Roberta Rodrigues
Goiânia - A Estação Ferroviária de Goiânia, localizada no Setor Central, é um dos símbolos mais representativos da capital. Com 68 anos, o prédio construído no estilo art déco e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) faz parte da história da capital goiana, que completa 85 anos nesta quarta-feira (24/10).
O patrimônio ferroviário se entrelaça à história de muitas famílias de Goiânia e de outros municípios do Estado. Os trilhos proporcionaram a integração de territórios e contribuíram com a modernização de várias cidades. As ferrovias viabilizaram maior comunicação, interação e alteraram o paradigma da distância. E é justamente para manter viva essa história e garantir a preservação do patrimônio que a Estação Ferroviária de Goiânia passa por obras de restauração. Os trabalhos foram iniciados no início deste ano e devem ser concluídos até março de 2019.
Para o artista plástico Amaury Menezes, o trabalho de "resgate da memória" realizado na Estação será "um marco para a cidade". "Com a minha presença em Goiânia desde 1936, convivi com a intelectualidade da época, fui desenhista de vários arquitetos e digo que preservar esses patrimônios é manter viva a história da região", afirma.
Artista plástico Amaury Menezes (Foto: Esther Teles)
Resgatando histórias
Um dos serviços que já foram realizados na Estação Ferroviária é o de pesquisa arqueológica, que tem como objetivo entender as mudanças ocorridas na vida do ser humano durante determinado período e reconstruir as fases históricas. Além disso, já foram realizados serviços de limpeza, demolições e remoções, recuperação de lajes, estruturas, paredes e rebocos.
(Foto: Iphan Goiás)
(Foto: Iphan Goiás)
A realocação da locomotiva Maria Fumaça para próximo de onde era a linha férrea é um dos serviços que estão em andamento. Atualmente exposta em Goiânia, a locomotiva da estrada de ferro foi primeiramente levada para Anápolis e usada para transportar carregamentos de materiais durante a construção do ramal da capital.
(Foto: Letícia Coqueiro)
De acordo com a coordenadora técnica do Iphan em Goiás, Beatriz Otto, outros trabalhos já foram iniciados, como pinturas e restauração de painéis do Frei Confaloni. "Além disso, já temos o cronograma de outras atividades previstas. São as pavimentações externas, o paisagismo, restauração do relógio da torre, iluminação interna e externa, entre outras", destaca.
Restauração de painéis do Frei Confaloni (Foto: Construtora Biapó)
Restauração de painéis do Frei Confaloni (Foto: Iphan Goiás)
Atualmente são utilizadas três premissas em projetos de restauro de patrimônios arquitetônicos. A primeira é da mínima intervenção, que consiste em mexer o mínimo possível na edificação para manter a materialidade histórica do bem. O segundo conceito é o da reversibilidade, que determina que tudo que for feito tem que ser passível de ser desfeito em algum momento da história. E por último, o conceito de identificação e registro de onde foi feita a intervenção. Tudo o que for realizado deve ser registrado.
Sobre o uso da Estação Ferroviária após as obras, a coordenadora técnica do Iphan Goiás explica que será mantida a tradição anterior ao restauro: um posto de atendimento da Guarda Metropolitana de Goiânia e o uso do espaço pela banda municipal para armazenamento dos instrumentos e ensaios. Além disso, terá uma unidade do Atende Fácil da prefeitura e um Centro de Atendimento ao Turista (CAT). Haverá também espaço de cunho cultural e área de exposições artísticas.
Ccoordenadora técnica do Iphan Goiás, Beatriz Otto (Foto: reprodução/brazil.dutchculture)
“A intenção é mesclar atividades culturais com atividades de atendimento ao cidadão para, assim, ampliar o público que frequenta o local”, diz Beatriz Otto. “É importante que essa nova geração tenha acesso a esse local e entenda que seus avós chegaram em Goiânia pela estação férrea. Essas referências de identidade devem ser preservadas", acrescenta.
Para o historiador Wolney Unes, o uso do espaço será o grande diferencial para manter e preservar o restauro. “O grande problema do patrimônio edificado é o uso. A estação já foi restaurada antes, o problema foi a falta de uso. Tem que ter um uso intensivo. As pessoas têm que frequentar o local e se sentirem bem no espaço", defende.
A Estação
A Estação Ferroviária de Goiânia, assim como outros prédios públicos construídos entre 1930 e 1950, acabaram inspirando construções futuras. Grande parte dos edifícios particulares no centro de Goiânia seguiu essa tendência art déco, que ainda hoje constitui maioria em algumas áreas dos setores Central e Campinas.
Inaugurada na década de 1950, assim como todas as demais estações no trecho de 95 km entre Leopoldo de Bulhões e a capital, a Estação começou a receber trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz em 1952. Em razão da construção da rodoviária da cidade e a continuidade da Avenida Goiás, o pátio ferroviário foi levado para Senador Canedo, nos anos de 1980.
(Fotos: estacoesferroviárias.com)
“O motivo pelo qual esse acervo foi validado como patrimônio nacional é por contar o momento da história de ocupação do interior do Brasil e trazer essa imagem de ocupação e modernização do Centro-Oeste. Portanto, é importante a preservação desse acervo para que o goiano se entenda dentro disso, se entenda como agente construtor dessa cidade”, explica Beatriz Otto, do Iphan Goiás.
Patrimônio art déco
O art déco é um movimento estético que ganhou fama internacional nas décadas de 1920 e 1930, e se espalhou por diversas áreas como design, artes plásticas e gráficas, moda, cinema e arquitetura. O estilo inspirou os primeiros prédios da atual capital do Estado de Goiás, projetada em 1935 por Atílio Correia Lima. Construída nos anos 1940 e 1950, a cidade possui um dos mais significativos conjuntos art déco do Brasil.
Historiador Wolney Unes (Foto: A Redação - arquivo)
“O estilo [art déco] marca o nascimento da cidade”. É o que garante o historiador Wolney Unes. Para ele, o restauro da Estação Ferroviária "vai resgatar a memória de uma edificação que ligava Goiânia ao resto do mundo e que é símbolo do modernismo". "É um grande presente que o Iphan está dando para nossa capital", finaliza o historiador.