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Eleições 2024

Recuperação do Centro de Goiânia: o que esperar dos planos dos candidatos?

Especialistas criticam "ideias superficiais" | 22.09.24 - 07:51 Recuperação do Centro de Goiânia: o que esperar dos planos dos candidatos? Centro de Goiânia conta com muitos imóveis à venda, locais abandonados, vandalizados e sem atenção da gestão pública (Fotos: reprodução)
Samuel Straioto

Goiânia -
Com um cenário de prédios abandonados, ruas degradadas e falta de moradia acessível, o Centro de Goiânia se encontra em uma encruzilhada. Mesmo com diversas tentativas de revitalização ao longo das últimas décadas, a área enfrenta problemas estruturais, que vão desde a desocupação até o declínio comercial. Às vésperas das eleições municipais, candidatos apresentam propostas para reverter essa realidade, mas especialistas criticam a falta de profundidade das soluções sugeridas.
 
Com base no patrimônio histórico e cultural, candidatos a prefeito propõem intervenções para revitalizar o Centro de Goiânia. No entanto, especialistas como a arquiteta e urbanista Lana Jubé e o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material Óptico, Joias, Relógios, Cine-Foto e Bijuterias de Goiás (Sindióptica-GO), Leandro Luiz Fleury Rosa, ressaltam que as soluções não devem se limitar a medidas cosméticas e superficiais, exigindo uma abordagem integrada que considere moradia, infraestrutura e uma rede de serviços públicos eficientes.
 
O esvaziamento e o declínio do Centro
O Centro de Goiânia, uma área que já foi o coração pulsante da capital, enfrenta hoje um cenário de degradação e abandono. A expansão desordenada para áreas periféricas e a falta de projetos habitacionais no núcleo central tornaram o Centro um espaço predominantemente comercial e desocupado durante a noite e finais de semana.
 
A história da decadência do Centro não é recente. Desde a década de 1990, diversas administrações municipais tentaram implementar projetos de revitalização, mas com pouco sucesso. Entre as iniciativas mais significativas está a proposta de transformar a Avenida Goiás em um corredor cultural e a tentativa de reocupar os edifícios do Setor Campinas, que abrigam um importante acervo histórico da cidade.
 
Entre os problemas atuais estão: a falta de moradores e a crescente desvalorização dos imóveis. Além disso, o Eixo Anhanguera como principal corredor de transporte urbano não é suficiente, por si só, para atrair investimentos de longo prazo na área. Uma crítica recorrente é à proposta de reocupar o Centro por meio de projetos isolados. 
 
Fleury destaca que é preciso mais do que apenas abrir restaurantes ou reformar fachadas. "A ocupação do Centro deve ser incentivada com políticas públicas que promovam o uso eficiente do espaço urbano, oferecendo moradia acessível e um ambiente que atraia famílias e pequenos empreendedores, e não apenas grandes investidores," afirma. Ele também alerta que "a pedestrianização ainda não é uma realidade viável no Centro, sem um transporte público eficiente e seguro que permita o acesso a essas áreas."
 
Propostas dos candidatos a prefeito
Nas eleições municipais de 2024, o tema da revitalização do Centro de Goiânia voltou à pauta dos candidatos. Embora existam promessas de recuperação urbana, especialistas criticam a superficialidade das propostas. A arquiteta e urbanista Lana Jubé, que tem estudado o processo de reocupação do Centro, aponta que muitos dos planos apresentados se limitam a soluções cosméticas e que ignoram a complexidade do problema.
 
"A simples reabertura de comércios ou a instalação de um restaurante de renome não resolve o esvaziamento do Centro. Estamos lidando com décadas de abandono, e isso requer um projeto integrado, que inclua moradia, segurança e acesso a serviços essenciais. Nenhuma das propostas que vi até agora leva isso em consideração de maneira adequada", afirma Lana.
 
As eleições municipais de 2024 trouxeram o debate sobre a revitalização do Centro de Goiânia para o centro das discussões. Vários candidatos apresentaram propostas voltadas para a recuperação dessa área, com enfoques variados que vão desde melhorias tributárias até investimentos em turismo e infraestrutura.
 
Adriana Accorsi (PT) reconhece o esvaziamento do Centro e aponta a necessidade de políticas habitacionais voltadas para jovens famílias, que hoje enfrentam um alto custo para morar na região. A candidata destaca também a importância de manter o patrimônio histórico e evitar que o Centro se torne uma área apenas comercial, sem vida noturna ou atividades culturais.
 
