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Argemiro Mendonça

Política x mercado

| 23.01.25 - 11:41

Creio que até para o mais desatento cidadão ou cidadã brasileira, é fácil perceber que já se vão mais de uma década de divisão no Brasil entre posições extremadas de visões à esquerda e à direita. O pior é que um olhar mais atento detectará que isso não é exclusivo da terra tupiniquim, que, infelizmente, parece ser um comportamento global. A meu ver, com o olhar de quem viveu anos atuando de perto na educação universitária, não me parece que divergência de pontos de vistas seja ruim; o problema é o extremismo e o radicalismo que impedem a percepção de que é possível ter um outro lado “além do seu”.
 
Assim vemos gente misturando questões técnicas com pontos de vistas políticos partidários. A mídia, e agora reforçada pelas movimentadas redes sociais, parece adorar o “prato cheio” para despertar “likes e deslikes”. Dizem alguns estudiosos da política como ciência, que esta é arte de buscar, refletir sobre questões afeitas às pautas de interesse público. 
 
Pois bem, neste contexto talvez possamos inserir o mercado, que não é algo público. Seus atores são os agentes privados, que se dispõem a correr riscos, produzir bens e serviços que gerem e agreguem valor à vida em sociedade, gerando empregos, contratando mão de obra, e, principalmente, fazendo a roda da economia girar. Por que dizem então que o mercado reage a ato dos agentes políticos? Qual é a relação entre política e mercado?
 
Os agentes do mercado transferem parte dos recursos obtidos com geração de valores ao poder público, que os recebem na forma de impostos e tributos para custeio da estrutura que montam para “gerir” a sociedade.
 
Bom, o dinheiro, ou melhor, a moeda circulante neste meio é o elemento adotando para o mercado realizar transações, e esta traz uma conexão entre estas partes: mercado e administração pública (política).
 
Penso que a percepção da importância deste “papel da moeda” levou as grandes economias globais criarem uma independência do ente responsável pela moeda, da figura do governo. Assim, o Brasil no início de 2021, através da Lei Complementar nº 179, estabeleceu a autonomia do Banco Central do Brasil. A regra determina que a Presidência da República faça a indicação dos dirigentes desta entidade, contudo a homologação dos indicados passa pelo crivo do outro poder. Cabe ao legislativo, sabatinar, avaliar os currículos, capacitações ao exercício de funções no sistema financeiro. Se aprovados pelo Senado Federal, assumem o exercício da função de dirigentes do Banco Central do Brasil.
 
Entre as finalidades do Banco Central, está a de cuidar da moeda, atuando com tecnicidade, para assegurar seu valor no sistema financeiro. Vale lembrar que vivemos cada vez mais uma economia globalizada, e que por isso o sistema financeiro é integrado globalmente. Índices como de Basileia norteiam esse regramento para qualquer instituição financeira do mundo que opere nesse sistema. Os ratings adotados para medir a saúde destas instituições são aferidas por regras cunhadas por organizações com atuação mundial.
 
Portanto, se um agente político reclama de medida adotada por seu Banco Central, no mínimo suscita a quem compreende o “jogo”, que ou este não conhece as regras, ou está “atirando” indevidamente contra quem não cabe. E é por isso que o mercado, quando percebe algumas ações políticas nessa linha, reage. 
 
Os players do mercado precificam seus ativos (bens, produtos, serviços, etc), mas ele não faz exclusivamente a luz do seu desejo. Estes preços adotados decorrente de diversas variáveis, porque os poderes constituídos, executivo, legislativo, judiciário, agem sobre o ambiente no qual está instalado o mercado; e o que os atores de mercado obtém com as transações das produções, parte caberá cobrir custos da produção, parte será partilhada com o governo através de impostos e outros; e ainda em conformidade com a necessidade, a disponibilidade e a capacidade de cada cidadão e cidadã em realizar aquisição ou não da produção realizada, trará reflexos a precificação adotada. Ou seja, valor e preço são resultados de um conjunto de fatores complexos.
 
A moeda que vai cobrir essas transações decorre de um certo volume impresso de dinheiro, que é facultado ao Banco Central gerar em conformidade com o regramento global estabelecido para o sistema financeiro que ele se insere.
 
Dinheiro sem lastro é o que faz inflação. Assim, foram estabelecidos alguns dispositivos como taxa básica de juros para se buscar regular o acesso aos recursos financeiros, expressos em moedas; e com isso tentar o valor da moeda dentro dos espectros aceitáveis no sistema financeiro. 
 
Talvez até possamos dizer que essa taxa básica, a Selic, seja o termostato que se aciona para buscar regular o clima no mercado, se melhor ou pior para transacionar ou não. Tudo é muito complexo.
 
Portanto, também seria muito saudável se os “comentaristas de plantão” que conhecem um pouco as regras do “jogo do mercado”, antes de se apontar o dedo para este ou aquele, como o grande responsável pelo país estar com uma boa ou má condição econômica, ou pelo menos com um povo em maior ou menor equidade socioeconômica, refletirem mais, “jogar pedra de menos”. Com certeza, ajudará para que os extremos encurtem e, assim, o bom senso domine no nosso planeta.
 
*Argemiro Mendonça é engenheiro, empresário e vice-presidente do Sicoob Uni.

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