Uma das características mais marcantes das noivas, independentemente da época, com certeza é o vestido. Toda atmosfera em torno dos rituais, das simpatias, da prova da roupa, dos mistérios do rito e dos segredos debaixo das 'sete' saias torna tudo muito mais interessante do que realmente é.
O noivo não pode ver a noiva pronta antes da cerimônia, o vestido tem que 'entrar' perfeito no corpo, a barriga não pode aparecer de jeito nenhum, o branco tem que ser o off white completo.
A mística deste vestuário vem desde os tempos longínquos, embora tenha sido a Rainha Vitória da Inglaterra, em 1840, quem bateu o martelo sobre o tão sagrado branco, a cor unanime entre as virgens de plantão, ou não!
A partir daí, a moda pegou e caiu no gosto popular. Seja pela pureza, idolatria ou hipocrisia das puras, ou não puras, virgens ou prenhas, que se casam por vontade, por coragem, ou por necessidade, em verdade é: "seja tudo pelo amor que Deus quiser".
Inspirada nas grandes festas da aristocracia francesa, a quadrilha, do francês quadrille (quatro), cujos dois pares de casais se alternavam nas danças de salões, ganhou sua versão democrática, endossada pela Igreja Católica, para comemoração aos santos padroeiros. A dança também caiu no gosto popular e foi, posteriormente, manifestada nas festas juninas, comemoradas impreterivelmente no mês de junho.
Fora dos palacetes aristocráticos, a festa ganhou mais rigor, humor, personalidade e ritmo. Reconhecida como patrimônio cultural imaterial, as festas juninas contam a história brasileira na culinária, na musicalidade, nas coreografias e nas vestimentas.
Ora nos remendos, ora na excessiva estamparia, nos babados e nas rendas, nos adornos ou lamentos sertanejos, o cerne do festejo conta sobre
o casamento arranjado,
a noiva grávida,
o pai desonrado,
a cerimônia escrachada,
o noivo acuado,
o padre alterado,
a plateia debochada
Querendo, ou não, a paródia desta festa caipira representa muito bem a sociedade dos tempos longínquos à atualidade.
Casais aparentemente felizes, famílias de bem, famílias de mal, sadismo social, remendos, babados e a cafonice que anda solta nas redes sociais são só algumas das características que persistem em existir nas altas e baixas esferas das bolhas culturais.
Como já cantava Rita Lee:
"Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar, estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura, porque
Tá cada vez mais down the high society"
Casamento nada convencional: noiva grávida, Tatiana Potrich de bata adquirida em brechó e calça transpassada sob medida da marca goiana Caligrafia, em 2007
Os noivos mais queridos da extrema esquerda e os noivos mais queridos da extrema direita:
Casamento do plebeu viúvo com a socióloga, cujo vestido de noiva encomendado às bordadeiras do nordeste brasileiro foi avaliado em R$ 5 mil
Melanie Trump com vestido de noiva da Dior, avaliado em U$ 2 milhões, desenhado pelo estilista John Galliano que acaba de ganhar um documentário na PrimeVideo, "Ascensão e Queda" (2024)
É, marcianos, uma coisa, nós terráqueos temos de admitir, o 'rastapé' no high society fica cada vez mais down, quando noivos aristocratas ficam cada vez mais up!
*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais