Levar informação de qualidade e credibilidade para a população se tornou algo cada vez mais dispendioso. É que com o acesso facilitado às tecnologias, qualquer pessoa é capaz de produzir conteúdo e compartilhar em diferentes meios de comunicação. Em vários casos, o resultado disso é a divulgação de informações falsas, conhecidas como ‘fake news’. Sem checagem e apuração, essas notícias se espalham de forma rápida e desproporcional, alimentando um fluxo de desinformação que é perigoso para a sociedade. Para se ter uma ideia, segundo pesquisa publicada em agosto de 2022 pela Poynter Institute, com apoio do Google, quatro de cada dez brasileiros informaram que recebem fake news todos os dias.
Hoje, com a cultura do imediatismo e a informação rápida ali na palma da mão, por meio de celular e grupos de WhatsApp, é fundamental adotar estratégias para competir com os conteúdos enganosos que chegam a todo momento. Por isso a importância do jornalismo sério, que é criterioso no processo de levantamento, apuração e checagem de dados. O jornalista sabe bem que não é simplesmente ouvir boatos de redes instantâneas e repassar a notícia adiante. É necessário checar, duvidar se aquilo foi mesmo dito, comparar e avaliar se tudo está correto para só assim divulgar determinada informação que possa alcançar o maior número de pessoas possíveis.
Um setor que comumente é vítima de publicação de dados errados – e até fake news - é o agronegócio. O segmento possui suas particularidades, como palavras, termos, números e conteúdo específicos, que às vezes causam confusão até mesmo para os profissionais de imprensa e demandam um mínimo de entendimento para que a notícia seja trabalhada de forma correta. Um exemplo é o do Valor Bruto de Produção, chamado de VBP, cujos dados são divulgados com frequência pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Existem casos de notícias publicadas em veículos de comunicação que relacionavam o VBP da Agricultura a apenas o crescimento da produção de certa cultura agrícola.
O Valor Bruto de Produção é mais que isso, trata-se da evolução do desempenho da lavoura ao longo do ano e corresponde ao faturamento bruto dentro do estabelecimento rural. Não é apenas crescimento de produção; é algo que envolve preços recebidos também. Então, ao noticiar sobre o tema é essencial apurar, ouvir fontes e conhecer o significado antes. Enfim, fazer o que rege o manual jornalístico.
Situações como essa também mostram a relevância de ter uma fonte fidedigna para compartilhamento de números e estatísticas, que seja aliada no processo de checagem de dados e informações. As entidades do agro reconhecem que ninguém é obrigado a saber de tudo - até porque existem as especificidades do setor -, por isso elas têm, além de disponibilizado especialistas para tirar dúvidas, criado mecanismos e plataformas de acesso ao conteúdo do segmento, facilitando o trabalho do profissional de imprensa. É o caso do Agro em Dados, publicação mensal da Seapa que traz recortes e números de várias atividades agrícolas e pecuárias. O conteúdo é trabalhado de forma clara e objetiva, permitindo fácil entendimento sobre cada área da agropecuária.
A relação entre a fonte da informação e o trabalho de comunicar evoluiu bastante ao longo dos anos no agronegócio e deve passar por mudanças nas próximas décadas, porque depende de vários fatores, inclusive da inovação tecnológica. Mas é uma parceria importante, que se desenvolvida da forma correta, ajuda a evitar a propagação de notícias erradas e falsas, possibilitando conteúdos confiáveis e que possam fortalecer o segmento cada vez mais.
Fernando Dantas é chefe de Comunicação Setorial da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa)