Samuel Straioto
Goiânia - As eleições municipais de 2024 já começam a moldar o cenário político para 2026, quando serão disputadas as eleições gerais. Embora estejamos ainda no meio do processo eleitoral municipal, alguns reflexos para as eleições estaduais e nacionais já se delineiam. A movimentação de atores-chave, a reconfiguração das alianças e o desempenho de figuras políticas regionais indicam que a disputa para os cargos de governador e senador será intensamente competitiva, com potencial para redesenhar o mapa político em Goiás e influenciar decisões estratégicas no cenário nacional.
A corrida para as eleições de 2026, embora ainda distante, já está aberta e em constante reconfiguração. Em Goiás, os três maiores colégios eleitorais — Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia — desempenham um papel crucial na formação de alianças e na definição de estratégias para a disputa. Goiânia, por ser a capital e o principal centro político do estado, tende a atrair maior atenção, ainda que as forças políticas tradicionais, como o grupo do governador Ronaldo Caiado e o MDB, enfrentem desafios para consolidar candidaturas fortes para a prefeitura.
Em Anápolis, a polarização entre grupos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao presidente Lula reflete o cenário nacional, com a cidade se consolidando como um importante campo de batalha eleitoral. Aparecida de Goiânia, por sua vez, mantém uma posição estratégica tanto pela sua proximidade com a capital quanto pela força de seu eleitorado, sendo alvo de disputas acirradas entre grupos políticos locais e regionais. Os resultados das eleições nesses três municípios não apenas moldarão o mapa político para 2024, mas também trarão indicativos claros sobre quais forças terão mais fôlego para a disputa ao governo e ao Senado em 2026.
Base Governista
O cientista político e professor Guilherme Carvalho acredita que, tradicionalmente, a eleição municipal serve como um preditor para a disputa geral, antecipando os atores políticos que ganharão relevância nas próximas disputas. Um dos principais destaques na análise do professor é a menor participação de algumas figuras que se esperava ter maior protagonismo nas eleições de 2024 em Goiânia, como Daniel Vilela, atual vice-governador, e nomes ligados ao governador Ronaldo Caiado.
“A ausência de um candidato a prefeito forte do partido do sucessor do atual governador chama atenção”, pontua Carvalho. No entanto, Daniel tem marcado presença em algumas ações de rua tanto em Aparecida quanto em Goiânia, embora sem grande destaque. Por outro lado, o MDB, tradicional partido com forte presença na política goiana, continua sendo uma das siglas mais competitivas, mesmo enfrentando incertezas na disputa pela prefeitura.
Além disso, o professor destaca a figura do presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, como um ator em ascensão. Peixoto, que conseguiu emplacar uma vice-candidatura na chapa apoiada pelo governo, tem se consolidado como um player importante, podendo ser um nome de destaque nas eleições de 2026.
Já o professor e cientista político Pedro Araújo Pietrafesa analisa que o vice-governador Daniel Vilela, e o presidente da Assembleia, Bruno Peixoto, tiveram papel importante na pré-campanha nas articulações, com Daniel auxiliando a fazer uma leitura sobre uma falta de competitividade do atual prefeito Vilmar Mariano, resultando na escolha de Leandro Vilela representando a base governista, em Aparecida.
À medida que o cenário político de 2024 se desenvolve, as interrogações sobre as eleições de 2026 começam a surgir. Para o professor Guilherme Carvalho, o principal embate pré-eleitoral será a definição das candidaturas ao governo e ao Senado, que prometem ser vagas extremamente disputadas.
Transferência de voto
A base política do governador Ronaldo Caiado enfrenta desafios significativos, especialmente nas três maiores cidades de Goiás: Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis. Apesar do esforço do governo em apoiar candidatos nessas localidades, os resultados ainda são incertos. “Em Aparecida, o candidato apoiado por Caiado ainda não lidera as pesquisas e tenta conquistar uma vaga no segundo turno”, comenta o professor Guilherme Carvalho.
Esse cenário traz à tona a discussão sobre a capacidade do governador em transferir votos em 2026, quando ele tentará fazer seu sucessor ou consolidar sua influência no estado. Para Carvalho, “o governador de Goiânia não faz o prefeito de Goiás”, destacando que o sucesso ou fracasso dos candidatos apoiados pelo governador pode influenciar diretamente as articulações para a disputa ao governo e ao Senado em 2026.
Os resultados das eleições municipais em cidades estratégicas como Goiânia, Aparecida e Anápolis terão impacto direto nas composições para 2026, mas o professor destaca que a conjuntura política local e as alianças que se formarem nos próximos meses serão determinantes. “Não atribuiria os desafios do governo apenas a fatores fixos, mas muito mais a questões conjunturais”, conclui.
Polarização nacional em Anápolis
Outro ponto importante levantado por Guilherme Carvalho é a cidade de Anápolis, que se tornou um símbolo da polarização política no estado de Goiás, refletindo a disputa nacional entre os apoiadores de Lula e Bolsonaro. “A presença de Bolsonaro em Anápolis é muito forte, e essa cidade vem sendo um ponto de polarização”, explica. Por outro lado, ele ressalta que Antônio Gomide já foi prefeito e teve boa avaliação, e em caso de vitória pode ser uma reoxigenação do Partido dos Trabalhadores.
No entanto, o professor pondera que essa polarização, embora marcante em algumas cidades, não será determinante em todo o cenário estadual. Para ele, é improvável que as eleições municipais de 2024 tenham uma forte influência nacional. “A eleição deste ano é muito local, e a influência de figuras como Lula e Bolsonaro, à exceção de São Paulo, tem sido baixa”, avalia.
Senador Vanderlan: A Escolha de Sofia
O senador Vanderlan Cardoso é outro nome que pode desempenhar um papel crucial em 2026, dependendo de seu desempenho em 2024. Caso ele vença as eleições para prefeito de Goiânia, terá de fazer uma “escolha de Sofia”: manter-se na prefeitura até o final do mandato ou disputar o governo do estado em 2026. Abandonar o cargo de prefeito para concorrer a outro cargo é uma prática comum na política brasileira, mas criticada por parte do eleitorado.
“Se ele for eleito prefeito, terá de decidir se fica até o fim ou se tenta disputar o governo”, ressalta Carvalho. Essa escolha será determinante não apenas para sua carreira política, mas também para a configuração das disputas em Goiás nos próximos dois anos.