José Abrão
Goiânia – Professores do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás (Inf/UFG), em parceria com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), lançam neste mês abril a plataforma inteligente de detecção colaborativa e contenção de desinformação dAurora. O programa permitirá que o usuário identifique fake news de maneira fácil, pelo celular, por meio de sistemas automatizados de checagem, além de “checadores” especializados para desbaratar as mentiras mais complexas.
O projeto é coordenado pelo professor Eliomar Araújo, que relata que a iniciativa começou ainda em 2022, com o objetivo de combater a disseminação de notícias falsas, principalmente no período eleitoral: “conteúdos nocivos que, em geral, buscam afrontar a justiça por meio de discurso de ódio e assim por diante”. Isso fez surgir, no Inf, um grupo de pesquisa que firmou um convênio com a Anatel em 2023 para desenvolver um protótipo com o objetivo de criar um ambiente no qual os checadores pudessem atuar de forma facilitada e integrada com IA, aumentando a capacidade de verificação.
Nas eleições de 2024, em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO), o programa foi testado para combater a desinformação durante o pleito. “Foi uma experiência altamente positiva, porque ali nós já pudemos colocar em prática algumas ferramentas, principalmente baseadas em algoritmos e modelos de IA, que permitiram fazer a detecção de fake
news em postagens”, avalia Eliomar.
Em paralelo, esse grupo de pesquisa vem desenvolvendo mais tecnologias e ferramentas para aumentar a capacidade de atendimento e buscar instrumentos cada vez mais perceptivos para lidar com a veracidade da informação. O objetivo é que qualquer conteúdo com o qual o usuário se depare, em qualquer ambiente de interação massiva, possa ser verificado rapidamente, por meio de um aplicativo.
“É com esse propósito que vamos fazer o lançamento da primeira versão até o final de abril”, resume Eliomar. A data, no entanto, ainda não foi divulgada. A plataforma poderá ser usada para fazer a verificação não apenas de textos, mas também de imagens e vídeos. Para lidar com esse nível de complexidade, o professor informa que mais de 30 pesquisadores estão envolvidos no projeto.
“A gente trabalha com técnicas de análise de redes sociais, busca reversa, automatização de algoritmo, detecção de conteúdo nocivo, de conteúdo sintético em vídeos, imagens, áudio e, para cada uma dessas mídias, você tem uma complexidade específica”, explica Eliomar.
Segundo o professor, por meio da plataforma, o usuário poderá obter uma resposta instantânea sobre a veracidade do conteúdo enviado, especialmente se for algo mais simples. Já se for uma questão mais complexa, que requeira a análise de um especialista, o material será repassado a um checador, a depender do nível de relevância do conteúdo submetido.
Assim, o professor resume o passo a passo: “O fato é que, nesse momento, ele vai poder acionar esse aplicativo, que vai fazer aquela captura da tela, vai submeter aquele conteúdo para análise e vai dar uma devolutiva. Ela não é em tempo real, existe ali um tempo de resposta. Mas esse tempo de resposta é extremamente baixo, porque nós estamos lidando com modelos de IA que já foram treinados e que vão dar essa resposta logo que o usuário solicitar. E ele vai receber uma resposta dando uma pontuação em que será possível conferir qual o potencial daquela informação ser falsa e vai receber uma apresentação com os argumentos ali que a própria IA gera, explicando a resposta.”
No caso dos especialistas, a ferramenta irá acionar checadores habilitados para dar uma resposta e fazer a verificação. “Digamos que seja uma verificação na área ambiental. Alguma fake news sobre algum tipo de incêndio, algum tipo de inundação. Uma das técnicas é buscar fontes para avaliar se aquilo tem algum fundamento, como um engenheiro florestal. A ideia é que os checadores possam ter uma contrapartida financeira. É um modelo de negócio que buscamos uma forma de viabilizar”, explica.
Eliomar avalia que a plataforma, quando lançada, será de grande relevância social, por colocar o acesso à verificação de forma gratuita na mão das pessoas. “É uma ferramenta de emancipação social, porque o mundo cibernético é terra de ninguém, não há agências de regulação, não temos uma regulamentação geral das redes para que o usuário tenha o mínimo de confiança sobre o nível de veracidade do conteúdo. Então, na dúvida, se ele tem uma ferramenta que ele possa atestar rapidamente, com facilidade, com praticidade, vamos entregar algo que vai fazer uma diferença muito grande para a população”, finaliza.
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