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TATIANA POTRICH

Espaços visíveis

| 01.09.24 - 08:30

A literatura do escritor cubano Ítalo Calvino, criado em Veneza, Itália, é tão peculiar e admirável quanto a geografia e contexto histórico o qual pertenceu. Testemunha da Segunda Guerra Mundial, Calvino se vinculou e desvinculou do partido comunista, se ligou e desligou da corrente literária do neoliberalismo, aderiu ao estilo fantástico e onírico dos contos de fadas. Produziu um compêndio sobre estes contos, que eram transmitidos oralmente, "filtrando a cultura popular e a amalgamando numa linguagem erudita", como observou o doutor em Letras pela USP, Sérgio Mauro. 
 
Essa impermanência de idealismos políticos e estilos são características intrínseca da humanidade. As memórias, os sonhos, os desejos escusos, o medo e a morte permeiam entre as relações humanas, a construção de espaços arquitetônicos, cujas sensações são descritas no livro "Cidades Invisíveis", publicado em 1972, num diálogo fabuloso entre os personagens Marco Polo, um aventureiro italiano e o imperador mongol Kublai Khan.
 
As 55 cidades narradas pelo viajante tem propositalmente nomes de mulheres, que romantiza seu relato e acolhe um certo grau de complexidade, mistério, sedução, dualidade e afetividade.
 
Curiosamente, o arquiteto e artista Ricardo Masi será o único representante do gênero masculino em nossa mostra "Barro Contemporâneo" (dias 12 e 13 de setembro) e sua produção é inspirada na poética obra de Calvino, de onde ele se nutre e, consequentemente, enaltece e sensibiliza o trabalho rústico e manual, no trato e tato do barro, com seu sofisticado olhar de artista, que engaja e agrega a literatura à artesania da cerâmica.
 
"Cidades Invisíveis" remonta contos, fábulas e histórias incríveis e as relacionam com uma filosofia "de ponta", nos conduzindo a verdades e sonhos possíveis, tão vulneráveis quanto eternos.
 
A seguir trecho final do livro como um spoiler: (e, para quem ainda não leu e quer se deliciar com sua leitura e seus mistérios, pare por aqui)
 
"O inferno dos vivos não é aquele que será. Se existe, é o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos
Existem duas maneiras de não sofrer:
 
A primeira é fácil para a maioria das pessoas. Aceitar o inferno e tornar se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo.
A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizado constantes. Tentar saber reconhecer quem e o que no meio do inferno não é inferno e preservá-lo e abrir espaço. Espaço para criar, cooperar, apoiar reciprocamente."
 
Nosso Jardim é um espaço visível para sonhar e realizar projetos invisíveis. Vem vindo o "Barro Contemporâneo - mostra de design e arte popular". Aguardem! Esperaremos vocês em breve!

 
 "Anicca 5", Série Impermanência, cerâmica, 16 x 11 x 23 cm, 
Ricardo Masi
 
 "Anicca 2", Ricardo Masi
 
 
*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais

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