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Tecnologia

Inteligência artificial transformará a sociedade, avalia pesquisador da UFG

Varejo e mídias serão os primeiros impactados | 08.12.23 - 09:34 Inteligência artificial transformará a sociedade, avalia pesquisador da UFG “Vamos ter que mexer na cultura e esse é o grande desafio”, afirma Celso Camilo(Foto: Sérgio Paiva/AR)José Abrão
 
Goiânia – A Inteligência Artificial (IA) já foi tema de muitos filmes de ficção-científica, principalmente com uma interpretação sombria: O Exterminador do Futuro sempre vem à mente, mas temos também o androide malvado de Alien – O Oitavo Passageiro, o assistente espacial HAL 9000 em 2001: Uma Odisseia no Espaço, entre tantos outros. Em 2023, ainda estamos longe de IAs malévolas e conscientes, mas elas já estão avançadas o suficiente para alterar de forma profunda a nossa vida muito em breve – para o bem ou para o mal.
 
“A gente assusta com esse potencial destrutivo, mas digo sempre que não podemos fazer julgamento de valor da tecnologia: o uso da tecnologia é que bom ou mau. Uma faca pode ser usada para cortar alimentos, o que é um ótimo uso, ou pode ser usado para esfaquear uma pessoa, que é um péssimo uso”, exemplifica o professor Celso Camilo, que pesquisa e atua na área de IA há 20 anos. O cientista, que é docente do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás (Inf/UFG) e membro fundador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia/UFG), será um dos palestrantes da Conferência sobre IA na Comunicação, Comércio e Turismo, promovida pelo jornal A Redação. O evento será no dia 12 de dezembro, no Teatro Sesc Centro, em Goiânia, e tem como objetivo discutir as mudanças e oportunidades geradas pela Inteligência Artificial (IA) nestes setores. As inscrições podem ser feitas pelo formulário.
 
A mudança de realidade já começa a ser sentida na própria UFG. Em 2022, o segundo curso mais concorrido de graduação foi Engenharia de Software e em terceiro foi a graduação em Inteligência Artificial, curso em que a UFG é pioneira. Em quinto lugar, o mais disputado foi Ciência da Computação. “São sinais, a gente percebe claramente que a computação é mundialmente a bola da vez e também é a UFG se posicionando dentro do Brasil como um polo dessa transformação”, avalia Camilo.

A área da comunicação e o comércio são dois setores que vão sentir a transformação antes de todo mundo em com mudanças radicais em um curto espaço de tempo. Mas também não é o fim do mundo. “Se eu não trabalhar com IA eu vou morrer? Bom, tem gente que até hoje não trabalha com software e tá lá na cadernetinha sobrevivendo. Quem tá realmente vendendo, ganhando, aumentando competitividade, crescendo, fidelizando cliente, está usando tecnologia há muito tempo”, aponta o professor.
 
Mudança de paradigma
Na avaliação do professor, um grande desafio é que embora a transformação radical seja iminente, as pessoas ainda não sabem lidar nem utilizar as ferramentas já disponíveis, frequentemente caindo em notícias falsas ou em golpes por meio do WhatsApp e outros aplicativos e redes sociais. Camilo avalia que embora o acesso à essa tecnologia seja amplo, ela não se tornou de fato democrática e inclusiva.
 

(Foto: Sérgio Paiva/AR)
 
“As pessoas não sabem utilizar as ferramentas, não sabem que estão sendo direcionadas. É papel da academia e dos meios de comunicação ajudar nesse processo de informação e de esclarecimento e quanto mais esclarecida a pessoa estiver, menos dano ela vai sofrer”, explica. Segundo ele, até a época do rádio e da TV, o conteúdo possuía uma “chancela” por parte dos produtores. “Quando você assistia o Jornal Nacional, você tomava aquilo como verdade”, explica. A partir da internet, a comunicação passa a ser de muitos para muitos sem filtros entre quem produz e quem consome.
 
Isso gera um caos por causa da falta de “letramento midiático” (media literacy, no original), termo que caracteriza esse aprendizado para compreender com o que estamos lidando ao acessar essas tecnologias e isso se intensifica com a inserção das máquinas nesse loop de informação crua. “Quando surgiu a internet, a gente dizia que a informação ia ser democratizada e o que percebemos é que para haver uma inclusão, não basta ter o acesso. O fato da pessoa poder acessar a informação não significa que ela vai buscar essa informação e processá-la. Então é muito mais uma questão de educação para acessar e reter essa informação. É um processo muito mais educacional: eu vou consumir sem filtro achando que aquilo é verdade quando pode não ser”, resume Camilo.
 
Como isso vai ser organizado e direcionado é que vai determinar se a IA será uma força para o bem ou para o mal. “Essa discussão legal/ética/moral está posta e pode aumentar a desigualdade porque podemos fazer vieses de influência, assim como também pode reduzir desigualdades por meio da condução do processo educacional”, salienta. “Por meio da máquina, eu consigo personalizar o aprendizado e a transferência de informação. Eu consigo orientar passo a passo como a pessoa pode absorver aquela informação. O que pode ser muito positivo ou pode ser maléfico”, diz, devido ao risco de fortalecer câmaras de eco como as que já existem, por exemplo, em grupos de WhatsApp.
 
No varejo, o professor determina que o desafio também é de aprendizado conforme a IA permite um contato direto com os clientes e uma personalização de atendimento inédita. Porém, ela chega em meio ao mal-uso da tecnologia no setor, especialmente através do marketing invasivo por telefone, e-mail e WhatsApp. “No varejo, a gente precisa mudar a mentalidade para entender que é preciso ser feita uma jornada adequada para o consumidor. A rentabilidade tem que ser consequência de uma boa experiência”, pondera.
 
Na ponta, o vendedor ainda precisa aprender que garantir o retorno do cliente é melhor do que insistir até fazer uma venda por cansaço. “Eu tenho que trabalhar mais a fidelização do que o tíquete imediato. Eu insisto na experiência e eu consigo rentabilizar melhor. Isso é melhor do que forçar a compra e depois ter uma dificuldade imensa de vender novamente para aquela mesma pessoa”, garante.
 
Revolução silenciosa
O professor Camilo destaca que quanto mais esse debate, que é amplo e complexo, não é levado a sério como deveria, maior será o baque no futuro próximo, principalmente pelo impacto na esfera econômica e social. “Essa situação vai se complicar quando começar a impactar nos empregos, porque isso afeta a renda, afeta o consumo e a produção. A própria economia vai ter que ser repensada. E aí o que vai ser proposto para esse processo? Alguns economistas ventilam a renda única universal, mas o fato é que alguma coisa vai ter que surgir para equacionar essa nova economia”, especula.
 
Neste ponto, o futuro é imprevisível: as possibilidades são tão imensuráveis quanto as consequências. A única certeza é a mudança que está em nossa porta: “vamos ter que mexer na cultura e esse é o grande desafio”, finaliza Camilo.
 
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