Cannabis já é utilizada para o tratamento de animais domésticos no Brasil

 

Em 30 de outubro de 2024, a Anvisa determinou que produtos à base de cannabis podem ser regularizados para uso veterinário. Além de cães e gatos, outros mamíferos, dependendo da finalidade, também podem utilizar esses produtos, pois possuem o sistema endocanabinóide, que é estimulado por essas substâncias. O que é uma realidade no Brasil também já é mais comum em países como os Estados Unidos e o Canadá.

 

Tamires Carvalho Silva, engenheira agrônoma e tutora de Margaret, explica que, além do canabidiol, foram utilizados Gabapentina e Fenobarbital no tratamento de sua cadela. Após três meses de uso, a Gabapentina e o Fenobarbital puderam ser suspensos, mantendo-se apenas o canabidiol, que atua diretamente no sistema nervoso, tornando Margaret mais calma e com uma vida mais ativa. “Ela adora brincar com os gatos”, conta Tamires.

 

Quando soube que o canabidiol poderia ser utilizado no tratamento de sua pet, Tamires sentiu “um certo alívio”. Devido à cinomose, Margaret sofreu algumas sequelas e teve crises convulsivas. O receio da tutora era que as convulsões se tornassem mais frequentes e intensas. Quando o veterinário sugeriu o tratamento, o início foi imediato.

Margaret e Tamires (Foto: álbum de família)
 

Após uma semana de uso do canabidiol, Tamires percebeu uma melhora significativa na saúde de Margaret. “Hoje, ela vive uma vida plena e bem disposta, até demais, pois é bem agitada. Já estamos no segundo frasco de tratamento, e ajustamos a dose conforme as orientações do médico. Estamos ajustando os detalhes à medida que o tratamento avança”, relata.

O advogado especialista em direito canábico Wesley Cesar explica que a regulamentação específica para produtos veterinários à base de cannabis depende do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que será responsável pela regularização desses produtos. "Essa aprovação representa um marco, pois amplia o reconhecimento das propriedades terapêuticas da cannabis, não apenas para seres humanos, mas também para animais", afirma Wesley. Ele destaca a importância de reduzir o estigma em torno do uso da substância, o que favorece o avanço científico e impulsiona o desenvolvimento de um mercado regulado e seguro.

 

Marcelo de Morais Oliveira Filho, médico veterinário que iniciou seus estudos sobre cannabis para animais durante a pandemia, observa que a liberação do uso de cannabis em outros países está mais avançada. Lá, petiscos com canabidiol (CBD), substância química com grande potencial terapêutico, já são comuns. "Em locais com maior acesso, os próprios prescritores já oferecem a cannabis como opção de tratamento para os tutores, sem tanta burocracia", explica.

 

O veterinário acrescenta que animais debilitados, com baixo escore corporal, sequelas de cinomose, quadros de convulsões, anoréxicos, imunodeprimidos, ansiosos, com dores crônicas ou que fazem uso de medicamentos fortes, como fenobarbital e brometo de potássio, podem se beneficiar dos efeitos da cannabis medicinal. Marcelo também destaca que, quando associada à cannabis, é possível reduzir a dosagem de fármacos potencialmente prejudiciais.