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Tatiana Potrich

Era uma vez um sonho

| 22.12.24 - 10:04
Ultimamente tenho refletido muito sobre a história do livro "O Grande Gatsby" (1925), o ethos do sonho americano, que viveu seu luxuoso apogeu no período entre-guerras, mas desabou abruptamente com a desastrosa quebra da bolsa de 1929.
 
A mais curiosa coincidência e o motivo real de minha reflexão é a ambientação na década de 20, período da ascensão do estilo Art Decó, a arquitetura tardia nos trópicos e tão característica da construção de Goiânia, em 1933. 
 
Foram insistentes tentativas em vão de resgatar, restaurar, reestruturar estes patrimônios da Capital, haja visto que até as comemorações natalinas foram transferidas para o cenário moderno-contemporâneo do conjunto arquitetônico de Oscar Niemeyer, a ter que ficar isoladas na "ilha" da Praça Cívica, ponto de maior expressão deste estilo.
 
Visivelmente mal planejadas, algumas construções são desproporcionais e, para o plano diretor da cidade, estrategicamente mal localizadas. No filme, "O Grande Gatsby" (2013) protagonizado por Leonardo DiCaprio (na opinião de minha mãe a versão de 1974, com Robert Redford é bem melhor), a gente começa a ter uma ideia do que foi o Art Decó e todo esplendor do estilo brilhante, que consagrou o jazz e a ousadia fashion da francesa Coco Chanel, como trilha sonora e figurinos ideais. 
 
Na versão de 2013, a grife de joias Tiffany, desenhou e lançou uma coleção inspirada na obra literária, usada pela personagem de Daisy, no filme. Um momento fulminante de ascensão econômica, que teve inversamente sua devastadora decadência.
 
O fato é que o estilo chegou ao Brasil já obsoleto, deturpado e démodé. Me parece que ele carrega o estigma de uma época ilusoriamente abundante, onde tudo que vem fácil, vai fácil. Um estigma para os novos-ricos, os ditos "emergentes", que se deslumbram com o poder de consumo e invertem os valores sociais, investindo grosseiramente em festas sem propósitos coerentes, ou ainda consumindo e/ou vendendo produtos para inflar egos e status provisórios.
 
O Art Decó assumiu um papel de bom gosto na Europa, precisamente na França, mas aqui no país tropical suas virtudes foram distorcidas e economizadas pelo descuido estético e carência cultural local.
 
Me perdoem os que pensam diferente (pois é Natal), mas verdade seja dita, uma cidade fundada sob o cerrado não pode querer adotar na marra e equivocadamente, ainda que restem pouquíssimas construções em boas condições, esse tipo de chamariz turístico para a Capital.
 
Era uma vez um sonho de um estilo decorativo da burguesia europeia que se perdeu no meio do planalto central goianiense.
 
E pensando bem, temos outras opções, belezas naturais, espaços alternativos e belos exemplos, como restaurantes com temáticas "elegantemente rústicas": o Brioso & Manhoso e a Vila Cavalcare. O próprio Campus da UFG é um lugar propício e convidativo que acolhe uma reserva fantástica, assim como o Zoológico, que há tempos suplica por socorro.
 
Temos infinitas possibilidades, muito mais viáveis que acertam em cheio o turismo, do que discursos rasos e o pouco caso político com nosso pobre e querido Centro.
 
Mas não quero falar sobre política agora, esse assunto fica para o próximo artigo, afinal é Natal!
 
Feliz Natal e prósperos sonhos para o futuro!
 
Fotografia por Marcílio Lemos

*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais

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