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Só 4 municípios têm alta capacidade | 24.11.24 - 08:00
Faina decretou situação de calamidade pública devido ao desabastecimento de água. Rio do Peixe, que abastece a cidade, secou (Foto: Paulinho Vieira)Samuel Straioto
Goiânia - Um levantamento exclusivo do jornal A Redação, com base nos dados do Ministério da Integração Nacional, revela que a maioria dos municípios de Goiás apresenta desempenho intermediário ou inicial no Indicador de Capacidade Municipal (ICM). Apenas quatro municípios figuram na classificação mais alta, enquanto 92 encontram-se na pior avaliação.
Os números destacam a vulnerabilidade estrutural das administrações municipais, especialmente em um estado como Goiás, em que grande parte das prefeituras dependem de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e de outras transferências federais e estaduais.
Os problemas vão desde enchentes e deslizamentos até secas severas, e a gestão de riscos é uma necessidade para proteger vidas e prevenir prejuízos econômicos.
Mais de 80% das cidades goianas apresentam sérias dificuldades em atender às demandas de situações emergenciais. Essa realidade é agravada pela dependência de repasses estaduais e federais, o que compromete a agilidade em ações preventivas e emergenciais.
Especialistas apontam que os municípios classificados nas faixas C e D precisam de atenção especial, pois enfrentam limitações como ausência de sistemas de alerta e equipes técnicas despreparadas.
Para um estado que abrange 246 municípios, com realidades tão distintas, o ICM é uma ferramenta importante para orientar investimentos e melhorar a governança pública.
Além disso, a população diretamente afetada por essas fragilidades muitas vezes não possui acesso às informações ou meios para mitigar os riscos em suas comunidades.
O descompasso entre os recursos disponíveis e as demandas locais é um reflexo de um problema estrutural que precisa ser enfrentado com urgência.
O que é o ICM?
O Indicador de Capacidade Municipal (ICM) é uma métrica fundamental para avaliar a eficiência das prefeituras na gestão de riscos e desastres. Criado pelo Ministério da Integração Nacional, ele classifica os municípios em quatro faixas — de A (alta capacidade) a D (capacidade inicial) — com base em três dimensões principais: governança, recursos humanos e infraestrutura operacional.
A primeira dimensão, Governança, avalia o planejamento estratégico, a transparência administrativa e a articulação das prefeituras com outros entes federativos. Municípios com alta pontuação nesse critério demonstram capacidade de agir de forma rápida e eficiente em situações de crise.
A segunda dimensão, Recursos Humanos e Financeiros, mede a qualificação técnica das equipes e a saúde financeira das cidades. Municípios que arrecadam receitas próprias e têm capacidade de acessar fundos emergenciais estão em vantagem, pois conseguem investir em medidas preventivas e reativas com maior autonomia.
Por fim, a dimensão de Infraestrutura e Capacidade Operacional analisa a existência de equipamentos e sistemas tecnológicos necessários para a prevenção e resposta a desastres. Essa análise inclui desde veículos para operações emergenciais até sistemas de monitoramento climático.
De acordo com dados nacionais, quase dois mil municípios brasileiros estão classificados como vulneráveis a desastres, o que afeta diretamente 89 milhões de pessoas. Esses números evidenciam a importância do ICM como ferramenta para priorizar investimentos e políticas públicas.
A consultora de políticas públicas Sofia Matos ressalta que "O ICM não é apenas uma estatística; ele é um norteador para ações práticas. Municípios classificados nas faixas mais baixas precisam de investimentos urgentes para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes e reduzir os danos causados por desastres."
A situação em Goiás
A realidade goiana é alarmante: mais de 200 municípios do estado estão nas faixas C e D, o que reflete limitações estruturais graves. Essas cidades enfrentam desafios como ausência de tecnologia, baixa arrecadação e falta de planejamento estratégico para prevenir e responder a emergências.
O especialista em políticas de Defesa Civil Eduardo Brandão explica: "Nos municípios classificados na faixa D, as prefeituras têm dificuldade em atender até mesmo às demandas básicas da população. A falta de sistemas de monitoramento e de equipes treinadas coloca essas cidades em uma situação de alto risco constante."
Enquanto Cristalina e Silvânia, na faixa A, possuem bons índices de práticas de gestão eficiente, a maioria das cidades goianas carece de sistemas básicos de prevenção. Em muitos casos, não há sequer mapeamento de áreas de risco, o que agrava os impactos em situações de crise.
Alagamento na região central de Goiânia (Foto: Rafaela Bernardes/A Resação)
Na faixa C, cidades como Goiânia e Aparecida de Goiânia possuem maior infraestrutura, mas enfrentam problemas como baixa capacidade de resposta e a ausência de sistemas de alerta integrados. Isso compromete a eficiência na gestão de emergências, especialmente em áreas periféricas e rurais.
A professora de Gestão Ambiental Carla Ribeiro alerta que "as cidades nas faixas intermediárias têm potencial para avançar, mas isso exige investimentos em treinamento de equipes e tecnologia. Sem essas medidas, a vulnerabilidade permanecerá alta, especialmente em regiões que sofrem com eventos climáticos extremos."
Entre os municípios da faixa D, a falta de planejamento é visível. Caldas Novas, conhecida por seu turismo, enfrenta dificuldades para gerenciar crises hídricas, enquanto Faina, recentemente, ficou sem água devido ao colapso de seu principal rio. Essa realidade compromete não só a economia local, mas também a qualidade de vida da população.
O economista João Batista, especialista em políticas públicas, reforça que "a gestão pública em municípios vulneráveis deve ser pensada como prioridade. As consequências de desastres ambientais são duradouras e afetam diretamente a economia e o desenvolvimento local. Investir em infraestrutura e capacitação é essencial."
A disparidade entre municípios na mesma região também chama atenção. Enquanto Porangatu, na faixa B, consegue acessar recursos federais, cidades vizinhas na faixa D enfrentam dificuldade até para manter sistemas básicos de gestão. Essa desigualdade reflete a complexidade da gestão pública em Goiás.
Além disso, muitos municípios menores dependem exclusivamente de repasses estaduais para ações emergenciais. Essa situação gera atrasos na implementação de políticas e deixa a população vulnerável a tragédias que poderiam ser evitadas com medidas preventivas.
Por fim, os desafios enfrentados pelos municípios nas faixas C e D são agravados pela falta de integração entre as administrações locais, estaduais e federais. Essa desconexão compromete a coordenação de ações em larga escala, especialmente em crises que afetam múltiplas cidades simultaneamente.
Goiás é um estado afetado por condições climáticas adversas como chuvas intensas e, mais recentemente, secas severas, como a que colapsou o abastecimento de água na cidade de Faina. Essas condições exigem uma gestão eficiente de riscos, mas os números do ICM indicam um cenário preocupante.
Goiás: vulnerabilidades expostas
Goiás, com 246 municípios, enfrenta desafios preocupantes. O levantamento aponta que:
Apenas 4 municípios — Cristalina, Pires do Rio, Santo Antônio do Descoberto e Silvânia — foram classificados na faixa A.
121 municípios, como Goiânia e Aparecida de Goiânia, estão na faixa C, indicando limitações na gestão de riscos.
92 municípios, incluindo Caldas Novas, Luziânia e Águas Lindas de Goiás, estão na faixa D, a mais baixa do índice.
26 municípios não tiveram informações suficientes para serem avaliados.
Essa distribuição coloca mais de 85% dos municípios em situação vulnerável, incapazes de prevenir ou responder adequadamente a desastres naturais e outros riscos.
Impactos para a gestão de riscos
A predominância de municípios nas faixas C e D evidencia dificuldades estruturais para lidar com desastres e emergências. Entre as principais limitações estão a falta de equipes especializadas, recursos financeiros insuficientes e ausência de equipamentos básicos para operações emergenciais.
Sofia Matos alerta que “a baixa classificação de muitos municípios é um sinal de alerta. Sem investimentos consistentes em treinamento e tecnologia, a capacidade de resposta a crises continuará limitada, afetando diretamente a segurança da população."
Eduardo Brandão ressalta que "A classificação C é um alerta, mas a faixa D representa uma emergência. Essas cidades enfrentam desafios estruturais que vão desde a falta de acesso a dados até a ausência de pessoal qualificado. Isso resulta em prejuízos diretos à população, especialmente em áreas rurais."
Reflexos da classificação C e D
Baixa capacidade de resposta
Municípios na faixa C possuem sistemas básicos de gestão de riscos, mas ainda insuficientes para lidar com emergências. Na faixa D, a situação é mais grave, com cidades incapazes de realizar ações preventivas.
Dependência de recursos externos
Enquanto Cristalina consegue captar recursos federais para projetos emergenciais, cidades como Luziânia e Faina dependem exclusivamente de repasses estaduais, o que atrasa a implementação de soluções.
Impacto na população rural
A seca que colapsou o abastecimento de água em Faina é um exemplo claro das consequências da falta de planejamento. A ausência de políticas voltadas ao manejo sustentável dos recursos hídricos deixa comunidades inteiras sem alternativas em crises?
Ausência de tecnologia e treinamento
Mais de 90% das cidades das faixas C e D não possuem sistemas de alerta ou planos de evacuação, expondo a população a riscos maiores em desastres naturais ou ambientais.
A atualização mais recente dos dados foi feita em setembro de 2024. Outra está prevista para os próximos dias.