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Tatiana Potrich

Essência feminina

| 23.02.25 - 12:19
Ainda não assisti a nenhum dos filmes supostamente indicados às grandes premiações que vêm gerando polêmicas e dominando os tabloides. Não me interessa entrar em discursos ideológicos ou ser tendenciosa, mas gosto da ideia de competitividade que o momento proporciona. 
 
O ponto central aqui é que o que realmente está em jogo é a credibilidade do posicionamento feminino na atual conjuntura. Quando mulheres profissionais e experientes como Fernanda Torres, Demi Moore, Nicole Kidman e Angelina Jolie são colocadas num mesmo patamar, não se pode equipará-las a celebridades efêmeras, subcelebridades ou figuras que apenas simulam uma essência feminina.
 
A novela Guerra dos Sexos, da TV Globo, exibida em 1983, fez uma sátira sagaz à competitividade entre gêneros. Hoje, contudo, nos perdemos em um labirinto de tantas categorias e demandas, ao ponto de as premiações talvez precisarem ser reformuladas. Não apenas por razões genéricas, genéticas ou etárias, mas por aspectos ideologicamente pragmáticos.
 
Reitero, não assisti "Ainda estou aqui", protagonizado pela icônica Fernanda Torres, onde a personagem é uma dona de casa de classe média que, na ausência (e morte) do marido, tem que se virar para criar seus cinco filhos sozinha. A história é sobre ser mulher, mãe, viúva e não só sobre política, embora viver, ou sobreviver, seja um ato político.
 
Assim como Moore, que interpreta o terror das intervenções cirúrgicas, ou Kidman, que vive um jogo de prazer utópico na terceira idade, ou ainda Jolie na pele da divônica Maria Callas, no período mais decadente de sua vida, fica difícil levar a essência feminina a sério, quando se abordam cenários distópicos como estes, embora um tanto reais.
 
Não preciso ir muito longe para notar a inversão de valores e sinistros procedimentos estéticos que vêm transformando a anatomia de atrizes, modelos, cantoras e dançarinas. 
 
As passistas, rainhas da bateria, musas vitalícias do Carnaval, estão consumindo mais testosterona que muitos atletas olímpicos homens, literalmente nascidos com o cromossomo XY. E, no outro extremo, homens desfilam pelas avenidas, exibindo peles, colos e pernas mais bem depiladas e esculpidas que muitas universitárias. 
 
Sim, meus caros, nunca foi tão desafiador ser uma mulher em sua autenticidade.
 
Sou da época da Amélia, da Tereza, de Drão, de Flora, da cabocla, da tigreza, da Katia Flavia, da Ana Julia e da Garota de Ipanema (Todas elas juntas num só ser -  música de Lenine).
 
Sou do tempo em que as telenovelas eram mais divertidas que stand-ups de tik tok.
 
Entendam e me perdoem, por favor, mas para mim, essa transição ou transformação ainda está sendo processada. Acho até que minha iniciação na menopausa possa ser também um dos motivos de resistência no processo desta adaptação. 
 
Afinal, a vida é breve e não há nada mais incontestável para provar isso do que a idade.
 
Enquanto isso, reservo-me o direito de ser uma mulher cis e mortal, embora ainda viva.
 
Mas sem silicone, por favor!

*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais
 


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