O último dia 2 de abril assinalou os 114 anos de nascimento de Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido por Chico Xavier. Segundo Jávier Godinho, importante e saudoso nome do jornalismo goiano, quem melhor registrou profissionalmente a biografia do médium mineiro foi o também jornalista Marcel Souto Maior em sua obra “As Vidas de Chico Xavier”. Outros biógrafos de Xavier, como o seu confrade Geraldo Lemos Neto, também registram fatos surpreendentes sobre o universo paranormal do líder espírita.
Conforme Lemos Neto, Chico Xavier tinha grande fascínio por uma série específica da tv norte-americana, “Jornada nas Estrelas” ou “Star Trek”, que posteriormente ganhou os cinemas. Nesse seriado que teve origem nos anos 60 do século passado, o espectador acompanha a saga da humanidade de séculos no futuro que explora as estrelas em jornadas de conhecimento científico a bordo de naves interestelares que vão “aonde ninguém jamais esteve” em busca de novas civilizações. Geraldo Lemos afirma que o médium lhe dizia que a série é muito mais próxima da realidade do que a princípio todos supõem, sendo uma peça artística de inspiração mediúnica.
Numa das ramificações dessa obra de ficção científica criada por Gene Roddenberry, intitulada “Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine”, exibida entre os anos de 1993 e 1999, os roteiristas Ira Steven Behr e Robert Hewitt Wolfe concebem uma história bem singular de viagem no tempo. Nos episódios 11 e 12 da terceira temporada, intitulado “Past Tense” (Passado Imperfeito), tem-se a trama que se desenvolve em torno da falha em um equipamento de teletransporte, quando três tripulantes são acidentalmente transportados do século 23 para o ano de 2024.
Numa metrópole norte-americana, São Francisco, em convulsão social por conta do desemprego em massa, repleta de bairros com distúrbios que lembram a cracolândia paulistana, os tripulantes do futuro se veem imersos num momento histórico que foi decisivo para o porvir humano. Os desempregos ocorrem por conta de uma tecnologia nova que elimina postos de trabalho. Neste contexto, não há como deixar de pensar no momento atual e a crescente preocupação gerada com o advento da Inteligência Artificial, que já começa a eliminar postos de trabalho mundo afora.
No conjunto da obra, “Jornada nas Estrelas” guarda instigante singularidade no tempo e no espaço com o imaginário que se desenvolve em torno de Chico Xavier. Na série original dos anos 1960, produzida por Roddenberry, a nave terrena Enterprise se vê às voltas com disputas tribais no planeta Capela IV, que orbita a estrela Capela, na Constelação do Cocheiro. Em “A Caminho da Luz”, livro psicografado por Chico Xavier em 1939, a trama se desenrola em torno de um grupo de espíritos que habitariam um suposto planeta em órbita de Capela.
Ao ser questionado sobre a inexistência de mundos naquela região sideral, conforme constata a ciência moderna, Xavier teria respondido que a matéria existe em estados desconhecidos do cientificismo atual. Em recente artigo científico, astrônomos afirmam que muitos planetas podem ainda não ter sido encontrados por serem formados de matéria escura, cuja constituição material ainda é desconhecida em sua essência, conforme pode ser constatado no
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Se acerca da existência de mundos orbitando Capela ainda paira dúvidas sobre a assertividade do médium mineiro, o mesmo não se pode afirmar sobre a sua fala acerca de água na lua há meio século. Em 1971, no “Programa Pinga Fogo” da TV Tupi
link, Chico Xavier afirmou que se a humanidade não entrasse numa guerra de extermínio nuclear nos próximos cinquenta anos, ou seja, até 2019, a humanidade colonizaria a lua e a água seria fornecida pelo próprio satélite da Terra. Nos últimos anos, as notícias sobre água na lua têm sido surpreendentes, confirmando a fala de Chico Xavier sobre a possível colonização do satélite natural da Terra. A mais recente informação é de 2024 e dá conta de que o solo lunar conteria 600 milhões de toneladas de litros de água, o que seria promissor para o futuro em termos de colonização:
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Neste contexto, pois, o presente ano de 2024 vai configurando-se como uma espécie de singularidade de convergência de viagem no tempo a partir do imaginário da ficção e do imaginário da religiosidade espírita, através do roteiro de “Star Trek” e da mediunidade de Chico Xavier. Nos anos 90, os roteiristas da série televisiva se projetaram para o século 23, de onde se projetaram novamente até o ano de 2024, o seu futuro, antecipando uma realidade que vai confirmando-se.
No ano de 1971, o médium e líder espírita se projetou ao futuro, pontificando com uma certeza temerária naquele momento sobre a existência de água no solo lunar. Ambos, roteirista e médium, utilizaram-se em suas abordagens da fantástica máquina do tempo que a humanidade já possui a sua disposição: a mente humana, com seus mistérios que desafiam a cultura em todas as direções.
*Gismair Martins Teixeira - Doutor em Letras; com Pós-Doutorado em Ciências da Religião.