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Ontem, dia 13 de fevereiro de 2025, uma quinta-feira, eu cheguei no escritório às 16:34 horas.
Não, eu não tirei um dia de folga e também não estava doente. Ontem eu fiquei o dia todo no Tribunal de Justiça de Goiás para fazer uma sustentação oral na 9ª Câmara Cível.
Para quem não sabe, a sustentação oral é uma parte importante do trabalho do advogado, onde ele apresenta seus argumentos diretamente ao tribunal. Este momento da oralidade é muito importante e os grandes advogados são bons oradores.
De vez em quando acontece de um advogado subir à tribuna para ler um texto na hora da sustentação oral. Ah, quanta decepção! Os presentes logo percebem a cara de desapontamento dos desembargadores. É preciso viver no presente, mas tem horas que a gente se ressente pela perda das boas práticas do passado, tipo exercitar a oratória. Enfim...
O início dos trabalhos começou pontualmente às 9:00 horas. Foram julgados em primeiro lugar os processos em segredo de justiça. Naquele momento todos os advogados foram convidados a se retirar, permanecendo apenas aqueles que estariam sustentando oralmente.
Ficamos todos no corredor do tribunal, aguardando o final dos julgamentos desses processos que tramitavam em sigilo, no total de oito. Do que tratavam esses recursos? Não vi nenhum colega perguntando.
Geralmente a espera me tira do sério e considero esperar uma total perda de tempo, mas decidi que eu não iria me irritar.
No corredor do tribunal todos os advogados começaram a socializar. “Bom dia, doutora”, “como está colega?”, enfim, a boa e velha comunicação real, pois estamos todos saturados da virtual.
Tive uma longa e agradável conversa com um nobre colega, o amigo e advogado Dyogo Crosara, um profissional inteligente, combativo e de muita credibilidade. Falamos sobre amenidades, o que sempre ajuda a dissipar a tensão. Falei para ele que descobri muito tarde, mas antes tarde do que nunca, que existe uma grande diferença entre estar ocupado e ser produtivo.
Muita gente pensa que estar ocupado e ser produtivo é a mesma coisa, mas não é. Quantas vezes estive ocupado e estava apenas perdendo tempo e dinheiro. Enfim...
Já disse que o Dr. Dyogo Crosara é um grande advogado e ele é mesmo. Ele fez uma brilhante e corajosa sustentação oral. O advogado da parte adversa estava presente. O clima ficou tenso na sessão. O recurso foi julgado, o cliente do Crosara levou a melhor e ele se despediu de todos.
Eu fiz questão de acompanhá-lo até o elevador. O Tribunal de Justiça de Goiás é um lugar muito seguro e bem vigiado, apenas acredito que eu devo acompanhar e dar alguns passos ao lado de um bom colega que fez um bom e corajoso trabalho.
Também tive o privilégio de encontrar com o meu querido Dr. Lélio Aleixo. Um jovem advogado que está alçando voos na advocacia. Cordial, alegre, estudioso e esforçado. Tenho profundo apreço pelos jovens e isso se deve ao fato de já ter passado dos 50.
As advogadas brilharam na sessão de julgamento. Mulheres são atentas aos detalhes, o que ajuda muitos nos processos judiciais.
Os julgamentos dos recursos dos processos sigilosos se encerraram às 11:00 horas. Olhei na pauta de julgamento e vi que o meu processo era o 25º da pauta!
Aliás, eu não olhei, a Gabi (desculpe a intimidade) que trabalha na 9ª Câmara Cível me informou. Devo mencionar, neste ponto, que o Tribunal de Justiça de Goiás é composto por ótimos desembargadores, que são ajudados por dedicados servidores.
De repente já eram 12:00 horas. Não deu outra, a sessão de julgamento foi interrompida e os trabalhos retornariam às 13:30.
O trânsito em Goiânia está caótico (depois vou escrever sobre isso) e eu não conseguiria voltar ao escritório e não teria tempo para chegar em casa para o almoço.
Geralmente isso me tiraria do sério, mas decidi que eu não iria me irritar. Liguei para minha esposa que trabalha perto do Tribunal de Justiça e a convidei para almoçar em um restaurante.
Me senti um lorde ao proporcionar um almoço inesperado para a minha esposa. Fomos ao Bologna, um tradicional restaurante italiano que prepara a melhor lasanha do Brasil. Estou falando sério, é a melhor do país.
O Bologna fica perto do Tribunal de Justiça, o prato foi servido rapidamente e às 13:15 eu já estava de volta aos bancos da 9ª Câmara Cível.
Pontualmente às 13:30 os trabalhos foram retomados. Vi que um dos desembargadores, o decano entre eles, sempre fazia comentários leves e engraçados. Como provocar uma risada alivia o clima pesado dos julgamentos. Isso é sabedoria.
Fiz a minha sustentação oral às 15:30. Sem ler nenhum texto, como deve ser. Sem usar todos os 15 minutos, como é apropriado. O desembargador relator me ouviu com uma atenção que só os sábios sabem dar. Ao final, o relator decidiu que daria a decisão na próxima sessão, pois as sustentações orais, a minha e a do colega advogado da parte adversa, o levaram a rever o voto que já estava pronto.
O voto era favorável ao meu cliente e será alterado? O voto era desfavorável ao meu cliente e será alterado? Para saber, só na próxima sessão de julgamento.
Isso, há pouco tempo, me tiraria do sério, mas estou aprendendo a esperar.
Antigamente eu ficava possesso quando perdia um dia todo esperando no Tribunal e saía de lá sem uma decisão.
Hoje eu recebo tudo isso como um sinal de que eu não preciso ter controle das coisas e da situação. O dia de ontem foi um dia de grandes encontros, de muitos aprendizados e de muitas surpresas inesperadas (até levei a minha esposa para almoçar no Bologna).
Não estamos no controle. A sessão atrasou? Paciência. Faz parte do meu trabalho. Eu não consegui dar conta das tarefas do dia no escritório? Paciência. Amanhã eu vou atualizar o meu trabalho.
Sabe, a ansiedade está intimamente ligada ao desejo de manter o controle. Descobri que querer manter o controle de todas as situações é na verdade uma falta de fé. Deus decidiu que eu passaria o dia no Tribunal esperando para fazer uma sustentação oral. Quer saber? Essa foi a melhor decisão do dia.
*Luciano Almeida de Oliveira é marido, pai e advogado.