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Andréa Luísa Teixeira

Hilda Furacão, a Ópera, o encantamento da música brasileira

| 12.11.24 - 15:36
Não há limites para o mundo da Ópera, um gênero artístico que engloba teatro, música, drama ou comédia. Solistas, coristas, cenário, figurino, direção de cena, um mundo artístico considerado privilegiado para quem consegue produzir. 
 
O Brasil tem uma rica tradição operística, lembrando que na cidade de Ouro Preto existe a Casa da Ópera de Vila Rica, hoje conhecida como Teatro Municipal de Ouro Preto, ou Casa da Ópera, que é o mais antigo teatro em funcionamento das Américas. Foi construído em 1769 e inaugurado em 1770, com grandes produções em sua história operística. Tivemos também um luso-brasileiro que fez história com suas óperas cômicas em Lisboa no século XVIII, António José da Silva, conhecido como “O Judeu”. Ressaltamos ainda o compositor brasileiro Carlos Gomes no século XIX que fez história no Scalla de Milão. Agora, em 2024, temos a Orquestra Ouro Preto com o Maestro Rodrigo Toffolo e a música de Tim Rescala, em uma emocionante estreia nos últimos dias 5 e 6 de novembro no Theatro Municipal de São Paulo com Hilda Furacão, a Ópera. 
 


(Foto: divulgação)
 
Hilda Furacão é uma ópera de Tim Rescala sobre a obra de Roberto Drummond com concepção do Maestro Rodrigo Toffolo, que segundo o Maestro, “conhecemos Carmem, Aída, Electra e Norma... no entanto, precisávamos de algo nosso, com o nosso sotaque, o nosso tempero, a nossa realidade, e com desafios que, embora universais, carregam particularidades aqui abaixo da linha do Equador.” E justamente sob esse olhar, nasceu Hilda Furacão, uma mulher que lutou bravamente pelos seus ideais em Belo Horizonte da década de 60. Ainda segundo o Maestro Toffolo, “Hilda tem tudo que a gente procura em um libreto, sob o ponto de vista operístico, para levar uma história para o palco. É rica nos conflitos, nas reflexões, na dramaturgia e nesse equilíbrio entre o drama e os momentos cômicos. Além disso, Hilda é uma personagem feminina muito importante da nossa literatura, que carrega fortes reflexões sobre liberdade, imposições sociais e sobre traçar seu próprio destino. Tudo isso faz dela uma protagonista perfeita para esse ciclo de óperas que a Orquestra Ouro Preto vem desenvolvendo”.
 
Tim Rescala é um talentoso multiartista. Sua produção musical é um estrondo, uma verdadeira máquina de composição eclética. Rescala, que também é ator, sabe emanar em sua veia poética, e muito bem, as entranhas entre o libreto e a música. Traz para Hilda Furacão ritmos brasileiros com o fervor e a doçura que a montagem exige. Sua música brilha por entre os personagens que tão bem a interpretam. 
 
Sobre a montagem de Hilda, o Maestro Toffolo acertou em um grande elenco: Carla Rizzi interpretou Hilda de uma forma muito especial, aliás, todo o elenco brilhou no palco do Municipal com direção de cena e direção de arte impecáveis de Julliano Mendes e Luiz Abreu, respectivamente. Grandes vozes brasileiras interpretam Hilda Furacão: Carla Rizzi (Hilda Furacão) possui especialização na Accademia Musicale Chigiana, em Siena. Foi solista em diversas óperas no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde integra o coro. Com voz potente de uma extensão vocal brilhante, deu corpo e voz à personagem principal majestosamente. O público do Theatro Municipal a aplaudiu veementemente; Fernando Portari (Roberto Drummond) é uma das mais conhecidas vozes do Brasil, sendo um cantor frequentemente convidado para se apresentar nos principais palcos do Brasil e da Europa, tendo cantado também no Scalla de Milão, dentre tantos outros. Fernando Portari, além de grande cantor, ilumina cenicamente sua atuação. Estudou na Alemanha e ganhou dentre vários prêmios, o de melhor cantor de ópera da APCA; Jabez Lima (Frei Malthus) vem se consolidando como uma das grandes promessas musicais do Brasil. Fica difícil descrever quando se ouve Jabez Lima. Sua voz, sua emoção são contaminadas por toda plateia. Já cantou em vários países e atualmente é integrante do coro da OSESP; Johnny França (Aramel/Porteiro) é vencedor do 12º e 14º Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas e do Concurso de Canto Linus Lerner em San Luis Potosi, México.  Formado pela Academia de Ópera do Theatro São Pedro e Ópera Studio EMESP, já cantou em diversos países. Sua voz é intensa e poderosa; Marília Vargas (Dona Loló Ventura/Madame Janete) é reconhecida como uma das vozes mais ativas e respeitadas sopranos de sua geração. Marília Vargas é ganhadora de vários prêmios e inúmeras gravações no Brasil e na Europa.  Estudou na Suíça e divide seu tempo entre a sua carreira de concertista, o ensino, onde dá aulas na Escola de Música do Estado de São Paulo, além de ser preparadora vocal do Coral Jovem do Estado, foi também a preparadora vocal do coro que se apresentou em Hilda Furacão. Além de projetar o coro de Hilda Furacão em seus devidos lugares de encantos com jovens excepcionais, Marilia Vargas possui o brilhantismo, a transparência e os afetos em sua voz; Marcelo Coutinho (Nelson Sarmento/Antônio Luciano) é Prof. de Canto da Escola de Música da UFRJ, estudou na Áustria e já solou com as principais orquestras no Brasil, América Latina e Europa. Sua voz é brilhante e precisa. 
 


(Foto: divulgação)
 
A Orquestra Ouro Preto seguiu à risca sua tradição de competência. Orquestra, solistas, coro, direção cênica e de arte, figurinos, cenários, tudo interveio genuinamente e magistralmente junto à direção artística do Maestro Rodrigo Toffolo. 
 
A vivacidade e a fascinação do elenco de  Hilda Furacão ainda ecoa em minha alma com  os traços do domínio profissional e amor com que tudo foi montado. A ópera agora segue para Belo Horizonte (21 e 22/11 no Palácio das Artes) e Rio de Janeiro (24 e 25/11 na Cidade das Artes). 
 
Não é a primeira vez que o Maestro Rodrigo Toffolo e a Orquestra Ouro Preto realizam uma montagem de ópera. Já fizeram outras e tem mais uma encomendada a caminho, que ainda é segredo. Que o Instituto Ouro Preto (que abarca a Orquestra Ouro Preto) continue a nos abrigar em momentos de embevecimento artístico, em temas tão importantes tanto sociais como culturais, que possamos elevar nossa alma sempre com boas produções como Hilda Furacão. Que esse pulsar cênico e musical possa atingir várias gerações. Salve a Ópera, salve a Música Brasileira!!!

Andréa Luísa Teixeira é multiinstrumentista, pianista e pesquisadora da EMAC-UFG. Investigadora-colaboradora da Universidade Nova de Lisboa. 

Comentários

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  • 13.11.2024 06:52 Euler Amorim

    Excelente artigo. Completo. Parabéns à autora e aos leitores que ganham com essa preciosidade.

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