Samuel Straioto
Goiânia - A professora Maria Clorinda Soares Fioravanti, ex-candidata à reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirmou que a instituição é comandada há mais de 20 anos por um mesmo grupo político e defendeu que a eleição de 2025 seja um ponto de virada. Em entrevista ao jornal A Redação, ela anunciou apoio à chapa encabeçada pela professora Karla Emmanuela Ribeiro Hora e declarou que o momento exige debate, renovação e coerência com os princípios democráticos.
Clorinda fez críticas à postura do grupo que venceu a consulta anterior, em 2021, e que, mesmo sem ter sua candidata nomeada, permaneceu no comando da universidade. Para ela, a atual reitoria, formada por integrantes do mesmo grupo, poderia ter renunciado com a troca de governo. “A comunidade escolheu uma pessoa, mas o grupo seguiu no poder”, afirmou.
“A UFG tem sido gerida pelo mesmo grupo há duas décadas”
Com firmeza, Maria Clorinda destacou o que considera um problema estrutural da UFG: a permanência do mesmo grupo político à frente da gestão há mais de duas décadas. “Temos o mesmo grupo fazendo gestão aqui há 20 anos. É hora de abrir espaço para a renovação”, afirmou.
Segundo ela, a universidade precisa repensar seus rumos e romper com a lógica da continuidade automática. “A eleição não pode ser tratada como mera formalidade para ratificar um nome. É hora de colocar projetos em debate e ouvir o que a comunidade tem a dizer.”
“O grupo venceu, não foi nomeado, mas seguiu no poder”
Clorinda relembrou o episódio de 2021, quando a professora Sandramara venceu a consulta pública, mas não foi nomeada reitora pelo governo federal. Ainda assim, a gestão foi assumida por Angelita Pereira de Lima, terceira colocada, mas pertencente ao mesmo grupo político. Para Clorinda, o grupo poderia ter renunciado ao cargo quando o novo governo assumiu, em 2023.
“A professora Angelita foi indicada pelo mesmo grupo da Sandramara. Quando Lula assumiu, e havia uma oportunidade de devolver a reitoria à vontade da comunidade, eles optaram por seguir. Isso é contraditório com o discurso de defesa da democracia que eles mesmos fizeram.”
Ela também reforçou que, mesmo tendo sido adversária de Sandramara em 2021, recusou participar da votação no Consuni para compor a lista tríplice, por respeito ao resultado da consulta. “Recebi ligações do MEC na época, perguntando por que meu nome não estava na lista. Respondi que não fui a mais votada e que era preciso respeitar a decisão da UFG.”
Apoio a Karla e Eliomar
Fora da disputa neste ano, Maria Clorinda declarou apoio à chapa formada pela professora Karla Emmanuela Ribeiro Hora e o professor Eliomar Araújo. Para ela, trata-se de uma candidatura comprometida com a escuta e com a reconstrução de um modelo de gestão mais aberto e horizontal.
“A UFG mudou. A maior parte dos servidores está na universidade há menos de 15 anos. É uma nova geração, com outras demandas, outro ritmo. O momento exige inovação, diálogo e capacidade de escutar.”
Ela defendeu que seu grupo político decidiu não lançar candidatura própria para fortalecer o nome de Karla e permitir um debate mais equilibrado com propostas de fato distintas.
“O faz de conta institucional não pode continuar”
Clorinda também chamou atenção para a fragilidade estrutural da universidade. Ela reconhece avanços na recomposição orçamentária com o atual governo, mas afirma que o orçamento segue insuficiente até para a manutenção básica.
“A UFG não tem sequer ônibus suficiente para atividades de extensão. Falta estrutura, falta gente, falta apoio. A gente vive, muitas vezes, uma sensação de faz de conta institucional. Isso precisa mudar.”
Ela destacou que as universidades federais não são apenas instituições de ensino, mas também os maiores polos de produção científica do país. “Sem elas, o Brasil não se desenvolve. Precisamos de uma política de Estado para educação superior.”
“Renovação com coerência e debate”
Para Clorinda, a nova eleição precisa ser baseada em debate real de ideias, e não em acenos sentimentais ou em acertos do passado. “A Sandramara tem o direito de se candidatar novamente, mas não se pode usar o argumento de que a comunidade ‘lhe deve’ algo. É outra eleição, com outro cenário. E democracia se faz com confronto de projetos.”
Ela encerrou a entrevista destacando que respeitará o resultado da consulta, seja qual for, mas que acredita na força da renovação. “O que devemos à UFG é responsabilidade com o futuro, não reverência ao passado.”
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