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eleições 2024

Planos de governo desconexos e superficiais desafiam eleitores em Goiânia

Confira materiais divulgados pelos candidatos | 22.08.24 - 08:16 Planos de governo desconexos e superficiais desafiam eleitores em Goiânia Adriana Accorsi, Vanderlan Cardoso, Sandro Mabel, Fred Rodrigues, Rogério Cruz, Matheus Ribeiro e Professor Pantaleão (Fotos: divulgação)

Samuel Straioto

Goiânia
Com a proximidade das eleições municipais, os planos de governo dos candidatos à prefeitura de Goiânia revelam promessas genéricas, muitas vezes desconectadas dos problemas reais da cidade. Embora os prefeitáveis tenham destacado propostas para áreas fundamentais como saúde, educação e segurança, uma análise mais profunda mostra que essas soluções são frequentemente superficiais e carecem de alinhamento com as necessidades da população.
 
A educação é um dos temas mais abordados nos planos de governo, com promessas de ampliação de vagas em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e redução do déficit na educação infantil. Contudo, essas propostas frequentemente carecem de detalhamento, levantando dúvidas sobre a viabilidade de sua implementação.
 
Confira os planos de governo dos candidatos à Prefeitura de Goiânia:
 
Adriana Accorsi (PT)
Fred Rodrigues ( PL)
Professor Pantaleão (UP)
Rogério Cruz (Solidariedade)
Sandro Mabel (União Brasil)
Vanderlan Cardoso (PSD)
*Matheus Ribeiro ainda não disponibilizou a íntegra do Plano de Governo

Na saúde, as promessas repetem discursos de campanhas anteriores, sem inovação ou adaptação às necessidades específicas de Goiânia. Propostas como melhorar o atendimento na saúde da família e reduzir filas para consultas e exames são comuns, mas as estratégias para sua execução são pouco exploradas. Além disso, os planos mencionam temas como parcerias público-privadas, desenvolvimento econômico, segurança pública e eficiência dos serviços públicos, mas sem a devida profundidade.
 
Desconexão entre política e realidade social
O professor e cientista político Pedro Araújo Pietrafesa aponta que essa falta de conexão entre as propostas dos candidatos e as necessidades da população evidencia um problema maior na política local. “Muitas vezes, os candidatos terceirizam a elaboração de seus planos de governo, resultando em propostas genéricas e desconectadas das demandas específicas de Goiânia. Isso reflete uma falta de diálogo entre a classe política e a população,” afirma Pietrafesa.
 
Ele também destaca que alguns candidatos apresentam planos de governo à Justiça Eleitoral apenas para cumprir exigências legais, sem a real intenção de implementá-los. “Essa prática enfraquece a confiança dos eleitores e contribui para a desilusão com a política, uma vez que os planos de governo se tornam meras formalidades, sem compromisso com a transformação social.”
 
A obrigatoriedade dos planos de governo
A legislação eleitoral brasileira exige que candidatos a cargos executivos, como prefeitos, apresentem um plano de governo ao registrar suas candidaturas. Esse requisito visa garantir que os eleitores conheçam as propostas dos candidatos e façam uma escolha informada. No entanto, a simplificação e a generalização dos planos comprometem a eficácia desse instrumento.
 
Pietrafesa observa que, a partir de 2018, os planos de governo se tornaram mais curtos e genéricos, tanto em eleições nacionais quanto municipais. “Antes, os planos eram documentos detalhados, com várias páginas explicando as propostas. Hoje, vemos uma tendência de simplificação, o que prejudica a qualidade do debate político e dificulta a avaliação das propostas pelos eleitores.”
 
A obrigatoriedade de apresentação dos planos de governo pelos candidatos a cargos executivos está estabelecida na legislação eleitoral brasileira, tanto na Lei nº 9.504/1997, quanto na Resolução nº 23.609/2019 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Partidos ou coligações devem apresentar o plano de governo dos candidatos até o momento do registro de candidatura. O plano de governo deve ser disponibilizado para consulta pública. A advogada eleitoralista Maíce Andrade esclareceu que essa exigência é mais formal do que material, servindo como um instrumento de controle para o eleitor. “A meu ver, é muito mais um instrumento de fiscalização e controle do cidadão do que propriamente da justiça eleitoral”, explicou. Ela também observou que alguns candidatos ainda não haviam disponibilizado seus planos, mas que a legislação permite um prazo adicional para que isso seja regularizado.
 
