Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

MEIO AMBIENTE

Cerrado: o bioma ameaçado pelo desmatamento

Ação pode impactar abastecimento de água | 13.05.23 - 08:15 Cerrado: o bioma ameaçado pelo desmatamento (FOTO: AGÊNCIA BRASIL)
Ludymila Siqueira

Goiânia - 
 Os alertas de desmatamento no Cerrado cresceram 31% em abril deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, passando de 541 quilômetros quadrados para 709. Essa área é cerca de duas vezes maior do que o desmate registrado na Amazônia Legal, conforme dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Também se compararmos com o mesmo período de 2022, nos primeiros quatro meses deste ano a devastação no Cerrado teve aumento de 17%. A porcentagem corresponde a uma área de 2.133 quilômetros quadrados. O acumulado é 48% maior que a média histórica para o bioma. 

A professora doutora e coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) (IESA/UFG), Elaine Barbosa da Silva, enfatiza o impacto negativo da ação humana no cenário preocupante em que se encontra o Cerrado. De acordo com ela, pode-se dizer que a primeira ação do ser humano na degradação ambiental é o desmatamento, seja para habitar uma área, expandir agropecuária, explorar madeira, implantar indústrias, construir estradas, entre outras. "Com essa primeira ação tem-se a desproteção dos solos, que podem sofrer com processos erosivos. Somando-se a isso tem a desregulação do clima, que muda o período e intensidade das chuvas", explica em entrevista ao jornal A Redação

O mapeamento de uso e cobertura das terras, para o período de 1985 a 2021, realizado pelo MapBiomas, mostra que Goiás já perdeu cerca de 65% de sua vegetação natural. As áreas mais desmatadas estão nas porções Sul, Sudoeste, Central e Noroeste do Estado. Essas áreas são densamente ocupadas por agricultura e pecuária.

Além disso, já é nítido o avanço do desmatamento nas regiões Leste e Nordeste de Goiás, onde estão abrigados territórios Kalungas e a Chapada dos Veadeiros, regiões importantes para preservação da biodiversidade. Entretanto, nas regiões onde há grandes índices de conversão, a exemplo do Sudeste goiano, qualquer desmatamento é preocupante, já que a vegetação que ainda existe é muito fragmentada e fica cada vez mais difícil manter a biodiversidade de fauna e de flora.  "O desmatamento traz uma série de impactos ambientais que se somam ao longo sistema causado pelas desregulações climáticas locais e, consequentemente, globais", descreve Elaine. 
 
Desmatamento do Cerrado pode afetar oferta de água em 119 cidades goianas
O desmatamento do Cerrado na região conhecida como Matopiba - que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia - pode reduzir o abastecimento e a qualidade da água em ao menos 373 municípios, se seguir o ritmo atual. Somente em Goiás, são 119 municípios que estão dentro da área das bacias hidrográficas mais desmatadas do bioma em 2022, na região da fronteira agrícola. Segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), 74,5% de todo o desmatamento do bioma no ano passado ocorreu nas bacias dos rios Tocantins (210.804 hectares), São Francisco (116.367 ha), Parnaíba (105.419 ha), Itapecuru (88.049 ha) e Araguaia (78.368 ha).
 
Além de Goiás, entre os estados do Cerrado brasileiro com maior número de municípios com ocorrências de desmatamento estão Tocantins (108), Maranhão (65), Minas Gerais (32), Piauí (22), Mato Grosso (15) e Bahia (12). Em Goiás, alguns dos municípios com maiores índices de destruição do bioma até agora foram Araguapaz, Arenópolis, Aruanã, Bom Jardim de Goiás, Colinas do Sul, Crixás, Fazenda Nova, Goianésia, Goiás, Jussara, Niquelândia e Santa Rita do Araguaia.
 

(Foto: Agência Brasil)
 
A análise de pesquisadores expõe a relação entre desmatamento e segurança hídrica no bioma considerado berço das águas do Brasil. O SAD Cerrado é desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em parceria com o MapBiomas e com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG). 

De acordo com a coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da UFG, Elaine da Silva, dentre as diversas funções da cobertura vegetal natural para o bioma, em específico, as árvores desempenham o papel de reabastecer os lençóis freáticos. Ela explica que, sem essa função, os rios têm o reabastecimento, no período de chuvas, insuficiente e quando chegam os meses de seca eles não conseguem atender toda demanda do consumo. "Este consumo, além das áreas urbanas e industriais, inclui a zona rural, que é um dos maiores consumidores de água por conta das suas lavouras. Neste sentido, o acúmulo de desmatamento ao longo do Cerrado acaba por atingir essas e outras localidades", completa. 


Ribeirão João Leite que abastece Goiânia (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil) 

Para Elaine da Silva, o reflorestamento, ainda que demore anos, é extremamente necessário para tentar restabelecer a qualidade ambiental do planeta. "As ações locais têm impactos locais e globais, pois elas se somam ao longo do sistema. Lembrando que o planeta é um só. O que for feito de positivo aqui ou negativo, terá impacto na totalidade. O reflorestamento feito de forma planejada, com boa orientação técnica, é extremamente viável".

Políticas públicas eficientes

De acordo com Elaine, Goiás tem dado bons exemplos de ampliação da fiscalização do desmatamento ilegal. A tendência é de intensificar as ações de fiscalização conjuntamente com ampliação de ações que ajudem na preservação e, com isso, ter expectativa de redução dos desmatamentos. 

No entanto, segundo a coordenadora, apesar do Brasil ter boas leis, as punições reais em todos os biomas devem ser intensificadas. "Não temos mais necessidade de derrubar uma árvore para ampliar e melhorar a produção agropecuária. Temos áreas suficientes tanto para expansão da produção quanto para recuperação", exemplifica. 

Outra necessidade, de acordo com ela, é a ampliação da educação ambiental em todas as instâncias da sociedade para que cada pessoa assuma a sua responsabilidade e, assim, promover o consumo dos recursos naturais de forma sustentável. "Embora eu trabalhe e veja a dura realidade pelos dados de desmatamento e de uso e cobertura das terras, eu tenho esperança de dias melhores com a pressão social para que as empresas invistam, de fato, na sustentabilidade", pontua. 


(Agência Brasil)

Os problemas ambientais, como o aumento de temperatura, excesso ou falta de chuvas, como já visto em diversas áreas de Goiás, podem não ser o reflexo direto das mudanças vistas no próprio Estado. Os problemas ambientais, bem como as condições favoráveis ao equilíbrio dos ecossistemas, são interligados e seus benefícios ou danos se estendem ao longo do tempo e do espaço. O que acontece em Goiás é reflexo de como as questões ambientais têm sido tratadas no Brasil.
 
Diante deste cenário, Elaine avalia a necessidade da realização de políticas públicas focadas no combate ao desmatamento ilegal e no desenvolvimento de tecnologias para recuperação de áreas degradadas, além de incentivo à prática de atividade agropecuária sustentável ou com menor impacto paro o meio ambiente.

"É necessário investir em pesquisas agropecuárias para o desenvolvimento de plantações mais resistentes a essas mudanças. Porém, não devemos esperar que os governantes ou empresários façam isso. Estamos todos juntos e cada um tem a sua responsabilidade, seja com o consumo consciente e ações pequenas do dia-a-dia ou com a escolha dos governantes que realmente falam e fazem ações de preservação ambiental", finaliza. 
 


Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351