Fred Rodrigues (PL), por sua vez, defende a criação de um Boulevard na Avenida Goiás, com áreas arborizadas e restrição de tráfego de veículos. Ele acredita que essa mudança traria de volta a atratividade do Centro, criando um ambiente agradável e seguro para o lazer e o comércio. Rodrigues também enfatiza a importância de fomentar o comércio local, visando atrair turistas e revitalizar a economia da região central.
 
Já Matheus Ribeiro (PSDB) propõe incentivar a construção de moradias populares no antigo Bairro Popular, no Centro. Além disso, o candidato sugere a criação de centros de convenções e hotéis, em parceria com o setor privado, para incentivar o turismo na região. Ribeiro ainda destaca a valorização da arquitetura art déco, símbolo de Goiânia, como um atrativo turístico.
 
Outros candidatos, como Sandro Mabel (União Brasil) e Vanderlan Cardoso (PSD), também apresentam propostas focadas na reurbanização e na promoção do turismo, enquanto Pantaleão (Unidade Popular) e Rogério Cruz (Solidariedade) não abordam ou não detalharam o tema da revitalização do Centro em seus planos de governo.
 
Lana Jubé também reflete sobre a superficialidade das propostas de reocupar o Centro por meio de projetos isolado. Ela destaca que é preciso mais do que apenas abrir restaurantes ou reformar fachadas. "A ocupação do Centro deve ser incentivada com políticas públicas que promovam o uso eficiente do espaço urbano, oferecendo moradia acessível e um ambiente que atraia famílias e pequenos empreendedores, e não apenas grandes investidores," afirma. Lana também alerta que "a pedestrianização ainda não é uma realidade viável no Centro, sem um transporte público eficiente e seguro que permita o acesso a essas áreas."
 
O desafio de reocupar o Centro
Para os especialistas, a principal dificuldade é criar um ambiente que incentive as pessoas a viverem e circularem no Centro de Goiânia, tanto de dia quanto à noite. O declínio da área é resultado de anos de abandono de políticas de moradia e infraestrutura.
 
Segundo Lana Jubé, a chave para revitalizar o Centro passa pela criação de programas habitacionais que sejam acessíveis a jovens famílias e à população de baixa renda. "A questão da moradia é crucial. O Centro não vai se revitalizar se não houver projetos habitacionais que atendam a diferentes perfis de renda. Hoje, o custo elevado dos imóveis afasta as pessoas, e sem gente morando, o comércio e a vida urbana não se sustentam", comenta.
 
A crítica de Lana também vai além da questão habitacional. Ela destaca que é necessário criar um ambiente urbano interessante, com espaços culturais, praças e áreas de lazer. "Trazer um restaurante renomado para o Centro não será suficiente para revitalizá-lo. O espaço precisa ser vibrante, com vida noturna e eventos nos finais de semana, que atraiam tanto moradores quanto turistas", reforça.
 
Leandro Fleury também aponta que a limpeza e a conservação das fachadas dos prédios é um ponto importante, mas que deve ser tratado de forma educativa. "As empresas precisam ser incentivadas a cuidar de suas fachadas, com apoio do poder público e da sociedade, e não com uma abordagem punitiva. Precisamos de campanhas educativas, envolvendo entidades como a CDL e a Fecomércio, para criar uma cultura de preservação do nosso patrimônio histórico", afirma Fleury.
 
Histórico das tentativas de revitalização
A busca contínua pela revitalização do Centro de Goiânia teve início em 1997, conforme levantamento realizado pela Prefeitura, com o lançamento do plano Goiânia 21. Em seguida, em 2001, surgiu o projeto Cara Limpa, cujo foco principal foi a remoção dos vendedores ambulantes. Em 2003, o traçado urbano da cidade foi tombado, e, no ano seguinte, foi fundada a Associação Centro Vivo.
 
Quatro anos mais tarde, em 2008, o programa Cara Limpa foi reativado, dessa vez com ênfase na recuperação das fachadas e na valorização do patrimônio Art Déco. Em 2015, a gestão municipal, em parceria com o IPHAN e o governo estadual, promoveu a revitalização da Praça Cívica. Em 2018, foi lançado o programa “Vem Pro Centro” e, no ano seguinte, o projeto Reviva Goiânia, que incluiu a reforma da Rua do Lazer.
 
Atualmente, está em andamento o programa Centraliza, implementado pela gestão atual da Prefeitura de Goiânia. O objetivo é integrar uma série de ações na região que se estende entre a Praça Cívica e a Avenida Independência, abrangendo também o Parque Mutirama, o Bosque dos Buritis e a Avenida Goiás.
 
Propostas dos candidatos para o Centro de Goiânia 

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