A Redação
Goiânia - Em meio às dificuldades de grandes cidades com os baixos níveis nos reservatórios de água em períodos de seca e grandes enchentes nos períodos chuvosos, estudos sobre aproveitamento de água pluvial podem ser aliados de políticas públicas na área de recursos hídricos. A Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (EECA/UFG) tem realizado pesquisas para avaliar a viabilidade econômica dos sistemas de aproveitamento de água pluvial residencial existentes no mercado, com o objetivo de perceber a viabilidade econômica destes mecanismos em habitações com os mais diversos padrões, desde casas construídas em programas sociais como em condomínios horizontais de Goiânia.
Segundo o professor Marcus André Siqueira Campos, responsável pela coordenação desses estudos, existem poucas pesquisas de avaliação destes sistemas. “A avaliação envolve diversos fatores que vão além do custo-benefício do equipamento, que nem sempre será bom se considerarmos apenas o valor gasto com o pagamento de água tratada e o valor economizado com o sistema, mas passa também pela avaliação da diminuição da vazão de água pluvial nas ruas e até mesmo mudança no ritmo em que ela é dispensada na rede pluvial ou a diminuição da quantidade de água tratada utilizada nas residências”, explica o professor. Isso mostra que esses sistemas têm que ser pensados como políticas públicas para o setor.
O método proposto nessas pesquisas é relativamente simples: calhas coletam a água que escorre do telhado, passam por um sistema mecânico que, primeiramente, dispensa a água de lavagem das calhas e, em seguida, começa a encher um reservatório que está apoiado ao lado da residência ou então enterrado no chão. A partir daí a água é bombeada para um reservatório alto de onde pode ser canalizada para usos como irrigação de jardins e sanitários. Esses sistemas podem ser individuais atendendo ou coletivos.
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Uma das pesquisas realizadas na EECA fez uma simulação de implementação de equipamentos individuais de aproveitamento de água de chuva no Setor Parque Atheneu. O bairro foi escolhido por ser majoritariamente de residências unifamiliares em que 80% dos lotes das casas têm área menor do que 300 metros quadrados. Neste caso a pesquisa optou por avaliar o impacto de reservatórios de mil , 5 mil e 10 mil litros. Foram avaliadas os usos de água que poderiam ser substituídos pela água coletada pelo sistema e o tamanho ótimo do reservatório. Uma das constatações é que em reservatórios maiores (10 metros cúbicos) a economia pode chegar a até 80 metros cúbicos por ano, já que consegue inclusive abastecer a casa em períodos de estiagem.
No entanto, a maior parte das casas têm quintais pequenos, o que inviabilizaria a adoção de grandes reservatórios. Outra frente de estudos mostrou que em casas com terrenos e quintais maiores, que é o caso dos condomínios horizontais, onde são feitos usos mais abrangentes para a água de reaproveitamento, como irrigação de jardins e lavagem de áreas externas, o sistema torna-se mais viável.
Habitações sociais
Outra pesquisa realizada avaliou a implementação de um sistema de aproveitamento de água das chuvas em uma quadra de casas de habitação social. Em um lote vago foi proposto instalar um equipamento coletivo - mais econômico que o individual - de aproveitamento da água das chuvas. O estudo mostrou que a proposta seria viável caso o setor público adotasse esse tipo de sistema como política pública, responsabilizando-se pela instalação e manutenção do projeto. “O custo do equipamento é alto e a diminuição nos gastos com água tratada nem sempre é significativa em residências menores, mas precisamos considerar o impacto na rede pluvial que deixa de receber uma grande quantidade de água e também a economia de água tratada no conjunto”, avalia.
Monitoramento do uso
Outro estudo monitorou todos as saídas de água de uma residência ao longo de 10 meses para avaliar o perfil de uso da água na residência. O professor explica que é importante entender esses perfis para pensar dispositivos que sejam capazes de economizar água. Na casa acompanhada, por exemplo, os maiores usos eram na máquina de lavar, torneira da cozinha e bacia sanitária. Ele explica que atitudes simples como ter um equipamento mais eficiente ou simplesmente adotar hábitos mais econômicos como lavar a roupa só quando a quantidade atingir a capacidade máxima da máquina de lavar podem fazer toda a diferença na quantidade de água consumida.