como palestra no Conselho Pontifício para os Leigos, este ensaio mostra como, aí onde a comunicação contemporânea erra, os que falam de Deus sempre floresceram e fizeram florescer. Não como arautos da verdade, mas como clowns – que desconcertam, mas apenas por serem aqueles que ainda se deixam encantar.

4. A profundidade dos sexos: por uma mística da carne – Fabrice Hadjadj. 
Este é o outro livro do filósofo franco-tunisiano que me atraiu e já vou pelo meio da leitura de suas pouco mais de 260 páginas. Foi-me recomendado pela editora É Realizações e no início me exasperou um pouco, por seu título meio chocante e porque me pareceu uma fuga aos meus temas básicos como católico.

Que 
nada! O livro é uma joia de entendimento e comunicação de compreensões profundas, como o diz o próprio título. E com sua prosa envolvente, Fabrice Hadjadj constrói uma mística da carne que devolve ao ato sexual a sua concretude: o sexo é, antes de tudo, o órgão em que ele ocorre. Por isso, é plural: o que existe são sexos, o do homem e o da mulher. De Homero a Sade, na literatura; de Aristóteles a Heidegger, na filosofia; de Molière a Dario Fo, na dramaturgia; além, é claro, do Kâmasûtra: com diferentes linguagens e diferentes imagens, todos apontam para a necessidade de procurar os significados do humano em sua carnalidade. E esta ênfase em nenhum lugar se encontra tão aguçada quanto na teologia cristã.

5. Um bárbaro na Ásia – de Henri Michaux, trad. Denise Moreno Pegorim.
com ele, a china por primeiro – onde se aprende que “a virtude é a melhor trama” e o que me leva a retornar a dois chineses que ganharam o prêmio Nobel nos anos 2000 – Gao Xinjian e Mo Yan, de quem já li antes Mudança e Sorgo vermelho. Como estes dois perfazem 918 páginas, tenho a meu favor ter lido já
423. Creio que os restantes 316 dias me valerão. 

6. O Sábio de Malvern Hills O Espiritualismo Histórico de Christopher Dawson – de Maurício G. Righi.
Iniciei no final de 2024, a leitura (de novo, 
tenho que dizer “estudo) deste livro do historiador brasileiro Maurício G. Righi que analisa a obra de Christopher Dawson. Righi já me havia conquistado com dois livros anteriores – “Sou o primeiro e o último” e “Pré-História e História”. Agora, nessa obra sobre Christopher Dawson, conservador galês, considerado um dos mais importantes historiadores da cultura e da religião, é nossa pauta de hoje. A editora É Realizações assegura que “se você adora livros de História, História da Religião e de espiritualidade, esse é um título que não pode faltar em sua biblioteca.”

7. À sombra da modernidade: Ensaios sobre antimodernos – de Fabrício Tavares de Moraes.
Este livro do Fabrício é uma incursão crítica sobre o 
pensamento antimoderno. Com grande erudição e uma prosa envolvente, Moraes aborda diversos ensaios que tratam da resistência ao avanço do modernismo e da busca por fundamentos tradicionais e espirituais na compreensão do mundo contemporâneo. Através de uma análise detalhada de filósofos, teólogos e críticos culturais, o autor revela como os antimodernos oferecem uma perspectiva alternativa e, muitas vezes, provocadora sobre os desafios e as crises da modernidade.

É uma leitura que instiga a reflexão e o questionamento, 
perfeita para aqueles que se interessam pelos debates sobre a cultura, a tradição e a modernidade. Mestre em Estudos Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor pelo programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora, com doutorado sanduíche (bolsista CAPES) em Queen Mary University of London (Inglaterra), o jovem e talentoso autor havia publicado parte desses ensaios no caderno Estado da Arte de O Estado de São Paulo, em meados dos anos 2000.

*Adalberto de Queiroz é jornalista e poeta.

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