A Redação
Goiânia - Embora os sintomas típicos em pessoas infectadas pelo novo coronavírus sejam febre e deficiência respiratória, estudos recentes mostram que uma parte significativa dos pacientes também apresenta sintomas gastrointestinais como diarréia, vômitos e dores abdominais. Para o médico gastroenterologista e presidente da Sociedade Goiana de Gastroenterologia, Luiz Henrique de Sousa Filho, esses resultados acendem um alerta importante em relação ao risco de infecção da doença.
Embora as pesquisas ainda estejam em curso, uma avaliação feita com pacientes em Wuhan, epicentro do surto na China, aponta que quase 40% dos pacientes tiveram reflexos no trato digestivo. Além disso, o especialista ressalta que pessoas contaminadas apresentaram danos em órgãos. “Os sintomas mais frequentes são diarréia e náuseas, mas pode acontecer também discreta elevação das enzimas hepáticas. Isso significa uma lesão do fígado, uma espécie de hepatite discreta causada pelo coronavírus”, alerta.
De acordo com os resultados encontrados em testes sanguíneos, embora a maioria dessas lesões seja considerada leve e passageira, é possível que alguns casos registrem danos severos. Vale lembrar ainda que, embora pessoas com mais de 60 anos componham um dos principais grupos de risco, dados mostram que esses efeitos da doença também foram observados em crianças.
Risco de contágio
Outro ponto reforçado pelo médico é o elevado risco de contágio e seu impacto sobre tratamentos endoscópicos. Os estudos apontam para traços do agente viral nas fezes de pessoas contaminadas, bem como em células do trato gastrointestinal. Isso sugere que o novo coronavírus pode se reproduzir nesse ambiente, gerando implicações relevantes para o controle da doença, bem como da transmissão.
Nesses estudos, o vírus foi encontrado nesses órgãos mesmo depois do fim dos sintomas clínicos e do material das vias respiratórias dos pacientes apresentar resultados negativos. Diante disso, algumas ações drásticas foram tomadas. “A princípio, os procedimentos endoscópicos eletivos estão suspensos. Só estão sendo realizados procedimentos de urgência ou emergência com todos os EPIs usados pelo profissional que está realizando o exame”, afirma.
Tratamentos afetados
Dentre os atendimentos que não podem ser adiados, o médico aponta a hemorragia digestiva, suspeitas de tumor, câncer do trato digestivo ou mesmo o tratamento endoscópico dos cânceres em fase avançada. “Nesse caso é possível oferecer uma melhora da qualidade de vida através de procedimentos endoscópicos”, pontua. Já intervenções como a colocação de balão intragástrico, tratamento de obesidade por via endoscópica e exames para diagnóstico de refluxo ou gastrite não estão sendo realizados justamente pelo risco de contaminação.
Essas alterações, tanto de políticas clínicas acerca do diagnóstico e combate do coronavírus como da realização de procedimentos, acompanham as medidas que vem sendo adotadas pela Câmara Técnica de Endoscopia do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego).