A Redação
Goiânia - Com direção do cineasta, jornalista e escritor Edson Nunes, o documentário “Censura, Uma História Sem Fim 2” teve sua estreia promovida pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), por meio da Assessoria Adjunta de Atividades Culturais.
A produção resgata episódios marcantes da história goiana ao mostrar como a censura influenciou os meios de comunicação durante o Regime Militar de 1964. Além de registrar memórias importantes, o filme destaca a relação entre governo e imprensa em um cenário de repressão política no estado. O projeto foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, com apoio da Prefeitura de Anápolis.
No coração do filme estão os depoimentos de jornalistas, radialistas, escritores e outras personalidades do mundo da comunicação, que testemunharam ou vivenciaram direta ou indiretamente os efeitos da censura no período em Goiás. Entre os entrevistados estão figuras como o historiador Itami Campos, os escritores Leda Selma, Luiz de Aquino e Miguel Jorge, e jornalistas como Laurenice Noleto Alves (a Nonô), Valterli Guedes, Ulisses Aesse, Renato Dias, entre outros, cujas histórias revelam as complexidades e tensões da época.
“Essas vozes refletem tanto o impacto da repressão quanto a luta pela liberdade de expressão, oferecendo ao público um retrato vívido e profundo de uma era que ainda reverbera nos dias de hoje”, destaca Nunes.
Construção da obra
A busca por sobreviventes e testemunhas oculares — pessoas que pudessem trazer à tona memórias vivas de um tempo que muitos preferiram esquecer — demandou tempo, pesquisa extensa e foi um grande desafio para a produção. A ausência de um arquivo iconográfico estruturado, especialmente em Goiás, onde a falta de registros históricos dificultou a ilustração do contexto abordado, foi outro obstáculo enfrentado.
Para superar essas barreiras, a produção utilizou ferramentas de inteligência artificial para recriar cenários e melhorar a qualidade de vídeos antigos, contribuindo para a fidelidade histórica e para a experiência visual da narrativa.
O filme apresenta uma análise do regime militar e de como a imprensa local, muitas vezes, se mostrou conivente ou omissa diante da censura. A ausência de registros adequados — fruto de negligência e da falta de consciência histórica — é um dos aspectos mais perturbadores destacados pela produção.
“O brasileiro não tem o hábito de preservar suas memórias quando elas extrapolam o âmbito privado e atingem o público. Isso é um problema sério, porque nos torna vulneráveis à falta de entendimento da nossa própria história, dos nossos empoderamentos e pertencimentos", comenta o diretor.
Segundo Nunes, a produção é uma continuidade do documentário “Censura, Uma História Sem Fim”, que tinha como recorte a censura feita às rádios Karajá e Santana, de Anápolis. A segunda parte foca nos demais veículos de comunicação do estado, com destaque para os sediados em Goiânia, onde a agitação política era mais efervescente.
“Censura, Uma História Sem Fim 2” é mais do que um documentário: é um apelo à preservação da memória coletiva e à valorização da liberdade de imprensa. Humilde em sua concepção, mas grandioso em sua missão, o filme busca contribuir para o fortalecimento da identidade regional e nacional, e da consciência social.
Leia mais:
Websérie percorre história e analisa transformações do cinema goiano