São Paulo - Imagine seu filho adolescente postar uma foto nas redes sociais com gestos manuais de paz e amor, vitória e amo você e por isso ser morto. É estarrecedor! Mas é o que acontece, como vem sendo noticiado há alguns meses, em diferentes partes do Brasil.
As polícias civis do Ceará, Bahia e Mato Grosso investigaram e descobriram que os gestos foram interpretados por traficantes como símbolos de facções criminosas. Mostrar os dedos polegar, indicador e mínimo, por exemplo, que é o gesto universal de amo você na linguagem dos sinais, ou uma referência ao rock, pasmem, indicaria o número três, que representa o Primeiro Comando da Capital. O que teria levado integrantes de uma facção rival, no caso o Comando Vermelho, a identificar o autor do gesto como um membro do PCC e, por isso, merecer ser executado. Seria uma demonstração de força da facção oposta, na disputa por território. Que tamanha insanidade!
É impossível ver o que está acontecendo sem se chocar. Isso não pode entrar para a lista de mais uma barbaridade vista com normalidade. Isso não é normal e escancara, de uma forma muito dura, como a nossa sociedade está doente. Até que ponto podem chegar as disputas entre as facções criminosas?
Estas facções tomaram o país. Elas se organizaram, se profissionalizaram, venceram licitações, criaram grandes empresas que prestam serviços à sociedade, se embrenharam no poder público, e assim lavam dinheiro do crime, dão legalidade ao que é ilegal e têm um poder sem tamanho. Também financiam campanhas políticas com o dinheiro lavado e cobram uma fatura muito alta dos políticos eleitos. E agora?
Fazer dinheiro no Brasil já não é suficiente e as facções criminosas espalham seus tentáculos pelos países vizinhos. O negócio agora é multinacional. Depois que o Comando Vermelho e o PCC chegaram a este ponto, quem irá detê-los?
Nossos filhos, vidrados nas redes sociais, morrem enquanto gesticulam os dedos e nós assistimos de mãos atadas.
Eliane de Carvalho é jornalista.