O curta-metragem de animação Balada para Raposo Tenório chega à 16ª edição da Mostra de Cinema "O Amor, a Morte e as Paixões" trazendo um olhar autêntico e impactante sobre um episódio real da história de Goiás e Tocantins. Produzido pela Animatriz Studio, e dirigido e roteirizado por Samuel Peregrino, o filme resgata uma narrativa baseada no ataque dos indígenas Xerentes contra faiscadores de ouro no extinto arraial de Bom Jesus do Pontal, em 1850.
A animação, totalmente feita à mão, sem o uso de inteligência artificial, representa um marco para a produção audiovisual goiana. Com uma estética visual detalhada e inspirada na tradição dos filmes western e de suspense, Balada para Raposo Tenório transporta o espectador para um Brasil colonial pouco retratado no cinema.
O curta conta com a participação do ator tocantinense Nival Correia e se destaca pelo rigor histórico e pela pesquisa aprofundada, que incluiu obras como Bom Jesus do Pontal, de Eli Brasiliense, e História de Goiás, de Luís Moraes Palacin e Maria Augusta Santana.
Em uma conversa que tive com o diretor, ele me contou como surgiu a inspiração para a obra. “Quando ouvi pela primeira vez sobre um arraial abandonado perto de Porto Nacional, no Tocantins, fiquei fascinado com a ideia de revisitar o Brasil profundo, onde realidade e lenda se misturam, onde a busca pelo ouro se confunde com a busca por identidade. Fiquei intrigado com o fato de que quase ninguém conhecia sua história. Ao pesquisar, descobri um capítulo pouco explorado do Brasil, onde a constante guerra entre nativos e garimpeiros revelava um cenário muito mais complexo do que a imagem romantizada dos bandeirantes que aprendemos na escola. O filme não se propõe a ser um porta-voz de qualquer posição, mas sim a mergulhar nos relatos e nas tensões da época, reconstruindo um pedaço dessa realidade esquecida sem as idealizações comuns. Quis explorar o olhar daqueles que estavam à margem da história oficial e trazer à tona um Brasil moldado pelo conflito e pela disputa de território”, confidenciou-me Peregrino.
Além de apresentar um capítulo esquecido da história, o filme também aborda a questão ecológica ao retratar os impactos da mineração na região e o embate entre colonizadores e povos originários. Sem cair em romantizações, Balada para Raposo Tenório traz um olhar crítico sobre os conflitos que moldaram o Brasil.
Já selecionado para festivais internacionais, como o First-Time Filmmaker Sessions (Reino Unido) e o Moonlight Short Film Fest (Itália), onde recebeu menção honrosa, o curta agora ganha espaço na programação da Mostra "O Amor, a Morte e as Paixões", consolidando sua relevância no cenário do cinema nacional.
A exibição do filme será no dia 25 de fevereiro, às 17 horas, no CineX, no subsolo do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Tenho certeza de que o público vai se emocionar com uma história de busca, medo e sobrevivência em um Brasil onde a febre do ouro e os mitos sobre riquezas ocultas alimentavam esperanças e tragédias.
Carla Lacerda é jornalista e especialista em Jornalismo Literário