Samuel Straioto
Goiânia - A professora Sandramara Matias Chaves é pré-candidata à reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG) e afirmou que a prioridade de sua gestão, caso eleita, será o enfrentamento da crise orçamentária e o fortalecimento da autonomia universitária. A consulta pública que definirá os nomes da lista tríplice acontece nos dias 24 e 25 de junho, organizada por entidades da comunidade acadêmica. Sandramara foi a mais votada na última consulta, em 2021, mas não foi nomeada reitora.
A ex-vice-reitora defende uma universidade voltada às demandas da comunidade interna e às necessidades da sociedade. Ela considera que o momento atual é de destaque acadêmico, mas alerta que a universidade ainda sofre com defasagens estruturais, falta de recursos e desafios históricos que exigem escuta, diálogo e compromisso.
“A UFG precisa ser respeitada em sua escolha”
A professora Sandramara relembra com firmeza o que chama de “desrespeito institucional” sofrido pela UFG em 2021. Naquele ano, ela venceu a consulta pública e foi escolhida pelo Conselho Universitário para integrar a lista tríplice como primeira colocada. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro nomeou a terceira colocada, Angelita Pereira de Lima, rompendo com a prática histórica da universidade de ver sua escolha interna respeitada.
“Foi um ato que desrespeitou um processo democrático. O que houve foi mais do que contra uma pessoa, foi contra uma instituição. A UFG escolheu seus gestores, e essa escolha foi frontalmente ignorada”, afirmou Sandramara, em entrevista ao jornal A Redação.
Ela destaca que sua nova pré-candidatura carrega não apenas a legitimidade de uma trajetória consolidada na UFG, mas também o desejo de reafirmar o valor da autonomia universitária. “A expectativa é que, desta vez, a UFG seja respeitada em sua escolha. Estamos em um governo que tem nomeado os mais votados. É um sinal de que a universidade poderá ser ouvida.”
“Universidade de excelência, mas com demandas urgentes”
Ao fazer um diagnóstico da universidade hoje, Sandramara é clara: “A UFG é uma referência nacional e internacional. Isso é fruto de anos de trabalho de diferentes gestões e do esforço cotidiano de professores, técnicos e estudantes”. Ela cita os avanços em ensino, pesquisa e extensão como resultados visíveis, mas ressalta que a estrutura institucional segue fragilizada.
Segundo a professora, a UFG vive um momento de recuperação orçamentária, mas ainda distante do que seria necessário para garantir sua estabilidade. “O que foi perdido nos últimos dez anos não será recuperado rapidamente. A universidade precisa de muito mais para atender suas demandas básicas”, avaliou.
Ela aponta gargalos em infraestrutura, manutenção, atualização de equipamentos e assistência estudantil. “A universidade precisa investir em tudo isso. Muitos cursos estão com carência de professores, faltam servidores técnicos, os laboratórios precisam de modernização. Isso impacta diretamente na qualidade da formação.”
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“É preciso escutar, dialogar e agir com responsabilidade”
Sandramara diz que sua experiência como gestora a capacita a compreender com profundidade os desafios da UFG. Ela já foi vice-reitora, reitora e ocupou cargos em diversos níveis administrativos da universidade. Agora, propõe uma gestão com base no diálogo. “Tenho iniciado um processo de escuta. Participei de reuniões com diferentes setores, e as demandas da comunidade são claras: orçamento, estrutura, apoio e valorização.”
A professora afirma que a gestão da UFG precisa ser sensível às realidades dos seus públicos internos. “Essa escuta é fundamental. Os estudantes falam da permanência, os técnicos da valorização e condições de trabalho, os professores pedem estrutura para ensino e pesquisa. São vozes que precisam ser levadas em conta.”
“Orçamento e autonomia são os eixos centrais da disputa”
Perguntada sobre o que deve pautar o debate na campanha, Sandramara não hesita: orçamento e autonomia. Ela lembra que a universidade passou por anos de restrição orçamentária, com cortes que impactaram todas as áreas, e que a recuperação ainda é tímida.
“A universidade precisa lutar para retomar seus espaços de investimento. Não só para pagar contas, mas para projetar futuro. Manutenção de prédios, bolsas, concursos para docentes e técnicos, tudo isso está em jogo.”
Ao mesmo tempo, Sandra defende que a autonomia universitária seja protegida por mudanças legais. “Hoje, o modelo da lista tríplice ainda permite que o presidente ignore a vontade da universidade. Precisamos mudar essa legislação. Quem é eleito deve ser nomeado.”
“Não é uma candidatura pessoal, é uma causa institucional”
Ao comentar sua nova pré-candidatura, Sandramara diz que não se trata de um projeto pessoal. “Gerir uma universidade como a UFG é uma grande responsabilidade. Eu me coloco como pré-candidata por causa de toda uma trajetória que me preparou para isso. Mas também porque há uma mobilização em torno dessa proposta de reconstrução e respeito institucional.”
Ela reconhece o desafio que é conduzir a UFG diante do cenário político e econômico atual, mas se diz animada com o novo momento do país. “Vejo esperança no horizonte. Temos uma chance de reconstruir. A UFG tem força e tem história. E deve ser ouvida.”
Calendário da consulta
A consulta pública para reitor(a) e vice da UFG será realizada nos dias 24 e 25 de junho. O edital prevê que as chapas devem ser registradas entre os dias 20 e 21 de maio. A votação será feita de forma online pelo sistema SIGEleição, com urnas presenciais em locais específicos para servidores aposentados.
O processo será organizado pela Comissão Organizadora da Consulta (COC), formada por entidades representativas da universidade: ADUFG, SINT-IFESgo, DCE e APG. A campanha eleitoral será permitida a partir da homologação das chapas, e deverá se encerrar no dia 23 de junho.
O que vem depois da votação?
Após a votação, a COC divulga o resultado da consulta e o Conselho Universitário da UFG se reúne para aprovar a lista tríplice. Os três nomes mais votados são então enviados ao Ministério da Educação, que encaminha ao Presidente da República para a nomeação.
O governo Lula tem afirmado que seguirá os resultados das universidades federais, nomeando os primeiros colocados das listas. A expectativa, portanto, é de que o resultado da consulta em junho seja determinante para a próxima gestão da UFG.