O discurso poético dos artistas começa na infância. O resgate da memória afetiva de suas vivências e desejos, tal como aquela famosa perguntinha: “o que você quer ser quando crescer?” são catalizadores para seu processo criativo e pulsão construtiva
A história dos Irmãos Campana, em especial, é muito familiar, no senso comum, entre as crianças. O sonho do irmão mais velho, Humberto, era ser índio e o do caçula, Fernando, era ser astronauta. Quando fomos apresentados, em 2015, realizei dois sonhos no mesmo dia, conheci um ‘índio’ e um ‘astronauta’
A proposta da mostra do acervo do Jardim Potrich é resgatar estas histórias lúdicas, que nos são tão familiares e identificar através das obras, reminiscências perdidas na vida adulta que resgatem a memória desta nossa sonhadora infância
Ao lado do cocar da tribo indígena pernambucana, Fulni-ô, a pintura hiper-realista de um “Astronauta”, do artista baiano, Tarcísio Veloso contrasta o ambiente e ilustra um sonho de criança de dois talentosos irmãos.
O artista Fabio Pedrosa registra em acrílica um painel da floresta verde, que camufla indígenas e seus cocares
Mais adiante, beija-flores quase reais carregam penas de arara canindé e joias de ouro e brilhantes. Joias forjadas a partir do delicado desenho de espirais espinhados do artista goiano, Luiz Mauro
Espirais em metamorfose
As penas, os pássaros, borboletas, cavalos, arvores, índios, negros e palhaços estão presentes nos transgressores desenhos do muralista Wes Gama. Figuras e personagem precisamente contornados, conversam entre si articulando se sairão do papel para colorir os muros da cidade ou se permaneceram estáticos, com sua impecável monocromia da técnica secular do nanquim
A geometria também é muito bem vinda nas lembranças da infância. O movimento neoconcreto do artista mineiro Amílcar de Castro explora a interatividade do espectador com sua obra permitindo um envolvimento pessoal, entretanto, compartilhando esta mesma experiencia, com o ambiente, com o outro e com o movimento em si, do corpo e do olhar
Os cubos de madeira, do artista piauiense, residente em Brasilândia, Francisco Galeno comprovam o poder da interatividade e os desdobramentos deste estilo artístico que, inconscientemente, ganhou adeptos. Já o artista e serralheiro baiano, Evandro Soares caminha em paradoxos do metal e desenvolve seu movimento entre sombra e luz, preto e branco
A mostra do acervo também tem espaço para a mitologia e o misticismo na pegada divertida de Emília Simon e nos símbolos sagrados da africanidade na aquarela e xilogravura da jovem mineira, Xica
Em comemoração aos 2 anos de vida, o Jardim Potrich abrirá a mostra coletiva com programações imperdíveis
Dia 8 de fevereiro às 8h30, oficina de cerâmica com Barro Pintado e as 11h00 conversa com Mania & Mari: “Moldando e mapeando curas alternativas: Arte, Cerâmica, Astros e Neurociência”
No dia 9 de fevereiro, encerramos as comemorações com o Yoga Ancestral orquestrado pela professora Daniela do Vale de Carvalho
E para quem ainda não adquiriu seu objeto lúdico de arte do projeto “Terra Plena – Astromitologias do Sul”, com textos de Lari Mendes, não pode perder a oportunidade e ainda vislumbrar o grafite na fachada “Mente Consciente” elaborado por Morbeck e a “Bromélia Potrich” por Fabiano Apce (SP) Integram o acervo do Jardim Potrich artistas renomados como Amelia Toledo (SP), Siron Franco (GO), Antônio Poteiro (Portugal/GO), Emmanuel Nassar (PA), Irmãos Campana (SP), Leo Romano (GO), Helena Vasconcelos (MG), Marcilio Lemos (GO), Thereza Portes (MG) e no espaço externo Luiz Hermano (CE) e Jayme Reis (MG).
Foto: reprodução
*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais