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Mudança de partido

Deputados estaduais se articulam para janela partidária de 2026

Estratégias integram debate pré-eleitoral | 02.11.25 - 08:00 Deputados estaduais se articulam para janela partidária de 2026 (Foto: Assembleia Legislativa)
Samuel Straioto
 
Goiânia - A janela partidária que antecede as eleições de 2026 já movimenta o tabuleiro político em Goiás. Deputados estaduais e lideranças regionais conduzem negociações discretas para garantir presença em chapas competitivas e preservar mandatos. A corrida por legendas que ofereçam estrutura, tempo de rádio e capacidade de formar nominatas viáveis acelera acordos, ao mesmo tempo em que aprofunda incertezas sobre a composição da base governista.
 
Com alta concentração de candidatos e possibilidade de disputa acirrada entre nomes fortes, as legendas fazem contas para distribuir vagas, tempo de TV e espaço eleitoral. A reconfiguração de federações e a emergência de novas siglas tornam o cenário mais fluido. Deputados tentam avaliar riscos eleitorais e opções táticas antes do prazo final de filiação, que ocorre seis meses antes do pleito — a janela partidária ocorre 30 dias antes desse término, tipicamente em março do ano eleitoral.
 
Bastidores de uma corrida antecipada
Nos bastidores da Assembleia Legislativa de Goiás, as negociações ganharam intensidade desde o recesso. Lideranças partidárias começaram a mapear afinidades e potencial de voto. A montagem das chapas proporcionais transformou-se em questão central: a aritmética eleitoral exige que legendas equilibrem nomes de peso com candidatos capazes de atingir o quociente e garantir sobras.
 
A presença de emendas impositivas e a visibilidade institucional ampliada nos últimos anos tornaram o assento parlamentar ainda mais cobiçado. As articulações envolvem não apenas a disputa por vagas, mas também negociação por espaços regionais, apoio de lideranças municipais e repartição de recursos de campanha nos diretórios estaduais.
 
Dentro da base governista, a expectativa é de que MDB, União Brasil e PP concentrem a maioria das adesões dos deputados aliados. A percepção compartilhada entre parlamentares é a de que a saturação de "nomes fortes" em poucas chapas pode deslocar expoentes para legendas menores, em busca de nominatas menos competitivas.
 
Grupos oposicionistas observam e sondam oportunidades para atrair dissidentes e formar blocos capazes de ampliar a representação na Alego. A dinâmica de troca não é apenas administrativa: trata-se de leitura estratégica sobre como transformar votações pessoais em vantagem proporcional.
 
Estratégias individuais e coletivas
A estratégia de cada deputado passa por avaliação de três variáveis: base eleitoral local, afinidade com lideranças partidárias e competitividade da nominata. Deputados com votação robusta tendem a assegurar espaço em chapas "pesadas", mas esses nomes elevam o risco de acirramento ao concentrar votos no mesmo grupo eleitoral. Parlamentares com base dispersa buscam legendas que ofereçam chapas equilibradas e prioridade em zonas eleitorais favoráveis.
 
Surgem táticas distintas: alguns optam por permanecer na legenda de origem e trabalhar costuras internas; outros preferem migrar antecipadamente para siglas menores que ofereçam garantias de inserção na lista; há ainda os que ensaiam coligações regionais para maximizar sobras e quocientes.
 
No plano coletivo, federações e partidos maiores avaliam se devem priorizar manutenção de cacifes eleitorais ou abrir espaço para novos aliados que ampliem presença territorial. A recente rearticulação partidária nacional adicionou incerteza: novas siglas surgem como alternativa para parlamentares que não encontrarem espaço nas estruturas tradicionais.
 
Alternativas
O deputado Gugu Nader, ainda filiado ao Avante, anunciou sua nomeação como vice-presidente estadual do Democratas 35, sigla que sucede o Partido da Mulher Brasileira (PMB). O partido será presidido por Ricardo Fortunato, ex-prefeito de Trindade, e pretende disputar 2026 com foco em parlamentares de votação intermediária.
 
“Vamos convidar os mais competitivos, que tiveram até 25 mil votos na eleição passada. A nossa chapa vai ser chamada de 'a chapinha' do Estado de Goiás, garantindo que não haverá rasteiras”, declarou Nader. A legenda já conta com 28 pré-candidatos e projeta eleger pelo menos quatro deputados estaduais.
 
“A ideia é abrir as portas para quem tem base, trabalho e potencial eleitoral, mas não necessariamente grandes estruturas ou altos índices de votação”, explicou. O partido se posiciona como alternativa para lideranças regionais com eleitorado consolidado, mas que enfrentam dificuldades em legendas tradicionais.
 
Reeleição e cenário competitivo
Os números tornam palpável a pressão por vagas: 38 dos 41 deputados da atual legislatura trabalham pela recondução em 2026, índice que supera com folga as tentativas de 2022. Esse quadro amplia a competição interna e reduz a margem de acomodação política. A concentração de pretendentes força decisões rápidas sobre quem terá prioridade nas chapas das federações.
 
Apenas três parlamentares projetam migração para a esfera federal: Lucas Calil (MDB), Ricardo Quirino (Republicanos) e o presidente da Alego, Bruno Peixoto (União Brasil). Calil e Peixoto devem compor a mesma chapa, com perspectiva de filiação ao Solidariedade e ao PRD — siglas que formaram federação em junho e seguirão juntas até 2030. Quirino assumirá as bases do deputado federal Jefferson Rodrigues (Republicanos), que não retornará à disputa por decisão do grupo ligado à Igreja Universal.
 
Cada chapa a deputado estadual pode lançar até 42 nomes, mas o número é o mesmo aplicado às federações, que devem decidir como a lista será formada. O jogo é mais difícil para quem é deputado da base, não por desgaste, mas porque a base é mais numerosa e existe uma disputa maior que pode promover uma mudança na cadeira, considera Lincoln Tejota (União Brasil).
 
Memória recente como guia
A memória do pleito anterior serve como referência. Em 2022, a janela partidária foi amplamente utilizada por deputados goianos: 28 das 41 cadeiras mudaram de legenda no período permitido. Dos 30 parlamentares que disputaram a reeleição, 20 foram reconduzidos. Aquela experiência mostrou que a migração pode ampliar chances individuais sem desorganizar alianças, se bem gerida.
 
Para 2026, entretanto, a convergência de federações, novas legendas e maior número de postulantes eleva a complexidade. A fidelidade partidária mantém respaldo jurídico, mas a lógica de sobrevivência política orienta opções que frequentemente contrariam laços formais de lealdade. A janela transforma-se menos em ritual de ruptura e mais em mecanismo de ajuste das correlações eleitorais.
 
A fala mais direta sobre o tema veio do presidente da Alego, Bruno Peixoto, que afirmou que consultará o governador antes de decidir sobre permanência partidária. “Vou conversar com o governador Ronaldo Caiado. Então, só no próximo ano, vou decidir se permaneço no União Brasil ou mudo de partido”, declarou, sinalizando que alinhamentos estratégicos no Executivo têm peso significativo nas decisões individuais.
 
A janela partidária de 2026 representa uma prova de engenharia política. As legendas que conseguirem equilibrar chapas competitivas, acomodar lideranças regionais e oferecer condições logísticas e financeiras de campanha tendem a sair fortalecidas. Para os deputados, o acerto de uma filiação pode significar continuidade do mandato; o erro, a exclusão da disputa. No conjunto, as movimentações antecipadas apontam para um pleito mais fragmentado e para a necessidade de costuras refinadas entre estrutura partidária e capacidade de mobilização local.

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