A necessidade de um debate político mais profundo
Essa desconexão entre os planos de governo e as necessidades reais da população evidencia a importância de um debate político mais profundo e alinhado com a realidade social. Para o professor Pedro Pietrafesa, “é fundamental que os candidatos apresentem propostas detalhadas e viáveis, que respondam de maneira prática aos desafios enfrentados pela cidade.”
 
A falta de diálogo mais próximo com a sociedade e a ausência de propostas concretas podem aumentar o distanciamento dos eleitores em relação à política. Para que a democracia funcione plenamente, é essencial que os candidatos elaborem planos de governo que vão além das exigências legais e reflitam um verdadeiro compromisso com a melhoria da qualidade de vida em Goiânia.
 
O papel do eleitor
Diante desse cenário, é crucial que o eleitor adote uma postura crítica e bem informada. Não basta apenas ler os planos de governo registrados na Justiça Eleitoral; é necessário investigar mais a fundo as trajetórias políticas e profissionais dos candidatos. Essa pesquisa pode revelar se as promessas de campanha são fundamentadas ou apenas estratégias para conquistar votos.
 
Com o acesso facilitado à informação, especialmente por meio das redes sociais, o eleitor tem a oportunidade de avaliar as propostas de forma mais crítica. Pietrafesa ressalta que “o eleitor precisa diversificar suas fontes de informação e analisar as propostas com um olhar atento. Somente assim será possível fazer uma escolha mais consciente e exigir que os eleitos cumpram seus compromissos.”
 
Ao analisar os planos de governo dos candidatos à prefeitura de Goiânia, surge uma questão crucial: até que ponto o eleitor realmente entende as propostas apresentadas? A lojista Silvaneide Valente reflete sobre a falta de clareza e acessibilidade das informações: “Isso é interessante que você falou aí, que a gente não entendeu o que de fato acontece. Não fazer apenas coisas da cabeça só para dizer que fez para cumprir uma obrigação legal. A população em geral tem pouca informação e eu acho que o político também não quer que ela tenha esse entendimento. Então, para a população, basta eles falarem que vão fazer, mas não é isso que na prática deveria acontecer.”
 
Valente ainda aponta que, para os eleitores mais informados, é fácil perceber quando uma proposta é inviável, mas para a maioria, a falta de compreensão sobre a viabilidade das propostas leva a uma aceitação passiva das promessas. “Muitas vezes, para quem já é mais esclarecido, só de olhar aquela proposta dá para ver que não é viável, mas para a grande maioria, isso não importa. Eles só querem ouvir a proposta, mesmo que ela não seja realista,” conclui.
 
Contraponto
A reportagem conversou com quatro dos sete candidatos à Prefeitura de Goiânia sobre suas visões a respeito dos planos de governo. Embora todos reconheçam a importância desses documentos, os candidatos têm opiniões distintas sobre o papel e a flexibilidade das propostas.
 
Sandro Mabel (União Brasil) argumenta que os planos de governo funcionam como uma carta de intenções, sem a necessidade de detalhamento completo neste momento. “Ao assumir compromissos diante do eleitor, estou dizendo que tenho capacidade de gestão e que conseguirei destravar gargalos mais emergenciais nos primeiros dias de governo. Isso é a capacidade de gestão,” afirmou Mabel, sugerindo que o plano deve ser flexível para atender às necessidades imediatas.
 
Rogério Cruz (Solidariedade) defende a importância de incluir no plano de governo programas e projetos de curto, médio e longo prazo. Segundo ele, “o plano de governo vale por quatro anos, com ações que devem ser avaliadas e executadas ao longo desse período. O essencial é que as ideias apresentadas sejam viáveis, tanto para ações imediatas quanto para aquelas que requerem mais tempo de preparação.”
 
Fred Rodrigues (PL) vê o plano de governo como uma “carta de intenções” que deve orientar a gestão, mas não ser seguida rigidamente. “O plano de governo é uma diretriz, mas ninguém governa uma cidade durante quatro anos seguindo um documento elaborado antes mesmo da posse. O importante é que nossos valores e princípios, como a redução de impostos e burocracia, guiem as decisões durante todo o mandato,” explicou Rodrigues, destacando a necessidade de adaptação ao longo do tempo.
 
Adriana Accorsi (PT) entende o plano de governo como um documento em constante evolução, adaptado às demandas da população. “Nós apresentamos um plano resumido porque ele é vivo e está em construção, sendo constantemente aprimorado com base nas conversas com a população e especialistas. Ele será detalhado no programa de TV e rádio,” ressaltou Accorsi, reforçando a importância da participação popular na elaboração do plano.


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