A Redação
Goiânia - Preparando-se para participar da COP30, em Belém, no próximo mês, o grupo Embaixadores do Meia Ponte inicia nesta semana a entrega da Carta da Juventude em Defesa do Rio Meia Ponte e da Justiça Climática em Goiás. O projeto do Instituto Ecomamor, formado por 15 membros com idades entre 20 e 34 anos, irá entregar o documento para o governo estadual, a prefeitura da capital, deputados estaduais, deputados federais de Goiás e vereadores de Goiânia.
O objetivo da Carta da Juventude é demandar a criação de políticas públicas visando o estabelecimento e o financiamento de um programa para a recuperação socioambiental do rio Meia Ponte. Para os Embaixadores, esse trabalho deve ser feito visando a adaptação às mudanças climáticas, a garantia de justiça socioambiental e o fortalecimento comunitário.
Organizadas em dez tópicos, as reivindicações do documento incluem a recuperação das nascentes e das áreas de preservação permanente às margens do rio Meia Ponte; o aprimoramento das condições de saneamento e tratamento de esgoto lançado no curso d’água, que abastece metade da população do Estado; e a criação de parques lineares, que priorizem as comunidades mais vulneráveis.
“A responsabilidade do poder público sobre a atual situação do rio Meia Ponte está na fiscalização precária sobre os despejos irregulares de esgoto industrial e doméstico, na falta de políticas públicas que visem recuperar a qualidade da água e as matas ciliares e na população que sofre as consequências do descaso público”, afirma a médica veterinária Ana Carolline dos Santos, 33, que mora no setor Goiânia II e atua como representante dos Embaixadores.
O rio Meia Ponte nasce no município de Itauçu e, em todo o seu percurso, sofre com poluição, assoreamento, despejo de efluentes e falta de gestão pública. Embora de suma importância para o abastecimento dos habitantes da Região Metropolitana de Goiânia, padece de “invisibilização social e política”.
Na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, 12 pessoas, entre representantes do Instituto EcomAmor e embaixadoras do Meia Ponte, irão integrar uma comitiva para representar o Cerrrado e a defesa das águas do Cerrado, participando de diálogos e mobilizações que levem as vozes das juventudes e das comunidades locais para o centro das discussões climáticas.
Fruto da iniciativa Abrace o Meia Ponte, criada pela vereadora de Goiânia Kátia Maria, o trabalho dos Embaixadores do Meia Ponte é realizado em parceria com a Prefeitura de Goiânia e conta com apoio do Fundo Casa Socioambiental.
Confira íntegra da Carta
"Nós, membros do projeto Embaixadores do Rio Meia Ponte, realizado pela organização da sociedade civil Instituto EcomAmor, representamos a juventude goiana que luta pelos direitos do Rio Meia Ponte e exigimos ações urgentes, diante da crise climática que ameaça o Cerrado e suas águas. O projeto é fruto da iniciativa Abrace o Meia Ponte, criada pela vereadora de Goiânia Kátia Maria.
Reivindicamos que o Governo do Estado de Goiás, a Prefeitura Municipal de Goiânia, a Assembleia Legislativa de Goiás e a Câmara Municipal de Goiânia estabeleçam e trabalhem por políticas públicas visando a criação e o financiamento de um Programa Integrado de Recuperação Socioambiental do Rio Meia Ponte, com foco em adaptação climática, justiça socioambiental e fortalecimento comunitário.
Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental
O desequilíbrio entre o desenvolvimento humano e a conservação ambiental tem levado a uma intensa degradação dos ecossistemas. O Cerrado, bioma considerado berço das águas do Brasil, já perdeu cerca de 40% de sua vegetação original. O desmatamento e as mudanças climáticas provocam aumento das temperaturas, redução da vazão dos rios e perda de biodiversidade.
Em Goiás, apenas 35% da vegetação nativa ainda resiste, e o Rio Meia Ponte, que nasce em Itauçu e abastece metade da população goiana, sofre com poluição, assoreamento, despejo de efluentes e falta de gestão pública. Sua invisibilização social e política agrava a crise e limita ações de recuperação. Com isso demandamos:
- Políticas com foco em adaptação climática, perdas e danos e segurança hídrica;
- Recuperação das nascentes e áreas de preservação permanente, com ações de reflorestamento e proteção das matas ciliares;
- Fiscalização rigorosa e controle de efluentes e resíduos sólidos lançados no rio e em seus afluentes;
- Integração de políticas públicas de clima, meio ambiente e desenvolvimento urbano, com foco em refúgios climáticos, criação de corredores ecológicos e parques lineares, priorizando as comunidades vulneráveis.
Saneamento e Gestão de Resíduos
As mudanças climáticas e ambientais atingem de forma desigual as populações mais vulneráveis, especialmente as que vivem próximas ao rio e sem acesso a serviços básicos. A crise hídrica e climática também é uma crise urbana e social.
Segundo estudo realizado pelo Instituto Federal de Goiás (2024), apenas 13,41% dos municípios goianos possuem Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) e/ou Planos Municipais de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (PMGIRS), que são atualmente a principal ferramenta de gestão pública acerca do manejo de resíduos sólidos urbanos (RSU). O índice aponta graves lacunas e a falta de políticas públicas pertinentes ao tema, tanto nas esferas municipais quanto estaduais.
Na Vila Roriz, que margeia o Rio Meia Ponte na capital goiana, falta saneamento básico, rede de esgoto e coleta e tratamento de resíduos. Assim, apontamos a urgência das seguintes ações:
- Investimentos em saneamento básico, habitação e infraestrutura para as comunidades periféricas;
- Incentivo a ações comunitárias sustentáveis, como hortas urbanas, cooperativas de reciclagem e compostagem de resíduos orgânicos;
- Estímulo à economia circular, com reaproveitamento de materiais e reutilização criativa de resíduos recicláveis;
- Trabalho conjunto entre o poder público e as comunidades, a fim de criar soluções participativas, de forma contínua.
Participação Social e Incidência Política
Urge fortalecer o protagonismo das comunidades e promover a inclusão da população nas decisões sobre o território e os recursos hídricos, fortalecendo, assim, seu sentimento de pertencimento e seu vínculo com o rio. Por isso, propomos:
- Realização de projetos de Educação Ambiental e de Saberes Tradicionais;
- Criação de espaços que garantam a participação ativa da sociedade nas políticas públicas voltadas para o rio, com transparência e controle social das ações voltadas à revitalização do Meia Ponte.
Erguemos este manifesto coletivo para somar forças pela proteção do Cerrado e de suas águas.
Recuperar o Rio Meia Ponte é mais do que uma ação ambiental, é um ato de justiça climática, cidadania e amor pelo território.
O Cerrado é nosso. O Rio e as Águas são vida. Vamos proteger quem nos mantém vivos.
Pelo Cerrado, pelos Rios, pelas Águas, pela Vida.
Embaixadores do Rio Meia Ponte"