Pedro Ludovico Teixeira não foi apenas o fundador de Goiânia. Foi um visionário, estadista, médico e humanista que ousou enfrentar o coronelismo da antiga capital Vila Boa, transferindo a sede do poder goiano para uma nova cidade planejada, moderna, com base em critérios topográficos, geográficos e políticos. Sua trajetória foi decisiva para transformar Goiás em um estado contemporâneo e para viabilizar a própria construção de Brasília, ao lado de seu amigo Juscelino Kubitschek.
Hoje, porém, a memória de Pedro Ludovico — e de toda uma geração de pioneiros — sofre com o mais cruel dos abandonos: o esquecimento institucional.
O jazigo de Pedro Ludovico Teixeira e de sua esposa, Dona Gercina Borges, no Cemitério Santana, encontra-se em estado de ruína, abandono e depredação. O que deveria ser um espaço de respeito e reverência histórica foi entregue ao mato alto, à deterioração e ao vandalismo. Peças artísticas do túmulo foram furtadas, estruturas estão se desfazendo, e o local sofre com o total descaso das autoridades públicas.
O Cemitério Santana é um bem tombado como patrimônio cultural e histórico de Goiânia desde 2005, assim como o próprio túmulo do fundador. Mesmo assim, o Governo Municipal e o Governo Estadual vêm, há anos, fazendo vista grossa diante do abandono e da depredação desse patrimônio coletivo. Infelizmente, chegamos a um ponto em que a omissão é tamanha que não nos resta outra alternativa como família, senão buscar a transferência dos restos mortais de Pedro Ludovico e de Dona Gercina para o Museu Pedro Ludovico, onde seu legado já é preservado por meio de documentos, objetos e arquivos.
A intenção é construir ali um memorial, uma cripta digna, segura e acessível ao público — para que, se não houve respeito em vida e nem no espaço do cemitério, ao menos haja dignidade em seu descanso.
Há exemplos nobres dessa prática: o ex-presidente Juscelino Kubitschek, parceiro de Pedro Ludovico na luta pela modernização do Brasil, teve seus restos mortais trasladados para o Memorial JK, em Brasília, onde repousam sob reverência nacional. O mesmo deve ser feito por Goiânia com seu fundador.
O que estamos pedindo não é um gesto privado, mas um clamor público em defesa da memória, da história e da dignidade daqueles que construíram esta cidade com coragem e visão de futuro. A atual situação do jazigo é inaceitável. A omissão do poder público é inaceitável. A história de Goiânia não pode continuar sendo enterrada pelo descaso.
Estamos iniciando os trâmites legais junto à Secretaria de Cultura, ao COMPAC e ao Ministério Público. E tornamos este pedido público, em nome da memória, da justiça histórica e do mínimo de respeito.
Pedro Ludovico merece repousar em paz. Goiânia deve isso a ele.
*Anna Márcia Borges Teixeira é neta de Pedro Ludovico Teixeira.