Samuel Straioto
Goiânia - A possível mudança partidária do governador Ronaldo Caiado (União) deixou de ser apenas especulação e já domina as conversas entre deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). O tema movimenta os bastidores da política, antecipa disputas por espaço nas chapas proporcionais e provoca cálculos internos na base governista.

Governador Ronaldo Caiado (Foto: divulgação)
A mobilização dos deputados ocorre em meio às articulações do governador com outras legendas para viabilizar sua pré-candidatura à Presidência da República. As conversas com o Podemos, Solidariedade e outros partidos têm gerado incertezas sobre a composição das chapas estaduais.
O deputado estadual Lincoln Tejota, líder do União Brasil na Alego, reconhece que uma eventual saída do governador traria impactos diretos sobre a estrutura partidária. “O governador é o principal expoente do União Brasil em Goiás. A saída dele tende a esvaziar o partido no Estado. O peso político de Caiado é muito grande, e é natural que esse movimento provoque reacomodações”, afirmou Tejota.
O parlamentar destacou que o diálogo é fundamental para tomar a decisão mais adequada. “Vamos buscar esse diálogo direto com o Palácio das Esmeraldas. Há tempo até a janela partidária, e não tomaremos decisões precipitadas. O importante é compreender as perspectivas do governador antes de qualquer movimento”, disse.
Articulação
O deputado Virmondes Cruvinel defende que a bancada precisa ouvir diretamente do governador e seu vice, Daniel Vilela (MDB), quais são os planos para a formação das chapas. "O primeiro passo é o diálogo e, por isso, eu sugeri justamente a possibilidade de uma reunião da bancada de deputados com o próprio governador e com a dona Gracinha, que se apresenta como postulante ao Senado com todo o nosso apoio", disse.
O deputado reforça a necessidade de direcionamentos claros além do que circula na imprensa. "Ouvir deles, porque o que vemos é o noticiado pela imprensa. Defendemos sim a possibilidade de candidatura nacional do governador, mas é preciso ter essa oitiva sobre qual é o sentimento e qual é o caminho", solicitou.
Alternativas
Enquanto aguardam posicionamento de Caiado, deputados já avaliam alternativas caso a saída do governador do UB se confirme. Cruvinel revela que parlamentares buscam diálogo com o vice-governador Daniel Vilela, presidente estadual do MDB, para eventual filiação.
A desidratação do UB em Goiás não afetaria apenas a bancada estadual. Três deputados federais da sigla também já manifestam insatisfações internas e podem acompanhar Caiado em eventual mudança, além de prefeitos e lideranças municipais. A janela partidária ocorrerá entre 4 de março e 4 de abril de 2026. É nesse intervalo que as movimentações devem se concretizar
Estratégia
Talles Barreto, líder do governo na Alego, coloca a responsabilidade pela montagem de chapas competitivas nas mãos do governador e do vice-governador. "Quem comanda esse processo se chama Ronaldo Ramos Caiado. Não tenho dúvidas de que, o que ele definir, nós vamos caminhar junto com ele. Seja no União Brasil ou em outro partido", afirmou.
Barreto demonstra confiança na capacidade de articulação da dupla. "Sinceramente, não me preocupo com essa formação de chapas, porque o governador e o Daniel têm a responsabilidade de montar a chapa. Evidentemente, a gente vai fazer uma avaliação em conjunto, mas isso não me preocupa", completou.
O líder governista destaca que a definição sobre quem permanece e quem migra será crucial para as estratégias eleitorais. "Vamos fazer a reunião, mas é importante saber quem vai ficar ou não. Esse é um critério, além de fazer as contas", pontua.
Conversas
Caiado tem mantido conversas com dirigentes nacionais de diferentes partidos. Além do Podemos, o governador dialoga com o Solidariedade e já recebeu convites do Republicanos e do Avante. A possibilidade de mudança é aventada desde abril, quando lançou sua pré-candidatura ao Planalto em grande evento em Salvador.
O distanciamento com a federação União Brasil-PP ganhou força após desentendimentos públicos com o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, que não incluiu a candidatura de Caiado como caminho possível para a federação em 2026.
A reunião da bancada do UB com Caiado, se confirmada, deve fornecer aos deputados as diretrizes necessárias para as decisões que precisarão tomar durante a janela partidária. O objetivo dos parlamentares é garantir espaço nas chapas proporcionais independentemente da legenda que o governador escolher.
O que é a janela partidária e por que ela importa agora
A chamada janela partidária é o período previsto pela legislação eleitoral que permite aos políticos com mandato eletivo — como deputados estaduais e federais — trocar de partido sem o risco de perder o mandato por infidelidade partidária.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), essa janela ocorre seis meses antes das eleições, ou seja, no primeiro semestre de 2026, entre março e abril, quando os parlamentares poderão formalizar novas filiações.
Na prática, é durante essa janela que as alianças políticas se redefinem: deputados avaliam a viabilidade de seus partidos, observam o desempenho nas pesquisas e analisam se terão espaço competitivo nas chapas proporcionais — especialmente para disputar a reeleição.
No caso de Goiás, a possível mudança de legenda de Ronaldo Caiado pode provocar um efeito cascata, levando parte significativa da base governista a repensar suas posições. Deputados do União Brasil, por exemplo, temem ficar isolados em caso de esvaziamento do partido, e por isso aguardam a decisão do governador antes de firmar novos compromissos políticos.